quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pernambuco faz bonito na primeira noite do Cine-PE

Dois curtas (entre eles um pernambucano) e um longa foram os destaques na primeira noite do Cine PE. O primeiro deles foi o curta-metragem digital, o documentário Amanda e Monick, do diretor paraibano André da Costa Pinto. O filme conta a história de dois travestis, com vidas antagônicas, vivendo numa cidadezinha no interior da Paraíba. Enquanto Monick ganha a vida fazendo programas, Amanda é professora de uma escola primária da rede publica.

Assim como todo bom documentário, o filme cresce à medida que os personagens vão revelando suas histórias. São elas (as personagens) que dão ao documentário um certo tom tragicômico ao filme. Por vezes tocante, em outros momentos, caricato. O que aproxima a história das duas é a maneira como ambas lidam com a condição de "ser diferente". Histórias bastante peculiares, que chegam até (em alguns momentos) a serem tratadas de maneira otimista ao extremo. Como se o fato de ser travesti, em uma cidade de interior não trouxesse nenhum obstáculo à vida dessas personagens. Mas, no todo, é um filme interessante, bem montado e com depoimentos envolventes que conseguem prender a atenção do espectador.

O outro curta que roubou a cena, durante as exibições da segunda-feira do Cine-Pe, foi a animação pernambucana Até o sol raiá, dos diretores Fernando Jorge e Leandro Amorim. Ainda mesmo na exibição dos patrocinadores, o filme já estava sendo ovacionado pela platéia. Atitude compreensível, se levado em consideração o bairrismo do público pernambucano (eu me incluo nele) e a ansiedade de ver a primeira produção local, na tela da décima segunda edição do festival.

Até o sol raiá não deixou por menos, fez juz a animação do público e do início ao fim da exibição, o que se viu foi um trabalho primoroso e rico em detalhes. Com um roteiro que teria tudo pra cair no “clichê”, já que contar a história de Lampião e Maria Bonita não é nenhuma novidade, principalmente por aqui.O filme inovou e fez uma releitura da história, dessa vez representada pelos tradicionais bonecos de barro do artesanato pernambucano. Os detalhes nas expressões dos personagens e a pitada de humor do roteiro arrebataram de vez a platéia do Guararapes, que ao final da exibição, voltou a ovacionar o filme. Dessa vez, de puro orgulho!

Fechando a noite (da mostra competitiva de longas), o documentário Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife, do cineasta pernambucano Léo Falcão, era o filme mais esperado da noite. Muito vinha se falando acerca do material coletado pelo diretor e das participações ilustres como a de Lenine, Reginado Rossi, Geninha da Rosa Borges, entre outros. Todos personagens que têm uma relação muito pessoal com a cidade.

O filme, que marcou a estréia do diretor em longas, acabou sendo prejudicado por alguns problemas de projeção. Segundo o diretor, Léo Falcão, o equipamento de exibição da sala tinha uma qualidade inferior em relação ao equipamento no qual foram feitas as filmagens. “O projetor digital não estava dando muito resultado. Mas para a gente era natural começar aqui no cine PE, e, mesmo sabendo que a gente podia ter problemas, nós fizemos questão disso”, disse Falcão ao final da exibição.

O Guia, como é chamado pela equipe, agradou a platéia apesar de ter feito muito crítico torcer o nariz. Talvez por ter sido, originalmente, pensado como um vídeo institucional produzido para a Fundação Gilberto Freyre, o longa tenha recebido um olhar mais crítico dos conservadores do cinema. Mas o fato é que o documentário conseguiu reunir pessoas e lugares marcantes na história do Recife, costurados pelo texto de Gilberto Freyre, em consonância com o olhar do cineasta, o que nos permitiu fazer uma releitura de alguns pontos da cidade. Por vezes um tanto quanto passional, sim! Mas falar que recifense é passional, é redundância.

Um comentário: