segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A supremacia de um bom texto

Há tempos andava meio cética em relação ao riso. Em tempos de “stand ups” e o sucesso da comédia pastelão esvaída de sentido, é comum ver no teatro uma plateia que se obriga a rir porque pagou ingresso para isso. É um riso nervoso e quase que forçado, eu diria. Na última sexta-feira (29), na primeira das duas apresentações do espetáculo “O Púlcaro Búlgaro” (encerrando a programação do 16º Janeiro de Grandes Espetáculos), o que se viu foi exatamente o oposto: uma plateia totalmente imersa no jogo de palavras sedutor e redundante feito pelo atores em cena.

A montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho, a partir da adaptação do romance hormônio do autor mineiro Walter Campos de Carvalho, tem o tom exato para fazer rir da forma mais inteligente. Saem as firulas, e as piadas óbvias e preconceituosas - ainda que por ventura, alguém possa não ter gostado da cena em que o personagem Hilário é assaltado sorrateiramente por um Nordestino que encontrou casualmente em Copacabana - e prevalece o raciocínio intricado, que para contar uma história absurda, usa referências históricas reais.

Estruturada como se cada ator fosse narrador de suas próprias personagens, o espetáculo apresenta ao público as anotações do diário de Hilário, um homem que resolve organizar uma expedição para verificar se a Bulgária de fato existe. Depois de publicar um anúncio no jornal convocando expedicionários, juntam-se a ele os tipos mais estranhos e bizarros.

Os atores Ana Barroso, Cândido Damm, Gillray Coutinho, Isio Ghelman e José Mauro Brant fazem um verdadeiro, e brilhante, rodízio de personagens. Com destaque digno de registro para interpretação impagável Gillray Coutinho, como um professor de bugarologia e bugarosofia, que tem um gato na mão.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 01/02/2010

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