segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Muito movimento, mas nem tanto conteúdo

Nas cênicas, 2009 foi marcado pelas comédias “stand ups”, pela forte expressão circense, boas surpresas na produção local e festivais marcantes

Se pararmos para fazer um balanço sobre como foi o ano de 2009 para os palcos recifenses, veremos que este foi um ano bastante movimentado. As pautas dos teatros estavam fechadas desde o início do ano, e pode-se dizer que um público ainda tímido, mas fiel, deu conta do recado e prestigiou o que foi apresentado. Este foi o ano de bons Festivais - a exemplo do Janeiro, Mostra Antunes Filho, Festival de Circo, Festival de Dança, Palco Giratório, entre outros - de algumas boas novidades, e de muitas, muitas visitas de globais. Algumas satisfatórias, outras nem tanto. Além de, é claro, ter sido o ano do “Stand Up Comedy”. Recife, e o resto do País, viram o gênero se proliferar e fomos soterrados com uma infinidade de apresentações que parecem fazer sempre as mesmas piadas.

Ainda no comecinho do ano, completando a idade de uma doce debutante, o Janeiro de Grande Espetáculos mostrou que passa longe da ingenuidade de uma menina de 15 anos. Na sua 15ª edição, a mostra competitiva corou “Ato”, da companhia Magiluth como o melhor espetáculo e presenteou o público com montagens convidadas de peso, a exemplo da tocante “Alguns Leões Falam”, da Cia. Clara, de Minas Gerais. O alto nível da curadoria - que pecou apenas em deixar a abertura a cargo da mediana “Cantigas do Sol” - comprovou a inquietude por trás da Apacepe em realizar um festival democrático e pertinente.

Em março, o público recifense foi presenteado com um evento que celebrava o aniversário de um dos principais nomes do teatro nacional. A mostra teatral “O Universo Antunes Filho”, marcou os 80 anos de dramaturgo, seus 60 anos de carreira, e os 25 anos de criação do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), trazendo para Cidade clássicos da carreira do diretor, como “Foi Carmen”, “ A Falecida - Vapt Vupt” , e “Prêt-à-porter”.

No mesmo mês, três espetáculos pernambucanos representaram o Estado no Festival de Curitiba, um dos principais festivais de teatro do País. “Fio invisível da minha cabeça”, da Companhia do Ator Nú; “... No Humor Como na Guerra”, da trupe Galpão das Artes; e “Uma viagem através das estrelas” do grupo Ciência Cênica.

Abril marcou o início da corrida pelos ingressos com preços estratosféricos do Cirque Du Soleil, que se apresentaria na Cidade, pela primeira vez, em julho com o espetáculo “Quidam”. Na mesma época, fomos docemente surpreendidos pela montagem Brechtiniana de “A Alma Boa de Setsuan”, com a atriz Denise Fraga.

Muitos espetáculos aportaram por aqui no mês de maio. O período atípico teve direito a decepção dos fãs do balé clássico, com a ausência em cima da hora da bailarina Ana Botafogo na apresentação do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A inovação da dança contemporânea com “Geraldas e Avencas”. E as excelentes montagens trazidas pelo Festival Sesc Palco Giratório que em sua terceira edição, se firmou como um dos principais Festivais de Artes Cênicas do circuito pernambucano.

Entre os globais que passaram pelos palcos da Cidade, Wagner Moura dividiu opiniões com seu “Hamlet” meio higth tech, meio esquizofrênico. Bruno Gagliasso e Thiago Martins lotaram o teatro de menininhas histéricas, mas apresentaram uma encenação colegial. E Reynaldo Gianecchini, ao lado de Alessandra Maestrini, conseguiram divertir o público com um “Doce Deleite” não tão magistral quanto a primeira versão (com Marília Pêra e Marco Nanini), mas ainda assim satisfatório.

No quesito comédia, assistimos a tudo que há de disponível no mercado. Dos “Stand Up Comedys” de quase todos os integrantes do CQC, até os esquetes, popularizados pelo Youtube, dos Melhores do Mundo e da Terça Insana.

Entre os fatos marcantes da cena local, vimos o debut na direção teatral do cineasta Léo Falcão, que nos brindou com a bela montagem do espetáculo “Carícias”. Assistimos também ao terceiro espetáculo montado pela Cia. do Ator Nu, “Encruzilhada Hamlet”, um primor de cenografia e trilha sonora. O teatro de Santa Isabel - um dos principais equipamentos da cidade - passou a ser dirigido pela produtora cultural Simone Figueiredo, e voltou a receber a visitação do público. De triste, perdemos um dos nossos maiores ícones da dança popular, o mestre do frevo, Nascimento do Passo.
Fechando o ano, o Festival Recife do Teatro Nacional comprovou a velha máxima de que menos é mais. O festival veio com um orçamento bem contido, prezando enxugar ao máximo tudo que podia. Ainda assim, a prefeitura conseguiu realizar um evento rico: a curadoria de Kil Abreu foi certeira esse ano, trouxe experiências ímpares de teatro contemporâneo, a exemplo de “In On It” e “Rainha[(s)] - Duas Atrizes em Busca de um Coração”. A abertura experimental com teatro de rua, levando o Grupo Galpão à Praça do Arsenal da Marinha. O único pecado foi por conta da própria cena teatral do Recife, que fez feio não comparecendo às oficinas disponíveis, mesmo tendo preenchido todas as vagas.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 28/12/2009

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