“Um anjo elegante do inferno”. Os versos da canção de Zeca Baleiro seriam os melhores para definir o Ney Matogrosso, do novo cd “Beijo Bandido”.Quem esteve no teatro Guararapes, na última sexta-feira, teve a chance de entender porque Ney é um artista como poucos. Camaleônico, no melhor sentido da palavra. Depois da explosão de cores e performances da turnê “Inclassificáveis”, Ney agora surge no palco mais contido, porém não menos grandioso. Com um show minimalista, Ney atinge o equilíbrio perfeito entre a sutileza de sua voz, e a acidez de sua interpretação. De paletó bem cortado, forrado em cetim vermelho, salto e cara limpa, Ney dá início a sua apresentação cantando “Tango pra Tereza”. A música que foi um dos sucessos do começo de sua carreira, era um prelúdio do setlist que estava por vir. Boleros, Valsas e Tangos nunca pareceram tão atuais. Os clássicos “Da Cor do Pecado” e “Fascinação” vieram na seqüência, antecedendo o “boa noite”, discreto, que Ney deu a platéia. Em contrapartida, o cumprimento foi acompanhado de gritos histéricos de “gostoso” e “Eu te Amo Ney” que ecoaram no teatro.
E os elogios parecem acarinhar a alma de Ney. Entre uma música e outra, as caras e bocas (sua marca registrada) ainda estavam lá, para quem pudesse duvidar que realmente o assistia. O clima também era bem propício para o charme de Ney. No palco intimista, apenas com a presença da exime banda de cordas formada pelos músicos Leandro Braga (piano), Lui Coimbra (violoncelo e violão), Ricardo Amado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão) e um telão que fazia projeções diversas - inclusive do próprio Ney dançando como acontece na música “De Cigarro em Cigarro”, um dos melhores momentos do show – é o talento vocal de Ney que deve ser reverenciado.
Outro momento apoteótico do show aconteceu em “Bicho de Sete Cabeças”. A combinação voz e bandolim fez o público vibrar, transformando o momento em um dos mais poéticos da apresentação. Não desmerecendo, claro, a interpretação magistral de “Não Faça Assim” e “Segredo”. Finalizando um show repleto de nuances e silhuetas encantadoras, Ney voltou ao palco para um bis ainda mais dramático com “Incinero” e “Mulher Sem Razão”, numa apresentação que apesar de curta, durou o bastante para torna-se inesquecível.

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