sexta-feira, 17 de abril de 2009

Denise Fraga mostra a sua "Alma Boa"

A difícil tarefa de se manter bom em um mundo cheio de maldade é o fio condutor do espetáculo "A Alma Boa de Setsuan", protagonizado por Denise Fraga, que chega hoje ao Recife para uma temporada de três apresentações no Santa Isabel. O texto, escrito há quase 70 anos pelo dramaturgo alemão Bertold Brecht, explora a dualidade do ser humano que tem sempre em si próprio uma parcela boa e má.

O enredo fascina por continuar sendo atual e por tratar questões densas da condição humana de forma leve e bem humorada. Mérito também atribuído à direção de Marco Antônio Braz, que recebeu o Prêmio Shell de melhor diretor. Em entrevista concedida à Folha a atriz falou do seu envolvimento com o teatro, projetos e sobre a ansiedade da estreia em Recife.

Como foi que conheceu o texto de Brecht? É a primeira montagem de um texto dele?

Eu só tinha feito um texto dele quando ainda estava na escola. Na verdade, a motivação para fazer a peça veio da minha vontade de trabalhar com o Braz (diretor). Ele é criativo e irreverente, tem um grupo em SP (círculo de Comediantes) que faz um teatro lúdico, que rompe com as leis convencionais e eu sempre gostei muito disso. Via eles em cena e tinha muita saudade do meu grupo, queria fazer algo com um elenco grande. Então começamos a ler várias coisas, para escolher o que teria a nossa cara. Quando li o texto de Brecht soube na hora. Com "A alma" achei a peça da minha vida" . O texto leva a uma reflexão filósofica que as pessoas tem de serem boas ou más. Fala dos porquês de respondermos melhor a dureza. Questiona se essa dureza é mesmo essencial ao ser humano. Brecht consegue falar de tudo isso, que são coisas pesadas, de uma forma leve e bem humorada. A montagem de Braz tem muito disso também, vamos desvendando o fazer teatral, vamos na porta receber as pessoas, nos envolvemos com o processo de cenário e de contraregragem. Brecht tinha muito disso, a coisa do artista de cabaré, ele costumava dizer que não há discurso sem divertimento, e eu concordo absolutamente.

Eu sou daquelas que acredita que humor pode mandar o mundo. Só ri aquele que compreende a essência, o humor passa pela reflexão. Nunca tive tanta propriedade de falar um texto como tenho com esse.

Como é estar em cena com dois personagens distintos? já viveu isso no teatro?

Essa é a grade questão da peça. Na verdade, não são dois personagens, é a Chen Te travestida de Chui ta. Ela não é uma atriz, ela compõe esse estilo como uma capa, uma forma de proteção. Esse é o grande lance da coisa, travestir-se em outro, fazer um personagem que está em outro. É a transparência da coisa, Chen Te aparece em Chui ta, e por sua vez, a Denise aparece em Chen Te. Isso por si só já é muito teatral. É só usar um chapéu e um paletó que sou o primo, é fazer parecer o que não é. Esse é o papel mais difícil da minha vida.

Como foi o processo de montagem?

Levei seis anos para montar essa peça, foi uma enorme empreitada. Só conseguimos graças ao patrocínio do Bradesco Prime, que depois de uma temporada super bem sucedida de 8 meses em SP, decidiu patrocinar a nossa turnê que é muito cara porque a equipe é muito grande, o elenco é imenso para os padrões atuais. Viajar com um espetáculo desses para o Nordeste é quase como ir para outro país. Pensei várias vezes em desistir, mas sempre que falava com Vilaça (marido) e liamos o texto tinha mais certeza que eu precisava montar a peça.

Como é essa relação com o teatro?

Não estou longe a muito tempo, nunca fico. A última peça foi Ricardo III, há dois anos. Acho que o teatro é a essência do ator. Estar em temporada repetir a mesma coisa várias vezes como se fosse a primeira vez, é o "adubo" do nosso trabalho. Porque você quer melhorar, mas sabe que nunca vai atingir a perfeição. É o exercício da prática, a musculação do ator, é onde você melhora. Na televisão você resolve. No teatro você pesquisa. O teatro é pesquisa em si, é como um jogo de equilibrar pratos, sempre que você dá um jeito em um, já tem outro prestes a parar.

Quais são os projetos que estão na agulha?

O filme o contador de história chega aos cinemas em agosto. Foi uma experiência muito boa. A protagonista é a atriz portuguesa Maria de Medeiros, que fez Pulp Fiction e já atuou em algumas novelas de Manoel Carlos. Fora isso estamos com o projeto de um progra humorítico para entrar na grade da programação da Globo no segundo semestre, continuando a parceria com José Roberto Torero, Maurício Arruda e Luiz Vilaça.

Qual a relação com o público Recifense?

É a primeira vez que venho com uma peça para o Nordeste. Estou muito ansiosa para descobrir como será. Todos me falam que o teatro (Santa Isabel é lindo), estou louca para conhecer.

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