terça-feira, 14 de abril de 2009

Superação através do palco

Pessoas comuns encontram no teatro uma forma para vencer a timidez

Característica, charme, cautela... A timidez pode ser vista de várias maneiras diferentes e, muitas vezes, pode ser mal interpretada dentro de certos contextos sociais. Quando existe em excesso, este traço pode deixar de ser parte da personalidade e passar a ser um problema na vida de uma pessoa. Branco de memória, medo de falar em público e até mesmo o bloqueio total de conversas com desconhecidos podem ser alguns dos efeitos resultados da vergonha excessiva. De acordo com a psicóloga Marta Hazin, a timidez passa a ser patologia quando impede o indivíduo de se relacionar socialmente. “ Quando isso atrapalha a vida pessoal e profissional da pessoa, é necessário um acompanhamento médico para que ela consiga romper esse bloqueio”, explica.

É nesse momento que a magia do teatro entra ação. As aulas de Artes Cênicas são um reduto bastante frequentado pelo tímidos de plantão. O curso de interpretação é um recurso indicado por terapeutas para pessoas com perfil de timidez patológica. “Usamos esse artifício para estimulá-los a vencer a vergonha usando a arte como forma de se expressar”, diz Marta.

Com um tom de voz baixo e ainda extremamente reservado o estudante, Marcos Aurélio, de 20 anos, é um exemplo de como o teatro tem o poder de ajudar a vencer o bloqueio da timidez. Frequentando aulas de interpretação há 3 anos, o jovem conta que já foi muito mais tímido do que ainda é. “Tinha medo de falar em público e de conversar com as pessoas. Mal saía do quarto, sempre fui uma criança tímida”, conta Marcos, ainda de braços cruzados e cabeça baixa. Depois de cinco anos de terapia, o curso ajudou-o a se abrir mais e melhorar seu relacionamento com as pessoas. Hoje ele já vivenciou a experiência de se apresentar em três espetáculos e até já se aventurou fazendo um teste para o elenco de um curta-metragem. “Sonho em fazer o curso de jornalismo e continuar no teatro amador. O teatro foi fundamental para mim”.

O ator e professor de teatro, Williams Sant’Anna, já viu muitos casos como o de Marcos. Ao longo de quase 20 anos de curso, já passaram por suas aulas médicos, engenheiros, professores e advogados. Todos com o interesse comum de usar a dramaturgia como forma de vencer o excesso de timidez. “ Mais de 60% das turmas são de profissionais das mais diferentes áreas que vêem no teatro benefícios para vida pessoal”, diz o professor, que dá aulas no projeto “Mergulho Teatral” do Espaço Cultural Inácia Raposo Meira. “Mas é importante respeitar o tempo de cada um, as limitações que eles tem, e aos poucos vamos conseguindo resultados”, completa.

Nem sempre a timidez atinge níveis que precise receber um diagnóstico clínico, o que não quer dizer que mesmo em escala menor, o problema não atrapalhe a vida de quem é assim. A assessora parlamentar, Nazaré de Lemos, é considerada uma pessoa extrovertida entre colegas de trabalho e amigos, mas basta que ela precise fazer uma apresentação em público para ser travada pela timidez. “Não conseguia ser o foco das atenções, hoje consigo usar as técnicas de interpretação no meu dia a dia. Até consegui fazer uma pós-gradução e apresentar trabalhos na sala de aula”, conta Nazaré que foi convidada para fazer uma figuração especial na Paixão de Cristo do Recife. Para Socorro Raposo, proprietária do Espaço Cultural, o teatro tem o poder de transformar vidas além de não ter contra-indicação. “Trabalhamos com crianças, jovens e adultos, não existe limite de idade. O único perigo é ser contaminado pelo vírus do teatro e não querer deixar os palcos nunca mais”, brinca Socorro.

Serviço
Espaço Cultural Inácia Raposo Meira
Mergulho Teatral
Informações: 3421-3503

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 12/04/2009

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