domingo, 14 de junho de 2009

Antiquários: As dores e delícias de lugares cheios de charme

Vide regra, antiquários costumam ser lugares que guardam muitas histórias e relíquias. Espalhados por vários bairros da cidade, esses espaços vão muito além da definição de meros “estabelecimento comerciais”. Cada móvel, peça, ou obra de arte encontrada em um antiquário não é um objeto qualquer, na maioria das vezes, esses objetos são dotados de um valor histórico-cultural que independe das cifras que determinam seu preço. E é esse valor “artístico” de cada peça, que funciona como válvula propulsora do trabalho dos antiquários (agora, os profissionais), que, à frente de seus negócios garimpam nos quatro cantos do país - e muitas vezes fora dele - relíquias que farão sucesso com seus clientes.

É o caso de Manuca Ribeiro, antiquário há 22 anos, seis deles à frente do Antiquário “Retrô e Arte”, que não mede esforços em suas empreitadas na busca por peças que tenham um diferencial. Apaixonado pelo estilo “retrô”, Manuca sempre dá preferência a objetos entre as décadas de 40 e 70. “O meu gosto pessoal influencia bastante nas minhas compras, 90% das peças que tenho no meu antiquário, ou já estiveram, ou poderiam perfeitamente estar na minha casa”, disse Manuca. Para adquirir as peças para sua loja, ele mantém um grupo de amigos que costuma visitar as casas em que os proprietários querem se desfazer de alguns (ou todos) os objetos. Tudo acontece de forma bastante democrática e as preferências costumam ser bastante distintas. “Todos no grupo já sabem o que tem a ver com o gosto de cada um. Tenho muitos amigos que costumam fazer compras no Rio e em São Paulo e enviam para mim. Assim como também compro coisas aqui que tenho certeza que eles vão gostar”, explica. “Mesas de canto e luminárias são o meu maior foco” completa Manuca, que usa seu faro quase que como um colecionador.

Por empenhar tanto afinco em suas buscas, o apego às peças que conquista é inevitável, mas Manuca afirma que não tem problemas em passar adiante a prova de suas vitórias contanto que perceba o interesse real de seus compradores. “Tenho prazer em repassar uma peça que procurei muito para alguém que valorize a arte e saiba reconhecer o valor e a história por trás do objeto”. A paixão pelo antigo é tão grande, que o trabalho acabou despertando o talento para outra atividade. Hoje, além de antiquário Manuca também é design de acessórios e tudo que produz é diretamente influenciado pelo visual das peças de seu estabelecimento.

Entretanto, nem só do prazer de fazer descobertas vivem os antiquários. Recentemente, uma determinação do Ministério Público Federal (MPF) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) passou a obrigar os proprietários de antiquários a fazer um cadastro de suas peças. Tal determinação gerou uma certa preocupação entre os comerciantes que trabalham, em sua grande maioria com peças em consignação. Uma reclamação recorrente, é que o cadastro serviria como fonte de checagem para as declarações de impostos desses estabelecimentos. O que dificultaria o trabalho desses profissionais, uma vez que a circulação das peças é muito grande.

O Iphan, por sua vez, afirma que o cadastro não tem nenhum tipo de relação com o valor material das obras, e é apenas um artifício de controle das peças em circulação no mercado. “Nosso interesse é em relação ao valor cultural dessas obras, principalmente para impedir que eventualmente os próprios antiquaristas comercializem objetos que foram roubados a muito tempo e foram recolocados no mercado. Muitas vezes o negociante é enganado sobre a procedência das peças”, explicou a técnica do Iphan, Manuela Sousa Ribeiro. Para não correr o risco de adquirir uma mercadoria roubada, o órgão recomenda que todas as pessoas que tenham interesse na compra de antiquidades, façam a verificação no Cadastro Nacional de Bens Procurados que o Iphan mantém online no site da instituição (www.iphan.gov.br).


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 14/06/2009

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