terça-feira, 30 de junho de 2009

Wagner e seu “repaginado” Hamlet

Contemporaneidade é a palavra chave para definir o espetáculo

No último sábado, com o teatro da Universidade Federal de Pernambuco lotado (e com ingressos esgotados para o segundo dia de apresentação antes mesmo da estreia), Wagner Moura, ao lado de um elenco de mais nove atores, apresentou ao público recifense um Hamlet diferente... Poético, porém sem precisar ser coloquial demais. E moderno, de moletom e dono de um vinil dos Beatles.

Mas calma, não vá achar que a montagem de um dos maiores clássicos do dramaturgo inglês Willian Shakespeare é um ultraje à obra original. Muito pelo contrário, o espetáculo, que conta com direção Aderbal Freire-Filho, tem um frescor que consegue aproximar o público de um texto que foi escrito no final do século XVI. A história do príncipe dinamarquês que para vingar a morte do pai vive na fronteira entre a sanidade e a loucura está presente, assim como toda a essência do texto.

No palco, além da atuação irretocável de Moura, um elenco respeitável embasa toda trama. A atriz Georgiana Góes dá vida à delicada e sensível Ofélia, grande paixão de Hamlet - a cena de sua morte é um dos momentos mais poéticos e belos do espetáculo.

As imagens projetadas em um telão, e feitas pelos atores do próprio elenco, ajudam na composição visual e a dar a devida dramaticidade ao momento. O suporte do telão, inclusive, é usado com bastante maestria e, em nenhum momento, briga com a interpretação dos atores. O recurso é utilizado como forma de valorizar a teatralidade de cenas pontuais, numa espécie de realce do trabalho do ator, tão questionado e enfatizado pelo próprio Hamlet.

O toque cômico do espetáculo (que é uma tragédia) fica por conta da excelente interpretação de Gillray Coutinho. Além dele, Fábio Lago, Tonico Pereira, Carla Ribas, Cândido Damm, Felipe Koury, Marcelo Flores e Caio Junqueira estão presentes.

Nesse novo Hamlet, de Freire-Filho e Wagner Moura, contemporaneidade é palavra chave. A montagem reafirma a máxima de que os clássicos nunca morrem, porém nada impede que eles sejam reinterpretados, adaptados a novos questionamentos.

Naquele sábado, o público presente viu um Hamlet diferente, que ouvia Beatles e era bem debochado. E, depois de ovacionar o elenco e cantar parabéns para o protagonista (foi o aniversário de Wagner), não por acaso, deixou o teatro ao som de “Thriller”, de Michael Jackson. Surpresinha da produção?

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 29/06/2009

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