Foto: Arthur Mota
Há pouco mais de dez anos um projeto que começou timidamente, apenas como uma das atividades desenvolvidas dentro Associação de Pais e Amigos de Down (Aspad), deu início a um caminho sem volta: apresentou a jovens com Síndrome de Down a magia do teatro. A princípio, a ideia era apenas oferecer aos alunos a oportunidade de ter contato com o lúdico, porém eles provaram que queriam bem mais que isso. Nascia então o Integrarte - Centro Pró-Integração Cidadania e Arte. O primeiro contato do diretor, Vicente Monteiro, com a Aspad se deu por questões pessoais. Um amigo próximo havia sido pai de uma criança Down e o pediu ajuda para entender aquilo que na época consideravam um “problema”. “Eu realmente não tinha a menor noção do que era essa deficiência. Quando conheci os meninos da Aspad percebi que na verdade as limitações não eram deles, e sim, minhas” lembra Vicente.
Foto:Sérgio Bernardo 
Esse primeiro contato com o grupo trouxe a oportunidade de começar a desenvolver um trabalho dentro do universo das artes cênicas. Mesmo que no início a ideia já não tenha sido trabalhar na perspectiva da arteterapia, as aulas detinham-se apenas ao contexto das brincadeiras e exercícios cênicos. E foi durante uma dessas brincadeiras que Vicente percebeu o quanto estava equivocado. Ao ler a história de Chapeuzinho Vermelho e escolher os personagens, os garotos surpreenderam o diretor e deram um fim inusitado à história. “ A Vovó imobilizou o Lobo, chamou a neta que trouxe os lenhadores, e decidiram que levariam o vilão para o Zoológico. Foi então que comecei a chorar, porque ali percebi que o que eu estava dizendo não funcionava. Eles não queriam brincar. Queriam criar. A partir daí mudei de rumo e começamos um trabalho mais sério, porque se eu estava diante de atores e atrizes, então tinha que trabalhar teatro de verdade”, completou.
Desde então o grupo não parou. A primeira montagem foi “O Baile do Menino Deus”, que teve o aval de um dos autores do texto, Ronaldo Brito. A produção não parou, o Integrarte cresceu e alçou novos vôos. Em 2002 se desligou da Aspad com o objetivo de dar mais ênfase o viés artístico da companhia. E, na contramão da maioria das iniciativas do gênero, decidiu trabalhar o contexto da inclusão, porém no sentido inverso: Cinco pessoas não Downs passaram a fazer parte do elenco. “Tivemos efeitos muito positivos, a partir do teatro eles melhoram suas relações sociais e afetivas. O preconceito ainda é uma barreira muito forte, eles ainda não foram inseridos a outros grupos, mas mostramos que aqui fazemos teatro de verdade. Todos juntos.” destaca a presidente do projeto, Laise Rezende, que também é mãe de um Down.
No repertório, a companhia já tem uma bagagem de mais de cinco espetáculos entre eles “A Farra dos Bonecos”, “Celebração da Criação” e “Integrarte 10 anos de Arte”. No palco o talento desses artistas é latente e comprova que a arte cênica (e as artes em geral) é um conceito universal. As pretensões são as mesmas, e os sonhos, tão audaciosos quanto o de qualquer aspirante a ator. “ Eu estou feliz dentro do teatro. Tenho amigos e quero fazer carreira como atriz. Quero aparecer na novela”, disse Verônica Barroca. Já o sentimento de outro ator do grupo, Neomar Valença, traduz bem a sensação de que no Integrarte, nada é de fato diferente. “O que eu mais gosto é da plateia, gosto das palmas. Eu mereço essas palmas”.
Serviço:
“Celebração da Criação”
Sexta-feira (21), às 15h, em Ponte dos Carvalhos
“Integrarte 10 anos de Arte”
Quinta-feira (27), às 15h, no auditório do Banco Central (Rua da Aurora)
Entrada franca
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 20/08/2009

Neguita, tô adorando essas matérias sobre teatro e integração, parabéns!
ResponderExcluirBjooo
Saudade!
Valeu, nega! ;)
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