quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A adolescência não é limitada

Difícil a vida de um artista que vislumbra transitar por diferentes meios, mantendo sempre um trabalho de consistência. Conseguir êxito no cinema, e no teatro, quando se está impregnado por referências televisivas, talvez seja ainda mais difícil. O espetáculo “Aonde está você agora?”, exibido em três sessões totalmente lotadas (uma no sábado e duas no domingo) no teatro de Santa Isabel, é um bom exemplo dessa celeuma.


Protagonizada e dirigida pelo ator Bruno Gagliasso, que divide o palco com Thiago Martins, a montagem aproxima-se bastante de um clássico folhetim de novela das oito. O que não precisa ser de todo negativo, já que a grande maioria do público (feminino) - munido de máquinas fotográficas, e fazendo pedidos de telefone - estava ali para ver o “Tarso” (personagem de “Caminho das Índias”), independente do que fosse ser apresentado no palco.

Em sendo assim, a história de dois amigos que se conhecem ainda na infância, se separam na adolescência, e seguem caminhos diferentes, até um reencontro emocionado, é suficiente para fazer a plateia rir, e até chorar - “Tem gente chorando”, disparou o ator durante os agradecimentos - com o previsível fim.

Uma pena porque, de fato, tanto Bruno quanto Thiago, revelam-se excelentes atores técnicos. Convencem nos papéis de meninos de oito, 15, e 22 anos. O problema é que existe algo que não se encaixa em “Aonde...“. É um certo ranço de teatro colegial, possivelmente agravado pela trilha sonora do Legião Urbana. Nada contra “Vento no Litoral” - música que inspirou o espetáculo - mas um texto sobre adolescentes, não precisa, nem deve ser limitado.

A peça, que tem tom simplista, com apenas os dois atores em cena, um telão, e a iluminação, fica ainda mais comprometida em função do Santa Isabel. Com uma plateia verticalizada, o público acomodado nos camarotes laterais perdeu a capacidade de acompanhar as imagens projetadas no telão.

Não que ele fosse peça fundamental para o entendimento da história, mas talvez tenha ajudado na composição, e na ambientação dos personagens. No mais, foi bacana ouvir o Gabriel (Martins) entoando clássicos da Legião dos anos 1980, e ver o Pedro (Gagliasso) ensinando aos jovens a diferença entre sexo com amor, e somente sexo. Montagem bem educativa.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 28/09/2009


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