segunda-feira, 19 de abril de 2010

Zéu Britto numa conversa de botequim com Boccaccio

Talento do ator, e compositor, dá a Decameron o tom certo da comédia moderna

“Só quero raspadinha meu bem, se você quiser eu raspo também”. Os irreverentes versos de uma das composições de Zéu Britto davam as boas vindas ao público que chegava para assistir ao espetáculo Decameron, no último sábado, no teatro da UFPE. Parte do elenco recebia os convidados no hall de entrada do teatro, fazendo uma verdadeira “bagunça musical”, como bem definiu o diretor Otávio Müller, em entrevista a Folha de Pernambuco.

No violão, o próprio Zéu puxava o coro de suas canções nada ortodoxas. O escracho, e a ousadia de Zéu – falando de uma forma mais suave aos leitores – são o encaixe perfeito para a montagem do texto retirado da obra italiano, Giovanni Boccaccio.

Um (Boccacio), personagem emblemático na literatura do século 14, que com seus escritos foi considerado um marco entre a moral medieval e o realismo. O outro (Zéu), considerado por muitos verborrágico e amoral. E ambos revolucionários. Cada um a seu tempo. Por certo se não tivessem vivido com mais de sete séculos de separação. Tomariam uma cerveja no botequim, e o assunto não seria outro que não: sexo.

São justamente as composições de Zéu, - presentes ao longo de todo o espetáculo - que fazem com que Decameron não se torne uma comédia datada. Ainda que a temática da peça – que trata do cotidiano de comerciantes de uma vila e de suas mulheres fogosas , dispostas a tudo para conseguirem “furnicar” – a primeira vista pareça um tema atual. São os cacos, e as tiradas, dos atores que dão o tom mais moderno à comédia.

Além de Zéu, a atuação impagável de Marcos Oliveira (o Beiçola de "A grande família") e George Sauma (o Tatalo de “Toma Lá Dá Cá”) arrancaram gargalhadas não só do público, como também do próprio elenco. A leveza, e a forma como os atores se divertem em cena, de fato fazem a diferença. Acabam envolvendo o público que – em alguns momentos literalmente – passa a fazer parte do espetáculo e sendo mais um habitante da Serra da Xavasca.


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