
De acordo com Laura, “Rainha” nasceu de sua vontade pessoal de explorar com mais profundidade a condição da mulher negra na atualidade. “Eu fiz uma matéria sobre escritoras negras na literatura. A partir daí, cheguei ao livro ‘O olho mais azul’ da estadunidense Toni Morrison (Prêmio Nobel de Literatura), que conta a história de uma menina negra que queria ter o olho igual o da atriz Shirley Temple. A experiência despertou em mim a vontade de me aprofundar na identidade negra”, explicou Laura.
A ideia foi proposta ao grupo, e junto com Cleani Marques, com quem divide o palco, e Édi Oliveira, responsável pela criação coreográfica, o espetáculo começou a ser concebido. E, juntos, optaram por abordar questões relacionadas a gênero, preconceito, classe-social, autoestima, orgulho e ironia. Os poemas foram usados tanto como inspiração para expressar o imaginário feminino negro, como também para compor a própria dança. “Quando trouxemos a pesquisa para o universo editorial do Brasil foi bem diferente. Aqui trabalhamos com autoras com títulos com baixo potencial editorial, enquanto nos EUA há um prêmio como o Nobel”, destaca a bailarina.
Entre os textos selecionados para compor o espetáculo e inspirar suas cenas encontramos material das escritoras brasileiras: Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo (Minas Gerais); Cristiane Sobral e Tatiana (Brasília); Elisa Lucinda (Espírito Santo); e Andréia Lisboa e Negra Li (São Paulo). Os poemas das artistas norte-americanas são de Toni Morrison (Ohio); Alice Walker (Geórgia); Audre Lord (New York) e Maya Angelou (Missouri).
Apesar de se tratar de um espetáculo de dança, “Rainha” segue a premissa da companhia que na tentativa de agregar literatura e dança, trabalha sempre à fala junto com o movimento. “É de fato um trabalho mais difícil, porque além do treinamento corporal, temos aulas com uma fonoaudióloga e com uma professora de canto. Temos sempre um trabalho extra”, diz Laura, fazendo menção a o tipo de estética adotado pela companhia. E completou: “Também é preciso bastante cuidado porque o espetáculo não pode ter uma direção tradicional de teatro. Não temos personagens. Temos narradores que dançam”.
Com figurino e cenografia que valorizam objetos do cotidiano. O objetivo do espetáculo é colocar a mulher numa hierarquia que alcance o patamar mais alto, nesse caso, “Rainha”. A trilha sonora reforça esse universo feminino negro utilizando as canções “Four women” e “Images” de Nina Simone; “Tarata” de Clementina de Jesus; e “Ilu ayê” na voz de Clara Nunes.
As apresentações fazem parte do projeto de circulação do espetáculo, contemplado pelo prêmio Klauss Vianna, da Funarte. E, além de Recife, o grupo vai passar por Brasília, Campo Grande, Palmas, João Pessoa e Goiânia.
Serviço
“Rainha”
SESC Casa Amarela
Sábado (17) e domingo (18), às 19h
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 17/04/201

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