Philippe Ménard é, por si só, a representação absoluta do processo transitório constante presente na vida de qualquer ser humano. Não me refiro apenas ao fato de Philippe ter nascido com o sexo masculino, e ter se tornado mulher. Mas, sim, ao fato de, como artista, e como pessoa, estar sempre buscando uma perspectiva diferente para enxergar o mundo. Seu objetivo foi alcançado em “P.P.P.”, espetáculo que a Cia. francesa Non Nova - fundada por Ménard - apresenta hoje (10) e amanhã (11), às 21h, no teatro de Santa Isabel dentro da programação do Festival de Circo do Brasil. Usando o gelo como principal matéria-prima na composição do seu cenário, o elemento tem um papel que vai muito além de meramente cênico. O gelo é o fio condutor de uma história de mudança de estado, é parte da metamorfose apresentada pelo artista.A abreviação que dá nome ao espetáculo vem do francês Position Parallèle ao Ploncher - Posição Paralela ao Chão, em uma referência a única posição comum a qualquer pessoa: a do leito de morte. “ A escolha do título lembra que todos acabam da mesma forma. Podemos ter medo, não aceitar, mas o fim é inevitável. O mais interessante é o caminho que percorremos até chegar a ele. O espetáculo fala sobre a utopia do ser humano que luta sempre contra a própria morte, mesmo sabendo que não vai vencer O gelo representa essa luta fictícia, sabemos que no final, inevitavelmente, ele vai derreter”, explica Ménard.
Mas a escolha de trabalhar com uma matéria perecível não foi proposital. “Até hoje não tenho certeza de que o gelo é ideal para essa construção”, brinca o artista. Na verdade, esse encontro se deu casualmente, enquanto Ménard fazia uma turnê pela África. Na ocasião, um dos teatros onde o artista se apresntou não possuía sistema de refrigeração, e uma opção oferecida foi colocar barras de gelo em frente aos ventiladores. “ A temperatura estava em torno de 48 graus, e é claro que o gelo derreteu rapidamente, a água invadiu o palco e arrastou pedaços de gelo que sobraram. A plateia acabou achando que aquilo fazia parte do número, e percebi que podia usar isto de alguma forma”.
É claro que a escolha foi um desafio. Durante o processo de concepção a artista se machucou bastante em função da dificuldade imposta pela temperatura e dureza do gelo. Mas ainda assim, as limitações físicas não foram maiores do que as psicológicas. “Tive que reprogramar minha mente. Fiquei conhecida pela minha técnica perfeita e quando comecei a trabalhar com o gelo toda a minha perfeição sumiu. Tive que aprender a deixar de lado minha virtuosidade e aceitar me expor de uma outra forma” lembra.
A Fantástica Fábrica de Gelo
Thibaud explica que todo o processo é bastante complicado, e exige muito tempo e organização. Temperatura, clima, altitude, e até mesmo a pureza da água da cidade onde se apresentam, interfere no resultado. “Temos que fazer testes antes de começar a produção, porque tudo influencia no resultado do nosso trabalho”, explica o artista plástico.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 10/10/2009

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