domingo, 30 de novembro de 2008

Artesãos transformam escama de peixe em arte*

O material está na moda, e foi parar em adereços de moda e em peças de decoração

Amanda Sena
especial para Folha

A prática de unir um bom negócio a projetos que promovam a inclusão social já é uma realidade em muitas empresas. Se junto a isso, acrescentarmos técnicas de preservação do meio ambiente, tem-se a fórmula para uma empresa de sucesso. E foi reunindo esses elementos que Clarice D’Ávila e Camila Haeckel criaram, há três anos, o ateliê “Mar e Arte”. Além de sócias, as duas são mãe e filha, e, através da idéia do sogro de Camila, que é dono de um frigorífico, elas descobriram no peixe uma excelente matéria-prima. As artistas fazem suas peças usando escamas e couro de peixe reciclado. O material é transformado nas mais diferentes peças, que vão de objetos de decoração, como luminárias, a acessórios super descolados, como bolsas, brincos, colares e sandálias.

No começo do trabalho a dupla usava apenas as escamas do peixe, o material mais barato e resistente permitiu que elas tornassem seus produtos conhecidos e que assim, se firmassem no negócio. A produção foi crescendo e a “Mar e Arte” foi ganhando ares de empresa. Camila e Clarice começaram a trabalhar também com o couro do peixe e diversificaram sua produção. Hoje, elas têm um catálogo com mais de 200 peças e vendem essa produção para várias lojas do Brasil, e também do exterior. “Os Estados Unidos é o nosso maior cliente, mas também exportamos para Inglaterra, França e Alemanha”, disse Camila.

Mais do que um Ateliê de arte, a empresa envolve as mulheres da comunidade de pescadores de Brasília Teimosa, bairro onde fica o Ateliê. “ A idéia é incluir essas mulheres no trabalho fazendo com que elas aprendam as técnicas e possam ganhar com isso. “ explicou Clarice. “Hoje, cerca de 30 mulheres trabalham na cooperativa e o melhor é que elas podem produzir em casa, enquanto cuidam dos filhos”, completou Camila.

Todas as peças elaboradas pela “Mar e arte” atendem às normas de preservação ambiental. O processo de produção reaproveita todas as partes do peixe: “ Usamos a espinha moída misturada com resina para fazer os porta-guardanapos. As escamas são usadas nos objetos de decoração como flores na haste, e o couro normalmente é usado em bolsas, pulseiras e acessórios em geral. Aproveitamos tudo”, brincou Camila.

OLINDA
O material inusitado vem se popularizando entre os artistas que trabalham com couro. O artesão Chico Motta tem um ateliê em Olinda e, recentemente, descobriu que o couro de peixe poderia ser incorporado à sua produção. Com experiência na modelagem de cintos feitos com couro de boi, Chico Motta já começou a fazer misturas que têm chamado a atenção de turistas e também de grandes lojas do ramo da moda.

Serviços:
Mar e Arte - Rua Delfim (antiga rua A), 292, Brasília Teimosa

Telefone - 3327-6097/9126-1808 / site: www.marearte.com.br

Ateliê Chico Mota - Rua do amparo, 171, Olinda
Telefone - 9682-5509


* A matéria foi capa do caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 30/11/2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Presente/The Gift (Louise Hogarth, EUA, 2003)



O documentário da norte-americana, Louise Hogarth, chegou aos cinemas exatamente um ano depois da diretora ter lançado a pergunta Alguém Ainda Morre de Aids? em seu curta-metragem de mesmo nome. Mais uma vez, Louise se aventura escrevendo, produzindo e dirigindo o filme, e justiça seja feita, ela cumpre muito bem todos os papéis.

O Presente é um documentário perturbador até mesmo para quem está diretamente envolvido com o universo homossexual. O filme investiga de perto a decisão polêmica tomadas pelos protagonistas de contrair, voluntariamente, o vírus HIV. Um deles conta a história sem arrependimentos, já o outro não tem tanta certeza das escolhas. São nas “convention parties” que os portadores do vírus, conhecidos como “the gift givers”, se reúnem para curtir festa restritas, regadas à drogas, bebidas e muito sexo sem camisinha.

Os “bug chasers” (outra forma de tratamento dos soropositivos) vivem a partir de uma lógica invertida, na qual pretendem transformar a exceção em regra. Dessa maneira eles intencionam poupar a si e ao restante da comunidade do medo da contaminação. O diferente é não ser um soro-positivo. Uma realidade sombria e impactante.

O formato da narrativa adotado por Louise Hogarth aborda também outra perspectiva do problema: a falsa idéia de uma vida normal e saudável dos HIVs positivos, vendida pelos laboratórios que fabricam o coquetel de medicamentos. Idéias essas, distorcidas e equivocadas que acabam fazendo com que muitos jovens tomem decisões precipitadas.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Harvie Krumpt (Adam Elliot, Austrália, 2003)


Não é por menos que o filme do diretor australiano, Adam Elliot, faturou o Oscar de melhor curta-metragem de animação em 2003. Harvie Krumpt, além de ser meticulosamente bem executado, é um filme tocante. A narrativa que conta a trajetória de vida de seu personagem principal é cercada de episódios um tanto quanto, pouco usuais. E acima de tudo, sua história é cercada por fatos. Fatos comuns a vida de todos nós, mas que por algum motivo são omitidos. Na maioria das vezes, por que preferimos ignorá-los! Fatos como a beleza da nudez, a impetuosidade das crianças com o que é diferente, ou mesmo a imprevisibilidade da morte. Adam Elliot explora em seu filme as idiossincrasias dos seres humanos.


Animação feita em “Stop Motion” (técnica que usa imagens paradas filmadas em sequência), Harvie Krumpet chama atenção também pelos detalhes: que vão desde rachaduras nas paredes aos efeitos de luz, e expressão dos personagens. Elliot também utiliza muitos efeitos de “fade in” e “fade out” para pontuar as passagens de tempo da história, dando ao público uma sensação de transição dos momentos de vida do personagem.


A narração feita pelo ator, Geoffrey Rush, também merece destaque. É ela que dá o tom e a intensidade do filme, sem que para isso tenha que brigar com a imagem. Um exemplo disso, é o momento em que Harvie decide se tornar nudista: Tanto a narração de Rush, quanto a trilha sonora ganham um ritmo ofegante. Dando a dimensão e o impacto que as mudanças tinham trazido à vida de Harvie.


Adam Elliot e Harvie Krumpet chegam, em alguns momentos, a terem semelhanças físicas. Entretanto, seria precipitado dizer que o diretor reproduziu momentos de sua infância tímida em Melbourne. O fato, é que o simpático bonequinho tem fácil identificação com as lembranças de qualquer pessoa. Ainda que ele viva em um mundo a parte. A história, que muitas vezes nos arremete às fábulas infantis, é repleta de pequenas “morais”. Porém, o humor irônico de Elliot dá ao filme um certo caráter subversivo.Além de dialogar com um estilo tragicômico. Harvie Krumpet é um excelente exercício de questionamento de valores e visões de mundo, no qual somos conduzidos através do olhar de um personagem que nunca desiste de sua vida e busca sempre uma explicação para as coisas.

Assista o filme:

Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=CSJVl24LRtk

Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=Fxv1w2CDKQU&feature=related

parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=VdLyYvytutA&feature=related



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ausência Justificada

Melhor do que discursar sobre os motivos que me deixaram sem atualizar o blog por mais de um mês, é mostrar um desses motivos.

Segue a baixo a crítica do curta alemão, Motodrom. Texto que me levou ao grupo de jovens críticos que farão a cobertura do Janela Internacional de Cinema do Recife – Festival que acontece de 13 à 20 de novembro na Fundação Joaquim Nabuco – Em breve trago mais informações .


Motodrom


A primeira sensação que temos ao assistir Motodrom é de que estamos dentro do globo da morte com as motos passando sobre nossas cabeças. Com planos pouco usuais e quase hipnóticos, o curta do diretor alemão, Jörg Wagner é um filme sensorial que transporta o espectador para a realidade de motoqueiros circenses que ganham a vida desafiando a morte. É justamente esse caráter documental que faz de Motodrom um filme tão peculiar, já que o formato de curta-metragem é pouco utilizado por documentaristas. Além disso, Jörg Wagner optou por fazer um filme mudo, pontuado apenas pelo ronco dos motores das motos em atividade. Um risco para esse tipo de narrativa, mas que ao mesmo tempo dá ao filme uma linguagem universal.

O tratamento de som, bem como das imagens em PB bastante granuladas, são uma atração à parte. Bem como a participação do público que em meio ao entra e sai frenético das apresentações, assiste atento às manobras de cima do Motodrom, e dão ao filme a conotação do real. Jörg Wagner consegue passar através de sua montagem o tom energético e pulsante que dimensiona a vida desses artistas. Não por acaso, o filme recebeu uma menção honrosa no Festival de Sundance, em 2007.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Que Fernando Meirelles era um diretor capaz de fazer proezas num filme, isso todo mundo já sabia. Que a sua estética é diferenciada e que tem uma forma de filmar bastante característica, também. Mas o que ninguém sabia, era que Meirelles ainda tinha várias cartas na manga (ou melhor, dentro da cabeça). Ensaio sobre a cegueira, uma co-produção entre Brasil, Canadá e Japão, é a prova disso. No filme, o diretor solidifica o seu, já garantido, lugar entre os diretores brasileiros mais bem sucedidos no exterior.

"Cegueira" é um filme que já começou sua história dividindo opiniões. Após sua estréia de gala, na qual teve a imensa responsabilidade de abrir o Festival de Cannes (um dos mais importantes do mercado cinematográfico), o filme dividiu opiniões. Muitos jornais foram implacáveis chegando a chamar o filme de medíocre, como o argentino La Nación. Entretanto, críticos renomados como Peter Bradshaw, do britânico The Guardian, chegaram a dar ao filme quatro estrelas, classificação para poucos.

O fato é que para mim, Fernando Meirelles mais uma vez se superou. Já havia lido o livro homônimo de José Saramago (em que se baseia o filme), e estava deverás apreensiva com a responsabilidade que o diretor tinha nas mãos. Afinal, o livro de Saramago é um primor da literatura contemporânea, tanto que ganhou um nobel. É um prato cheio para aqueles que se deleitam ao dar asas à imaginação através da leitura. Traduzir esse universo imaginativo para as telas não era tarefa fácil. Principalmente ao optar por ser fiel a narrativa original.

Confesso que fui assistir ao filme meio ressabiada, principalmente depois de visto Cidade de Deus e o Jardineiro Fiel (também adaptações de livros), filmes que pra mim são perfeitos. Mas Meirelles não deixou nada a desejar! Construiu um filme sensorial! Sensorial, inclusive, é a melhor definição para Ensaio Sobre a Cegueira. A montagem do filme é impecável, com cortes rápidos, quase que desconfortáveis. A sensação de perturbação visual é constante, inclusive nas inserções de claridade total que antecedem os momentos de cegueira, tão bem descritas no livro como "um mar de leite". Esse era o meio maior receio: que o filme não me causasse o mesmo impacto e desconforto que o livro me causou. Fui surpreendida, cheguei ao fim da sessão com as pernas bambas.

Meirelles deu ao filme a sensação de caos e de fim dos tempos, onde não existem regras e o que prevalece é a violência e a irracionalidade. Ensaio Sobre a Cegueira traz no elenco Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga (sobrinha de Sonia Braga), Danny Glover e Gael Garcia Bernal, que, diga-se de passagem, conseguiu me despertar repulsa, feito inédito em se tratando da figura.

Apesar das críticas ferrenhas que recebeu, Ensaio Sobre a Cegueira conseguiu arrebatar os cinéfilos de plantão. E, conseguiu ainda, o mais irrefutável dos elogios, o de José Saramago.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Kinoplex Plaza Shopping

Estou na velha correria de sempre, mas fiz questão de vir aqui registrar minha impressão sobre o novo cinema do Shopping Plaza, em Casa Forte.

Ontem fiquei indignada com a recepção que tivemos chegando ao cinema. De cara, esperamos mais de 20 minutos. Tudo bem, pensei! Afinal, hoje é domingo, o cinema ainda é novidade, ainda deve estar em fase de adptação.

Mas quando chegamos no caixa para comprar os ingressos, uma mocinha, muito da descarada (diga-se de passagem), nos perguntou se tínhamos um real. Eu respondi que não. E ela, dando um “muchôcho”, nos disse que não tinha como vender os ingressos porque não tinha troco para tirar dois tickets de vinte, pois estava sem notas de dois.

Ora, a obrigação de ter dinheiro trocado é de quem compra ou de quem vende os bilhetes? E ainda que tivesse acontecido um imprevisto, cabe a ela encontrar uma solução. Ou sugerir algo ao cliente, e não apenas fazer bico e dizer que não pode vender.

Felizmente, antes que eu iniciasse uma discussão desnecessária, minha amiga ofereceu uma nota de dois, para que ela pudesse dar seis reais de troco. Problema solucionado! Mas achei péssimo para a imagem de um local que está começando a funcionar ter um atendimento dessa qualidade. É uma pena.

Tirando esse pequeno incidente, achei as salas super confortáveis. Cadeiras reclináveis com uma boa diferença de altura de uma fila para outra, excelente sistema de som. Gostei bastante da sala, me lembrou o Box Guararapes numa versão mais compacta. O que pra mim é ótimo.

Assisti Ensaio sobre a Cegueira (Fernando Meirelles) na sala 4. Amei o filme. Volto logo mais com um post com as minhas observações.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Em um milésimo de segundo

O que pode acontecer em um milésimo de segundo? Uma fração tão pequena de tempo pode mudar a vida de uma pessoa. Principalmente de um atleta. Um segundo é o tempo exato que pode transformar um ídolo, num fracasso. Um herói, num mito.

O que pode acontecer em um milésimo de segundo? O tempo de uma simples piscada de olhos pode ser o suficiente para fazer vir abaixo anos de treinamentos exaustivos em uma única queda. Pode ser o suficiente para um pedacinho de unha encostar na parede e com isso garantir mais um record mundial.

O que pode acontecer em um milésimo de segundo? No esporte... Tudo! É pelo milésimo de segundo que o velocista corre. É em um milésimo de segundo que se define match point de uma partida, numa cortada tão rápida que faz a bola voar tão rápido que só conseguimos ver no replay. É o tempo suficiente para triscar no sarrafo e ser eliminada da prova. Ou o segundo pode se traduzir em centímetro e ser o suficiente para fazer de mais uma atleta imbatível.

É em um milésimo de segundo que a confiança desaba. Que o pé pisa fora da linha. Que a insegurança atrapalha. É em um milésimo de segundo que a técnica faz a diferença. Que a experiência faz a diferença. Que o peso de uma nação é a diferença.

Olimpíadas de Beijing 2008, ao todo mais de 10 mil atletas de 205 diferentes países fazem com que o mundo acompanhe cada detalhe. Salto a salto. Braçada a braçada. Segundo a segundo. É o espetáculo dos jogos olímpicos que continua fascinando Nações. Uma legião de Diegos, Eduardos, Dayanes, Cielos, Pheps, Isinbayevas, Gibas, Jades e de tantos outros. Atletas que nos arrepiam, arrancam lágrimas e sorrisos. Tudo, em um milésimo de segundo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Diário de Pernambuco de cara nova

Em uma apresentação realizada na ultima terça-feira-feira (12/08), Cristiano Mascaro, responsável pelo novo projeto gráfico do Diário de Pernambuco, teve a oportunidade de apresentar a nova diagramação do jornal aos alunos do 6º período de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Na apresentação, Mascaro discutiu quais foram suas principais propostas à direção do Diário e também, como se deu todo o processo de concepção do projeto.
Com um formato mais arrojado e moderno, o novo Diário de Pernambuco tem uma proposta de aproximar cada vez mais o universo impresso do on-line. A palavra de ordem é interação. O jornal passa a estar alinhado com as principais tendências de desing do país e do mundo, através de uma linguagem que possibilita um maior leque de atuação dos repórteres, além de promover uma maior interatividade com o leitor.
A diagramação que antes obedecia uma disposição mais tradicional, dividida em três eixos horizontais. Agora obedece a linguagem do "L" invertido, e se preocupa mais em obedecer a hierarquia da informação. O que dá à página uma maior fluência em seus elementos. Apesar de trazer grandes mudanças em seu projeto gráfico, Mascaro se preocupou em conservar as principais características do jornal. " A proposta é inovar, porém sem perder a identidade visual" explicou.
Ao completar uma semana de circulação, a resposta dos leitores tem sido positiva e os elogios já começaram a chegar na redação. Um presente para Mascaro, que levou cerca de três meses para concluir todo projeto. E também para os leitores que ganharam um jornal ainda mais moderno e dinâmico.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

MPPE vai produzir material em braile para portadores de deficiência visual*

Em mais uma ação na busca pela promoção dos princípios de igualdade e inclusão social, o Ministério Público de Pernambuco acaba de fechar uma parceria com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) para aquisição de uma máquina de impressão em braile, sistema de escrita e leitura tátil para pessoas portadoras de deficiência visual. A entrega oficial da impressora será feita na próxima terça feira (12) no Gabinete da Procuradoria, localizado à Rua do Imperador. Na ocasião, estarão presentes, o procurador geral de Justiça Paulo Varejão, o coordenador do Caop Cidadania, Marco Aurélio Farias, o coordenador de apoio técnico, Leonardo Menezes, Evângela Andrade, relações públicas do MPPE, e, representando a presidência da Chesf, Manoel Aguiar, membro do Comitê de Responsabilidade Social da empresa.

A necessidade de se produzir um material impresso em braile foi constatada no dia-a-dia das atividades desempenhadas pelo Ministério Público. O objetivo é que seja feita uma produção de comunicação toda em braille; cartilhas, folders e peças em geral. Também será possível a impressão de qualquer material para consulta em ações que envolvam deficientes visuais. “Com a possibilidade de impressão em braile o MPPE vai poder fazer cumprir a lei, não só evitando conflitos, mas também promovendo a inclusão e orientando os portadores de deficiência a cerca de seus direitos”, disse Marco Aurélio Farias.

O patrocínio da Chesf foi viabilizado através do projeto do MPPE intitulado Comunicação acessível. “A Chesf encontrou nesta parceria uma oportunidade de contribuir para que os cegos tenham acesso às informações produzidas pelo Ministério Público. Estamos ajudando a garantir o direito constitucional à informação” explicou Manoel Aguiar. Falando ele mesmo como deficiente visual, Aguiar também destacou os benefícios que o material em impresso em braile trará. “Essa é mais uma conquista para os cegos de todo o Estado.”

A impressora será instalada no Coordenadoria Ministerial de Apoio Técnico e será operada por servidores do MPPE que também possuem deficiência visual. O primeiro produto da impressora braile será a cartilha A inclusão sob o olhar da multiplicidade, voltada à divulgação dos direitos das pessoas com deficiência. O exemplar será entregue a Manoel Aguiar. A edição convencional da cartilha sairá até o final do ano.

Participam do projeto o Caop Cidadania, Assessoria de Comunicação, Coordenação Ministerial de Apoio Técnico (CMAT), Coordenação Ministerial de Tecnologia da Informação (CMTI) e Assessoria de Planejamento.
*A matéria foi capa do Diário Oficial de 09 de agosto de 2008

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Das crônicas que não fiz...


Inspirada pelo curta Os filmes que não fiz, do diretor Gilberto Scarpa, exibido no CinePE desse ano. E pelo longo tempo que passei sem colocar nada de novo aqui no blog (mais de um mês), resolvi fazer um texto apenas sobre as crônicas que não fiz.

Ao longo desse mês de "quase" férias – e digo quase, porque tudo segue normal com exceção apenas da faculdade – tive várias idéias de textos que gostaria de ter compartilhado com o universo blogueiro. Mas por algum motivo: falta de tempo, excesso de trabalho, problemas com o PC, ou a mais pura e simples, preguiça. Acabei não colocando em prática.

A primeira das idéias foi falar dos dentistas. Com o título: Ofício Medieval. O texto abordaria o prazer quase sádico que os dentistas têm em torturar seus pacientes naquelas cadeiras que mais parecem câmaras da morte. Em função de um episódio que já dura mais de dois meses, causado por uma maldita azeitona, a autora que vos fala (escreve), vem passando por um verdadeiro suplício na mão desses torturadores da idade média. É preciso ser no mínimo excêntrico, para escolher passar o resto da vida fazendo as pessoas sentirem dor. Ok, ok! .. Eles irão se defender dizendo:

- Na verdade o nosso papel é evitar a dor, ou então resolvê-la quando a situação já está no limite.

Mas convenhamos que tem que ter um pezinho no prazer em ver a dor alheia. Ah, isso tem!!!

A outra crônica que não fiz seria sobre vizinhos. O perigo mora ao lado iria falar das relações entre aqueles que vivem separados apenas pelas pilastras que dividem os portais de dois apartamentos. Desde que o mundo é mundo (já diria Bruno Mazzeo em um dos seus episódios do Cilada) existe vizinhança... A diferença é que as cavernas poderiam ficar mais distantes umas das outras, assim como as aldeias e vilas. Mas, com o crescimento das cidades, passamos a compartilhar do dia-a-dia do sujeito que mora logo ao lado, a baixo, em cima, na frente... Prédios cada vez mais próximos e com paredes cada vez mais finas transformaram a vida moderna num verdadeiro Big Brother Condominial. E não adianta reclamar com o síndico!!!!

Ainda bem que não escrevi essa crônica... Pelo menos meus vizinhos não me odiarão.

Também tive a idéia de falar sobre como a cidade muda durante o inverno, mas já estamos no final de Julho e não haveria mais sentido. Quis fazer um diário de bordo sobre minhas primeiras coberturas jornalísticas em grandes eventos. Faltou tempo! Fazer uma homenagem ao dia do amigo (20/07). Passou batido!

Enfim, foram muitas idéias... Algumas acredito que renderiam boas risadas, outras seriam completamente sem graça. Mas assim como no curta de Scarpa, a vida de uma “aprendiz” de jornalista, ou de um diretor de cinema, é feitas de idéias. Inspiração. Ou falta dela. Algumas são boas, outras nem tanto. Umas virarão histórias, e outras ficarão guardadas na memória. Quem sabe um dia não serão contadas a um outro “aprendiz”. Quiçá!!!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Zelito Nunes: uma trajetória de poesia

Estou de volta meu povo!!!!!!


Passado o período de loucura universitária, retomo minhas atividades de blogueira. Como novo começo, coloco aqui o texto fruto de uma entrevista concedida por Zelito Nunes (tema do primeiro post desse blog).


Espero que gostem...


Escritor, poeta, cordelista e funcionário público. A última atividade citada, entre as tantas desempenhadas por Joselito Nunes, mas conhecido como Zelito, parece não fazer parte da descrição dessa figura, que tem a arte da escrita como parte de sua existência. O universo da advocacia, e por conseqüência, do funcionalismo público aparecem como meros coadjuvantes na trajetória de escritor, que consagrou Zelito como um folclorista nato. É a voz, e o cotidiano, do típico matuto a marca registrada do seu texto.

Como bom boêmio que é, e não podia ser diferente, Zelito concedeu esta entrevista num bar: Antiquárium. Com cardápio tipicamente regional, charque brejeira e carne de bode, Zelito chegou para a entrevista usando calça jeans e camisa de malha, figurino que não passa nem perto da formalidade da vida jurídica. Aliás, com relação a sua formação como bacharel em Direito, ele afirma que foi empurrado “pelo outros” para a carreira. Mas isso é assunto para mais adiante. Natural de Monteiro, no interior da Paraíba , Zelito é o caçula de uma família de 17 filhos. Teve sempre uma vida bastante modesta, até mesmo pelo grande número de irmãos que tinha. Não chegou a passar fome, mas segundo o próprio: “tirou um fino”. Nasceu e se criou ouvindo os cantadores da terra. Ainda criança, lia as poucas revistas velhas que chegavam ao seu alcance, mas era mesmo um leitor aficionados de gibis. Foi quando menino, que percebeu gostavar de contar histórias, na verdade, descobriu um dom ao ver que as pessoas também gostavam de ouvir suas “mirabolantes” epopéias. E foi contando histórias para uma professora do primário, a dona Dalva, que Zelito compensou a inabilidade na matéria de artes manuais, e conquistou a admiração da professora que viria anos depois ratificar seu talento ao testemunhar-lhe as lembranças dos “causos” por ele contados.

Durante a adolescência, a época da Jovem Guarda foi o único período em que Zelito se distanciou um pouco de suas raízes. Durante o movimento definido por ele como “movimento mais imbecil da música” , Zelito acabou adotando a jaqueta de couro e o estilo Iêiêiê... Mas a fase não durou muito. Como todo jovem, Zelito viveu apenas uma fase, e retomou o seu contato com a poesia e música do sertão do Pajeú. Era o cotidiano popular que realmente fascinava o jovem escritor. Nomes como dos poetas populares, Júlio Verne, Rogaciano Leite e Pinto Velho de Monteiro fizeram parte de sua trajetória... foram inspiração e posteriormente cooperação. Tornaram-se amigos. A propósito, faço aqui um parêntese, amigos não lhe faltam. Entre uma dose e outra de rum, sempre chegava alguém na mesma, fazia aquela festa, o cumprimentava... Do garçom, ao dono do bar. Figura popular!

Já no Recife, Zelito sempre esteve envolvido pelo universo literário. Sempre trabalhou com livros, primeiro numa gráfica e em seguida como vendedor. Foi levado à faculdade de direito por sugestão de um irmão, que o convenceu de que ele precisava de uma profissão de verdade, uma profissão na qual ganhasse dinheiro. Mas Zelito nunca gostou da vida acadêmica, passou pelo curso como um aluno mediano. E apesar de ser registrado na OAB, nunca chegou a advogar. Não advoga nem em causa própria. Assim como “virou” advogado, também “virou” funcionário público. Está lotado na Advocacia Geral da União, mas conta as horas para se aposentar e livrar-se do que chama de “sepulcro”.

Mas a atividade que realmente o alçou à arte de “escrivinhador”, foi o cargo que desempenhou durante 11 anos a frente da Imprensa Universitária da UFRPE. Como diretor, Zelito editou um livreto reunindo histórias de cantadores e para o lançamento na universidade, convidou ninguém menos que Sivuca. Estava definitivamente traçada sua carreira literária.

Daí em diante, Zelito não parou mais. Apresentado por um amigo em comum, conheceu Jessier Quirino, com quem lançou em 1999, o livro Folha de Boldo, 120 histórias de cachaceiros. A co-autoria deu certo, e serviu para dar coragem de tentar vôos maiores. Em 2000, lança Cariri e Pajeú, gente engraçada de lá pela editora Líber. Foram 180 exemplares vendidos, um sucesso para os padrões pernambucanos, principalmente numa estréia.

O segundo livro (2004) deu continuidade ao seu primeiro trabalho autoral: Cariri e Pajeú, outras histórias de lá. Mais um sucesso de vendagem, chegando à marca de 220 exemplares vendidos. Como característica do típico virginiano que é (apesar de suas contestações), Zelito é um “workaholic”. Pelo menos no quê diz respeito a sua paixão: a escrita!

Foi quando o bar já começava a ser tomado por rubro-negros sedentos (no dia estava sendo transmitida as semi-finais da Copa do Brasil), que Zelito comentou a sua pouca intimidade com o universo “futebolístico”. “De futebol só entendo uma coisa: nada. Fico com as poesias” disse sorridente. E logo voltou a falar sobre sua verdadeira paixão: arte de escrever. Mal havia lançado o segundo livro, e o seu terceiro trabalho já estava pronto para ser editado. Histórias de Beradeiro ultrapassou mais uma vez a expectativa de vendagem e deu a Zelito a certeza de que não mais pararia de escrever. Foi petiscando um sanduíche de queijo do reino, que acabou confirmando a mania por trabalho. Além de se dedicar ao projeto do seu próximo livro Sertão de Beradeiro, registre antes que acabe Zelito também publica semanalmente seus textos em dois jornais eletrônicos: Vitrine Cariri (
www.vitrinedocariri.com/) e o Jornal da Besta Fubana (jornaldabestafubana.blogspot.com/).
Em suas colunas, casos como o de Cajarana, o matuto que virou dentista protético, ou o de Zezinho, o gari de Tabira que adorava quiabo, ou mesmo aquela conversa fiada entre bêbados boêmios, típica de boteco do interior. Não importa se o personagem é o “bebo”, o “ceguinho”, ou o padre... A tônica da obra de Zelito é a linguagem matuta e o humor.

E é o humor, a característica mais marcante de Zelito Nunes. Sentando, a vontade num bar, conta as histórias da sua vida como se falasse de seus personagens. Por vezes saudosista, noutras bastante crítico... Mas sempre bem humorado. Poético. Aos 58 anos, pai de três filhos: Pedro, André e Bruno. Dono de um passo manso, Zelito é um típico matuto na cidade grande. Não aquele matuto “caricato das quadrilhas juninas”, mas sim o matuto no sentido fiel da palavra. Sertanejo! Com orgulho de suas raízes e contador das suas origens. Com direito a despedida rimada: “No sertão onde eu vivia/ Fui vaqueiro tangerino/ Fui vendedor de remédio/ Cobrei “barato” em cassino/ Só nunca fui pederasta/ Mais ainda tirei um fino”.