domingo, 30 de novembro de 2008

Artesãos transformam escama de peixe em arte*

O material está na moda, e foi parar em adereços de moda e em peças de decoração

Amanda Sena
especial para Folha

A prática de unir um bom negócio a projetos que promovam a inclusão social já é uma realidade em muitas empresas. Se junto a isso, acrescentarmos técnicas de preservação do meio ambiente, tem-se a fórmula para uma empresa de sucesso. E foi reunindo esses elementos que Clarice D’Ávila e Camila Haeckel criaram, há três anos, o ateliê “Mar e Arte”. Além de sócias, as duas são mãe e filha, e, através da idéia do sogro de Camila, que é dono de um frigorífico, elas descobriram no peixe uma excelente matéria-prima. As artistas fazem suas peças usando escamas e couro de peixe reciclado. O material é transformado nas mais diferentes peças, que vão de objetos de decoração, como luminárias, a acessórios super descolados, como bolsas, brincos, colares e sandálias.

No começo do trabalho a dupla usava apenas as escamas do peixe, o material mais barato e resistente permitiu que elas tornassem seus produtos conhecidos e que assim, se firmassem no negócio. A produção foi crescendo e a “Mar e Arte” foi ganhando ares de empresa. Camila e Clarice começaram a trabalhar também com o couro do peixe e diversificaram sua produção. Hoje, elas têm um catálogo com mais de 200 peças e vendem essa produção para várias lojas do Brasil, e também do exterior. “Os Estados Unidos é o nosso maior cliente, mas também exportamos para Inglaterra, França e Alemanha”, disse Camila.

Mais do que um Ateliê de arte, a empresa envolve as mulheres da comunidade de pescadores de Brasília Teimosa, bairro onde fica o Ateliê. “ A idéia é incluir essas mulheres no trabalho fazendo com que elas aprendam as técnicas e possam ganhar com isso. “ explicou Clarice. “Hoje, cerca de 30 mulheres trabalham na cooperativa e o melhor é que elas podem produzir em casa, enquanto cuidam dos filhos”, completou Camila.

Todas as peças elaboradas pela “Mar e arte” atendem às normas de preservação ambiental. O processo de produção reaproveita todas as partes do peixe: “ Usamos a espinha moída misturada com resina para fazer os porta-guardanapos. As escamas são usadas nos objetos de decoração como flores na haste, e o couro normalmente é usado em bolsas, pulseiras e acessórios em geral. Aproveitamos tudo”, brincou Camila.

OLINDA
O material inusitado vem se popularizando entre os artistas que trabalham com couro. O artesão Chico Motta tem um ateliê em Olinda e, recentemente, descobriu que o couro de peixe poderia ser incorporado à sua produção. Com experiência na modelagem de cintos feitos com couro de boi, Chico Motta já começou a fazer misturas que têm chamado a atenção de turistas e também de grandes lojas do ramo da moda.

Serviços:
Mar e Arte - Rua Delfim (antiga rua A), 292, Brasília Teimosa

Telefone - 3327-6097/9126-1808 / site: www.marearte.com.br

Ateliê Chico Mota - Rua do amparo, 171, Olinda
Telefone - 9682-5509


* A matéria foi capa do caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 30/11/2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Presente/The Gift (Louise Hogarth, EUA, 2003)



O documentário da norte-americana, Louise Hogarth, chegou aos cinemas exatamente um ano depois da diretora ter lançado a pergunta Alguém Ainda Morre de Aids? em seu curta-metragem de mesmo nome. Mais uma vez, Louise se aventura escrevendo, produzindo e dirigindo o filme, e justiça seja feita, ela cumpre muito bem todos os papéis.

O Presente é um documentário perturbador até mesmo para quem está diretamente envolvido com o universo homossexual. O filme investiga de perto a decisão polêmica tomadas pelos protagonistas de contrair, voluntariamente, o vírus HIV. Um deles conta a história sem arrependimentos, já o outro não tem tanta certeza das escolhas. São nas “convention parties” que os portadores do vírus, conhecidos como “the gift givers”, se reúnem para curtir festa restritas, regadas à drogas, bebidas e muito sexo sem camisinha.

Os “bug chasers” (outra forma de tratamento dos soropositivos) vivem a partir de uma lógica invertida, na qual pretendem transformar a exceção em regra. Dessa maneira eles intencionam poupar a si e ao restante da comunidade do medo da contaminação. O diferente é não ser um soro-positivo. Uma realidade sombria e impactante.

O formato da narrativa adotado por Louise Hogarth aborda também outra perspectiva do problema: a falsa idéia de uma vida normal e saudável dos HIVs positivos, vendida pelos laboratórios que fabricam o coquetel de medicamentos. Idéias essas, distorcidas e equivocadas que acabam fazendo com que muitos jovens tomem decisões precipitadas.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Harvie Krumpt (Adam Elliot, Austrália, 2003)


Não é por menos que o filme do diretor australiano, Adam Elliot, faturou o Oscar de melhor curta-metragem de animação em 2003. Harvie Krumpt, além de ser meticulosamente bem executado, é um filme tocante. A narrativa que conta a trajetória de vida de seu personagem principal é cercada de episódios um tanto quanto, pouco usuais. E acima de tudo, sua história é cercada por fatos. Fatos comuns a vida de todos nós, mas que por algum motivo são omitidos. Na maioria das vezes, por que preferimos ignorá-los! Fatos como a beleza da nudez, a impetuosidade das crianças com o que é diferente, ou mesmo a imprevisibilidade da morte. Adam Elliot explora em seu filme as idiossincrasias dos seres humanos.


Animação feita em “Stop Motion” (técnica que usa imagens paradas filmadas em sequência), Harvie Krumpet chama atenção também pelos detalhes: que vão desde rachaduras nas paredes aos efeitos de luz, e expressão dos personagens. Elliot também utiliza muitos efeitos de “fade in” e “fade out” para pontuar as passagens de tempo da história, dando ao público uma sensação de transição dos momentos de vida do personagem.


A narração feita pelo ator, Geoffrey Rush, também merece destaque. É ela que dá o tom e a intensidade do filme, sem que para isso tenha que brigar com a imagem. Um exemplo disso, é o momento em que Harvie decide se tornar nudista: Tanto a narração de Rush, quanto a trilha sonora ganham um ritmo ofegante. Dando a dimensão e o impacto que as mudanças tinham trazido à vida de Harvie.


Adam Elliot e Harvie Krumpet chegam, em alguns momentos, a terem semelhanças físicas. Entretanto, seria precipitado dizer que o diretor reproduziu momentos de sua infância tímida em Melbourne. O fato, é que o simpático bonequinho tem fácil identificação com as lembranças de qualquer pessoa. Ainda que ele viva em um mundo a parte. A história, que muitas vezes nos arremete às fábulas infantis, é repleta de pequenas “morais”. Porém, o humor irônico de Elliot dá ao filme um certo caráter subversivo.Além de dialogar com um estilo tragicômico. Harvie Krumpet é um excelente exercício de questionamento de valores e visões de mundo, no qual somos conduzidos através do olhar de um personagem que nunca desiste de sua vida e busca sempre uma explicação para as coisas.

Assista o filme:

Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=CSJVl24LRtk

Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=Fxv1w2CDKQU&feature=related

parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=VdLyYvytutA&feature=related



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ausência Justificada

Melhor do que discursar sobre os motivos que me deixaram sem atualizar o blog por mais de um mês, é mostrar um desses motivos.

Segue a baixo a crítica do curta alemão, Motodrom. Texto que me levou ao grupo de jovens críticos que farão a cobertura do Janela Internacional de Cinema do Recife – Festival que acontece de 13 à 20 de novembro na Fundação Joaquim Nabuco – Em breve trago mais informações .


Motodrom


A primeira sensação que temos ao assistir Motodrom é de que estamos dentro do globo da morte com as motos passando sobre nossas cabeças. Com planos pouco usuais e quase hipnóticos, o curta do diretor alemão, Jörg Wagner é um filme sensorial que transporta o espectador para a realidade de motoqueiros circenses que ganham a vida desafiando a morte. É justamente esse caráter documental que faz de Motodrom um filme tão peculiar, já que o formato de curta-metragem é pouco utilizado por documentaristas. Além disso, Jörg Wagner optou por fazer um filme mudo, pontuado apenas pelo ronco dos motores das motos em atividade. Um risco para esse tipo de narrativa, mas que ao mesmo tempo dá ao filme uma linguagem universal.

O tratamento de som, bem como das imagens em PB bastante granuladas, são uma atração à parte. Bem como a participação do público que em meio ao entra e sai frenético das apresentações, assiste atento às manobras de cima do Motodrom, e dão ao filme a conotação do real. Jörg Wagner consegue passar através de sua montagem o tom energético e pulsante que dimensiona a vida desses artistas. Não por acaso, o filme recebeu uma menção honrosa no Festival de Sundance, em 2007.