segunda-feira, 31 de março de 2008

Conversa de malandro não faz curva

Eu poderia passar horas dissertando sobre a origem do samba, suas influências africanas, história, contexto, todo aquele blá, blá, blá... Mas pra falar de samba o texto tem que ter cadência, malemolência. Tem que vir de dentro pra fora, tem que ter sentido, tem que ser sentido.

Falarei, pois, da minha relação com o samba. Da química que se dá entre ouvidos, pés e coração, e que promove em mim uma estranha sensação de inquietude.

Está lá na página principal do site de relacionamentos:

ABOUT ME : “Eu nasci com o samba
No samba me criei.
E do danado do samba
Nunca me separei”

Nada me descreve tão bem quanto os versos de Caymmi. Não me lembro de se quer uma fase da minha vida em que o samba não estivesse presente. Nos ouvidos e nos pés!

Sim, nos pés! Porque nunca consegui dissociar uma coisa da outra. Como ouvir a batida cadenciada do samba e não bater, ainda que discretamente, o pezinho por baixo da mesa? Para quem me disser que não faz nada, eu respondo: “É ruim da cabeça, ou doente do pé”

Minha relação com o samba é visceral. Me acabo. Desço do salto. Tiro o sapato e sambo... Até ficar lavada de corpo alma (de corpo literalmente). “Bambo só, mas sambo sim”.

Salve Noel, Bezerra, Moreira. Salve Jamelão. Salve Chico, salve Tom, salve João. Salve Jorge, Cartola, Alcione, Martinho, salve Beth. Salve o samba. Salve os bambas!

quinta-feira, 20 de março de 2008

As Boas mulheres da China

Como se aproxima um feriado, deixo vocês com as minhas impressões sobre o livro "As Boas mulheres da China"... fica como sugestão de leitura para aqueles que não forem viajar. Um bom feriadão para todos!

Um retrato dos contrates da existência humana; Essa seria a melhor definição para resumir as histórias contadas por Xinran, no livro As boas mulheres da China. A jornalista reuniu, através das entrevistas feitas com diferentes mulheres chinesas, histórias sobre as mais belas delicadezas da alma feminina, e as mais terríveis violências contra o corpo e contra alma dessas mulheres.

Digo “contrastes da existência humana” pelo fato de apesar do livro ser predominantemente sobre o universo feminino, os homens são peça chave no desenrolar das narrativas. Tanto pro bem, como no caso de Gu Da, que foi fiel ao seu amor por Jingyi até achar que amada estava morta. Ou para mal, como no caso do pai de Hongxue, que violentava a própria filha.

O livro é uma leitura forte que nos leva a fazer uma reflexão: de valores, de princípios, de posicionamento político. Xiran, que apresentava o programa de rádio Palavras na brisa noturna, aborda os temas femininos e assuntos antes considerados “tabus” na China, dando voz as mulheres que eram ouvidas pela primeira vez desde a Revolução. O programa era inovador e audacioso, principalmente porque era estritamente proibido abordar qualquer tema que o partido considerasse proibido. Algumas das histórias publicadas, não chegaram a ir pro ar no programa. Por esse motivo, para conseguir que seu livro fosse publicado, a autora precisou se mudar para Inglaterra.

Os relatos a cerca da violência física e psicológica que essas mulheres sofreram são impactantes. Bem como, a condição de subserviência que elas tinham em relação aos homens e ao Estado. Histórias como a de Hua’er, violentada aos 11 anos, por soldados vermelhos “em nome do partido”. Levando ao suicídio da mãe em seguida e a gravidez interrompida da irmã (também vítima de violência sexual).

A autora foi bastante feliz na escolha dessas personagens que protagonizaram as histórias da vida real. O livro é uma excelente trajetória de conhecimento e aceitação de uma cultura diferente da nossa e, antes de mais nada, uma trajetória de auto-descoberta como mulher e como jornalista.

domingo, 9 de março de 2008

Recife Enquadrado


Adoro ser turista na minha cidade! Acho que esse pode ter sido um dos motivos ( equivocados) que me levou a cursar turismo. Mas isso é assunto pra outra prosa.


Vira e mexe me pego admirando a cidade, ali mesmo, em meio ao corre-corre da vida urbana. Adoro sair pelas ruas do Recife Antigo... Num passo galopante... Observando o jeito que a luz do sol do novo dia ilumina aqueles velhos prédios.


Gosto do jeito que os rios contornam a cidade.


Gosto de ser turista, mesmo que seja dentro de um ônibus de linha, ou na paisagem achada por entre as arestas de um prédio.


Assim surgiram as fotos acima, ali, em meio ao caos dos meus dias.


Fotografando o reflexo do prédio na água do rio, enquanto volto pra casa depois de mais um dia de trabalho.


Ou então enquanto passo, fortuitamente, em frente às arestas de um prédio na Rua do sol, com vista para a Aurora, enquanto cuido de um processo burocrático de alguns contratos.


Gosto de admirar o Recife assim, ainda que seja enquadrado!


Ando saudosa da parte antiga do Recife. Talvez seja porque em breve, vou atravessar a ponte...

terça-feira, 4 de março de 2008

TI, tecnologia da informação ou tecnologia da intromissão?

Já reparou como de uns tempos pra cá, todo mundo acha que tem o direito de se meter na vida alheia? Ou melhor, tem o direito de 'xeretar' a vida alheia. É, xeretar. Porque na grande maioria das vezes, as pesquisas na rede em busca de fulano ou cicrano não passam da mais pura e simples curiosidade nossa de cada dia.
Só que me peguei pensando em como os avanços da tecnologia contribuem para a nossa sede de 'intromissão'. Nossas vidas estão expostas online, a um click do mouse, e isso já interfere até nas nossas relações interpessoais.
Explico:
Acabou o namoro?
O primeiro pensamento é...
- Vou tirar as fotos dele do Orkut!
Brigou com o amigo?
- Acho melhor bloquear ele no MSN.
Pensou? Escreveu no blog. Foi pra balada? Está a foto no site. Passou no vestibular? A nota está online. Quer um endereço? É só procurar na lista virtual...
Está tudo lá (na verdade, aqui), publicado na rede mundial, para que quem quiser saber.
A tecnologia trouxe muito benefícios: aproximou distâncias, facilitou muitas vidas, aproximou antigos amigos, fez com que pequenas idéias fossem compartilhadas...
Mas junto com tudo isso a facilidade do acesso às informações fez crescer o nosso espírito bisbilhoteiro. O Brasil é definitivamente um dos mais afetados pela prática. Só no Orkut, site de relacionamento mais popular no País, cerca de 60% dos usuários são brasileiros.
Vale ressaltar que esse número inclui os famosos fakes, perfis fantasmas, usados apenas com o objetivo maior de xeretar.
Fico pensando em como os consultórios dos terapeutas devem estar abarrotados de histórias de relacionamentos acabados, ciúmes descontrolados, amizades abaladas e mais outras mazelas causadas pela intromissão descontrolada.
Será que se a tecnologia não tivesse avançado nada disso teria acontecido? Ou será que sempre foi característica do ser humano olhar pelo buraco da fechadura? E a gora a fechadura ficou bem maior?
O que quer que seja, é importante lembrar também que quem faz uso de todos esses recursos somos nós. Então talvez a tecnologia não seja a grande vilã da história, e sim o uso que as pessoas fazem dela. Tecnologia da Informação, e não da Intromissão. Porque até curiosidade tem que ter limite.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Pede pra sair! Pede pra sair!

Algumas pessoas podem já ter lido os próximos dois artigos que irei postar. Ambos foram publicados no site do JC, na parte de colaboradores. Resolvi publicá-los novamente numa tentativa de concentrar todos os meus textos aqui nesse espaço. Então, quem já leu pode ler de novo... E quem ainda não leu, essa é a chance!


A célebre frase que foi imortalizada, recentemente, na voz do Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura no filme Tropa de Elite, já está na boca de todos, nos quatro cantos do País. É fato.

Mas, apesar de no filme, a frase fazer menção ao treinamento do batalhão de operações especiais da polícia (Bope), ultimamente ela parece fazer parte da minha realidade. Não é que tenho ouvido o 'tal capitão' berrar no meu ouvido!?

Calma, calma... não ando fantasiado com Wagner Moura (não que ele não mereça), mas o contexto dos gritos que estão ecoando nos meus ouvidos é outro. Tenho escutado a tal frase sempre que me deparo com uma situação que parece me enxotar da minha cidade, ou do meu Estado e até do meu País.

Explico. Sabe aqueles momentos quando em menos de uma semana, você recebe várias notícias de amigos, tios, primos que foram assaltados? Pronto. A cada má notícia, vem a voz: "Pede pra sair! Pede pra sair!"

Ou quando você, depois de um dia longo de trabalho, senta para assistir ao telejornal e passa por um verdadeiro teste de estômago em meio a uma enxurrada de notícias trágicas e vergonhosas. Mais uma vez: "Pede pra sair! Pede pra sair!"

Renan não ter sido caçado: "Pede pra sair! Pede pra sair!"

O pior é que cada um desses "Pede pra sair" tem um tom diferente. De medo, de decepção, de "desiste que não tem mais jeito". Cada um parece ter um significado próprio, mas todos dizem pra ir embora.

Aos 25 anos, tenho cada vez mais amigos e conhecidos morando fora do País. As vezes me dá a impressão de que não vai sobrar ninguém aqui, só eu. E aumenta a vontade de sair.

Mas aí é que está o xis da questão.

Queria sair porque tenho vontade de ver o mundo, de conhecer coisas novas, ver outras culturas... Não porque tem um voizinha me atormentando, me mandando abandonar o barco porque ele pode afundar a qualquer momento.

Quero poder sair, mas quero poder voltar. Quero ir e vir. Porque aqui é minha cidade, meu Estado, meu País. E ninguém vai me mandar sair!