domingo, 6 de junho de 2010


A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) divulgou, em cerimônia realizada na manhã de ontem, no cinema São Luiz, a lista das 50 novas entidades selecionadas para implementação de novos Pontos de Cultura no Estado. Durante o evento, a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, destacou a ampliação do edital, que a princípio contemplaria 40 projetos, mas em função de uma parceria entre a Fundarpe e o Ministério da Cultura, tornou possível a inclusão de mais dez entidades.

Todos os selecionados receberão uma verba anual de R$60 mil, para desenvolver suas respectivas atividades culturais, durante o período de três anos. Com a divulgação da nova lista de entidades o Estado passa agora a contar com um total de 166 Pontos de Cultura.

Logo após a divulgação do edital, representantes da classe artística pernambucana pediram a palavra e leram um manifesto redigido coletivamente, em apoio à Luciana Azevedo e à Fundarpe, que nas últimas semanas tornaram-se alvo de denúncias de irregularidades por parte da oposição. “Mais do que a defesa de pessoas, esse manifesto tem a intenção de defender a política de cultura do Estado”, disse a produtora cultural Paula de Renor.

Mãe Beth de Oxúm, representante dos terreiros de matriz africana, fez a leitura do ato. “Esse manifesto surgiu em função da necessidade que a cadeia produtiva sentiu de se posicionar. Não podemos permitir que opositores se articulem e tirem proveito do momento eleitoral em detrimento do trabalho que tem sido feito”, destacou. O grupo recolheu assinaturas dos artistas presentes e seguiu em cortejo cultural até a Assembléia, onde entregaram o manifesto aos deputados Tereza Leitão e Sérgio Leite.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 05/06/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

A tradição do clássico com o Ballet Imperial da Rússia


Uma das mais tradicionais companhias de Ballet Clássico do mundo chega ao Recife para apresentações hoje e amanhã, no teatro da UFPE. A Folha de Pernambuco conversou com o criador, e atual diretor da companhia, Geminidas Taranda, que falou sobre a turnê do grupo pelo Brasil e também sobre os rumos da dança clássica de um modo geral. Aqui, o grupo apresenta os clássicos “Don Quixote” e “Romeu e Julieta”.

Vocês tiveram, na última apresentação no Recife, o maior público da turnê feita no Brasil. O que guardam de lembranças dessa passagem?

Sem dúvida essa observação sobre a presença do público nos deixa bastante feliz. Recife é uma cidade que tem uma enorme representatividade, pois é o local onde vive nosso empresário. Além disso, gostamos bastante da praia, da comida, e é uma pena que não tenhamos tanto tempo de conhecer melhor os pontos turísticos.

Vindo de um país que tem uma das maiores, se não a maior, tradição em ballet clássico no mundo, como é possível reinventar o gênero e manter o interesse do público?

Acho que o balé clássico está enraizado em nosso país, como o samba e o futebol estão para vocês. Ao longo dos anos temos percebido que se faz necessário algum tipo de reinvenção, porém sem mudar as características principais que um clássico precisa ter.

A ideia de criar uma nova companhia de ballet surgiu enquanto você estava em turnê no Japão, durante a apresentação dos concertos de aniversário de Maija Plisetzkaya, correto? Qual foi a principal motivação para essa empreitada?

Sim, foi no Japão. Eu estou envolvido na dança há muitos anos, fui solista do Balé Bolshoi, e naquele momento senti que precisava repassar meus conhecimentos aos mais novos. Hoje vejo que escolhi um bom caminho, pois a Companhia é um grande sucesso.

Quais os critérios usados na seleção dos bailarinos e do repertório?

Um bom bailarino precisa ter, antes de tudo, disciplina e motivação. É uma vida dura, de muitos ensaios, viagens, então precisa realmente ter em mente que quer aquilo para si. Recebemos os alunos, e aos poucos vamos introduzindo-os nos espetáculos, de acordo com seu crescimento. Com relação aos repertórios, seguimos o padrão normal, montamos os clássicos que todos conhecem e gostam.

Você foi primeiro bailarino do Bolshoi durante mais de uma década (1980 -1993). Qual o peso desse posto, e em que influencia em sua carreira?

O peso traz mais coisas positivas que negativas. A pressão existia, mas sempre tive muito apoio e reconhecimento das pessoas com as quais trabalhava.

Hoje colho alguns frutos desse nome que deixei marcado, mas, se meu trabalho de coreógrafo não for bem feito, as pessoas criticam de forma mais forte, então continuo sempre a ter essa pressão, que até gosto, me faz trabalhar com mais gana.

Quais as maiores vantagens e desvantagens de se apresentar nos palcos brasileiros?

As vantagens são inúmeras: bons teatros, cidades maravilhosas, público que realmente gosta de dança clássica. Eu sempre gostei muito do Brasil, desde quando aqui estive com o Bolshoi. As desvantagens são poucas, mas há sem dúvida a dificuldade de se trabalhar em alguns teatros, a questão dos horários e coisas desagradáveis que às vezes acontecem. Outra coisa é o fato do país ser muito grande, e aí perdemos muito tempo nas viagens.

Serviço

Ballet Imperial da Rússia

Teatro da UFPE - Campus Universitário

Sábado, às 21h - Don Quixote

Domingo, às 19h - Romeu e Julieta

Informações: 3207-5757

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 28/05/2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O êxtase e a dor de uma loba cinquentona


“Há um limite muito tênue entre a dor e o prazer”. A frase que Júlia Ferraz, personagem de Cristiane Torloni em “A Loba de Ray-Ban”, diz para sua amante Fernanda (Maria Maya) poderia servir como sinopse do espetáculo apresentado no último sábado, no teatro da UFPE. O texto de, Renato Borghi é uma verdadeira expedição aos limites das relações humanas, e às nuances do prazer do fazer artístico.

A montagem, que teve sua primeira versão em 1987, protagonizado por Raul Cortez. Agora ganha sua versão feminista, em uma adaptação de texto como poucas, e ainda sob a direção de José Possi Neto (diretor da primeira versão). Curioso que essa combinação seja tão afinada, que nem de longe fica a impressão de que algum dia aquela personagem já tenha sido Lobo, e não Loba.

Na pele de uma mulher cinquentona em crise, Torloni é irretocável. Do início ao fim do espetáculo, não deixa o palco um único minuto, e tem presença hipnotizante. Sofrendo com a perda dupla do seu marido, Paulo Prado (Leonardo Franco), e da jovem amante Fernanda Porto, Júlia, uma atriz reconhecida e dona de sua própria companhia de teatro, sofre um colapso em cima do palco, enquanto os três interpretam “Medéia”.

E é o recurso de entrecortar realidade e ficção, usado com maestria por Possi, que dá o tom. Enquanto revela os meandros dessa delicada relação a três, Possi vai dando ao espectador o deleite de conhecer o que está atrás das cortinas. Todas as referências à construção desse “fazer artístico” estão presentes, desde elementos cenográficos - em que se vê canhões de luz, cortinas e camarins - até mesmo nas falas de Júlia, Paulo e Fernanda.

É verdade que a nova versão atenuou a tensão sexual que existia entre as personagens, dando espaço para uma construção mais dramática em torno do dilema que é o envelhecimento para uma mulher. Mas talvez tenha sido justamente esse amadurecimento da personagem de Torloni que faz a Loba, continar interessante aos olhos do público, mesmo 23 anos depois.

Como aspecto negativo, o áudio muito baixo, atrapalhando a compreensão, e fazendo com que o público perdesse algumas falas, principalmente de Maria Maya, e da própria Torloni.


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 24/05/2010

domingo, 23 de maio de 2010

Era Lobo, agora é Loba


Poucas semanas foram tão movimentadas nos palcos da cidade. Simultaneamente, acontecem as programações do Palco Giratório, da Semana Comemorativa dos 160 anos do teatro de Santa Isabel, e a pauta de alguns teatros, como o da UFPE, ainda segue normal. Amanhã e domingo, quem também entra no roteiro teatral do final de semana é a atriz Christiane Torloni, com o espetáculo “A Loba de Ray-Ban” - montagem que fez grande sucesso na década de 1980, com texto de Renato Borghi e direção de José Possi Neto.

Na verdade, a nova versão do espetáculo é um desdobramento da peça original. Torloni e Possi, parceiros desde a primeira montagem (Ela fazendo a mulher de Raul Cortez - “O Lobo de Ray-Ban”, e ele já na direção), resolveram criar a versão feminina daquele personagem que se tornou tão emblemático na história do teatro nacional. Daquele tempo, também trouxeram Leonardo Dantas, que na época vivia o jovem ator com quem Cortez se relacionava, hoje interpretando o marido de Torloni. Para mudar o gênero desse triângulo, Maria Maya é agora, a amante de Torloni.

“A peça evoluiu. Hoje, 22 anos depois, a Julia virou a Loba de Ray -Ban. Vivendo todos os desafios existenciais de uma mulher de 50 anos que se vê às voltas com duas separações”, explica Torloni, em entrevista por telefone. E é justamente em torno desse momento de ruptura e descontrole que a história de Julia se desenrola. Os três personagens, que são atores, confundem a plateia, ora encenando, ora vivendo os dilemas de suas vidas. Assim, revelando os meandros que acontecem por entre cochias e camarins. “O público tem esse olhar de BBB, de querer ver no buraco da fechadura o que acontece nos bastidores. Quando você tem um espetáculo que usa o artista como pano de fundo, isso fica ainda melhor. Além de que, a paixão e a traição sempre fazem subir a temperatura”, brincou a atriz.

Apesar do mote de um triângulo amoroso à primeira vista poder soar como um “clichê”, os nuances das personagens, o conflito, a bissexualidade e outros infinitos aspectos, transformam o texto de Borghi num clássico ao melhor estilo teatrão. “O triângulo é algo eterno. Ele vem desde a bíblia. Mas nessa história cada personagem é uma exceção. Eles podem usar várias máscaras no palco, mas têm a coragem maior de tirar as máscaras da vida”, destacou o diretor. Para em seguida completar: “Uma peça que fala de um tema tão universal, tem sempre uma nova forma de interpretação. A percepção muda. A leitura muda. Quem vê percebe que é totalmente diferente, mas sabe que o conteúdo ainda está ali”.

Serviço

“A Loba de Ray-Ban”

Teatro da UFPE - Av. dos Reitores

Amanhã (22), às 21h, e Domingo (23), às 20h

Ingressos: R$ 100 (platéia) e R$ 80 (balcão), estudantes pagam meia

Informações: 3207.5757

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 21/05/2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cumplicidade de longa data

Nathalia Thimberg e Rosamaria Murtinho são rivais no espetáculo “Sopros de Vida”


Depois de receber a grande dama do teatro, Bibi Ferreira, o palco do Santa Isabel recebe hoje, e amanhã, mais duas grandes divas nacionais. Nathalia Thimberg e Rosamaria Murtinho protagonizam o espetáculo “Sopros de Vida” - texto do britânico David Hare, premiado com o roteiro de “As Horas” e “O Leitor”. A apresentação integra a programação da Semana Comemorativa dos 160 anos do Santa Isabel.

Durante a coletiva de imprensa, realizada na manhã de ontem, no próprio teatro, as atrizes falaram um pouco sobre a construção de suas personagens: duas complexas mulheres e divergentes em quase tudo, exceto no amor por um homem (o mesmo, vale salientar) e sobre a amizade de mais de 50 anos. “Isso vai à pré-história”, brincou Nathalia quando indagada sobre o início da parceria.

A amizade é de fato muito antiga. A primeira vez que as duas dividiram o palco foi em “Rua São Luiz, 27, 8° andar”, espetáculo dirigido por Abílio Pereira de Almeida, encenado em 1957. A montagem foi um sucesso e tinha no elenco nomes como Raul Cortez, Fernanda Montenegro e Mauro Mendonça. “Conheci o Mauro nessa peça. O Raul, quando me viu, disse logo: ‘o Mauro vai namorar essa menina’”, contou Rosamaria, referindo-se ao início do romance com Mauro Mendonça, com quem é casada até hoje.

Desde então, foram tantos trabalhos juntas que nem elas mesmo conseguem contabilizar. “Dizer quantos foram eu não sei, mas sei que o último foi ‘Letti e Lotte’ (do também inglês, Peter Shaffer)”, rememora Nathalia.

Agora, quase dez anos depois deste último encontro, as atrizes voltaram a dividir o palco, agora como rivais. Rosamaria é Frances, esposa de Martin, escritora, dona de casa e mãe. E Nathalia Timberg é Madeleine, amante de Martin, cuja vida foi repleta de grandes realizações. Depois de 25 anos partilhando o amor do mesmo homem as duas se encontram para um sutil, porém não menos forte, combate.

“É um desafio bastante instigante para nós como atrizes, dar vida a personagens com personalidades tão diferentes que se confrontam entre si”, destaca a atriz, ao revelar seus motivos para escolha da peça. A atriz também é responsável pela tradução do texto, junto com Naum Alves de Souza, que também assina a direção do espetáculo. “Naum é de uma grandeza enorme. Ele se põe a serviço do texto”, afirmou Nathalia, sendo interpelada por Rosamaria, que destacava as nuances dessa construção. “O que mais gosto é que esse texto não é óbvio, ele confronta a gente o tempo todo com um grande paradoxo”.

Essa, inclusive, é a primeira vez que David Hare é montado no Brasil. Na Inglaterra, as protagonistas do espetáculo foram vividas por duas grandes atrizes do teatro britânico: Maggie Smith e Judi Dench. Atrizes cujo próprio Hare criou suas personagens com a intenção de que elas às interpretassem.

Permeado pelas alfinetadas e ironias, já tão características do humor britânico, “Sopros de Vida” promete ser uma aula de teatro como poucas. Promovendo o encontro de duas elegantes senhoras e 25 anos de histórias não ditas. “Armamos um barraco, mas um barraco inglês!”, brincou Nathalia.

Serviço

“Sopros de Vida”

Teatro de Santa Isabel

Hoje, e amanhã, às 20h

Ingressos R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada)

Informações: 3207 6161


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 20/05/2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bibi, magistral, encanta público no Santa Isabel

Há poucos dias de completar seu 88° aniversário, Bibi Ferreira emocionou os convidados da festa de outro importante aniversariante, o teatro de Santa Isabel. Celebrando os 160 anos daquele que é um dos 14 teatros-monumentos do País, a grande dama apresentou, na noite de ontem, o espetáculo “Bibi IV”, acompanhada dos músicos da Orquestra Sinfônica do Recife (OSR), que comemora seus 80 anos de existência.

Numa festa com tantas comemorações, até mesmo a plateia tem grande importância. Na primeira frisa do teatro, nomes à altura de Bibi. As amigas Nathalia Timberg e Rosa Maria Murtinho prestigiaram a apresentação acompanhadas da diretora do Santa Isabel, Simone Figueredo. No camarote ao lado, a grande dama do teatro pernambucano, Geninha da Rosa Borges, também estava presente, com o secretário de Cultura do Recife, Renato L.

Bibi adentrou ao palco com a serenidade que lhe é peculiar, agradeceu ao convite e apresentou seu maestro, Flávio Mendes, e os músicos de sua banda carioca, que acompanharam a OSR. Bastou soltar a voz na primeira canção, “Carinhoso”, de Pixinguinha, que o público pode confirmar que ela continua a mesma. Uma intérprete como poucas. “A nossa música popular é muito rica. Há 27 anos que não canto em português, vivo às custas de Madame Piaf. Hoje vou cantar canções que nunca cantei em público”, confessou a “cantriz” - como costuma-se chamá-la.

Um dos momentos mais impactantes da apresentação foi, sem dúvida, quando interpretou o 2° solilóquio de “Gota D’água”, composição de Chico Buarque. Os versos “eu sou onda solta e tão forte quanto eles me imaginam fraca” caíram como a tradução imagética do que ainda é a presença de Bibi no palco. Seguindo o show, Bibi entoou alguns fados. Homenagendo o centenário de nascimento de Noel Rosa, Bibi incluiu alguns sucessos do grande letrista no repertório.

E, ao se perder um pouco no ritmo de “Conversa de Botequim”, sorriu dizendo que essa era a primeira vez que cantava aquela música em público. Encerrando a apresentação, não podiam faltar as canções de Edith Piaf. E, antes do bis de “La vie en rose”, fez uma singela homenagem à Cidade cantando “Recife, Cidade Lendária”, de Capiba.

* A matéria foi publicada no caderno "Geral" da Folha de Pernambuco de 19/05/2010

Santa Isabel: protesto na festa dos 160 anos

Cerimônia marcou início da programação da Semana Comemorativa

Era para ser uma data apenas de celebração e festa, mas desde a divulgação da programação da Semana Comemorativa dos 160 anos do Teatro de Santa Isabel, um ruído de comunicação tem colocado a organização do evento e a classe teatral pernambucana em lados opostos. Ontem, o embate ficou evidente, quando, enquanto acontecia a cerimônia de abertura no salão nobre, a frente do teatro era tomada por manifestantes que fizeram um grande apitaço.

Artistas, diretores e produtores teatrais se reuniram para protestar contra a ausência de uma produção local durante a Semana Comemorativa. Samuel Santos, um dos manifestantes, ressaltou a ausência de uma política cultural que alcance os problemas da classe.

O secretário de Cultura do Recife, Renato L, que estava representando o prefeito João da Costa na cerimônia de lançamento do selo personalizado e do carimbo comemorativo dos 160 anos do teatro, rebateu as críticas afirmando que as comemorações vão durar todo o ano, e que os pernambucanos não ficarão de fora. “A Semana não contemplou nenhuma produção local porque não encontramos nenhuma montagem inédita disponível. Mas ainda assim estamos representados pela Orquestra Sinfônica do Recife e pelo Sa Grama”, ressaltou. Sa Grama, inclusive, apresentou-se na abertura do evento.

O secretário ainda completou: “É lógico que, ao longo desse um ano de programação, a produção local estará presente. Essa ausência aconteceu por um problema concreto, reconhecido pelos próprios manifestantes”. Renato L disse que está aberto para conversar com os manifestantes, caso seja requisitado. Os artistas presentes encaminharam o manifesto elaborado à Secretaria de Cultura.

Palco
Pouco antes de tudo, a grande dama do teatro brasileiro, Bibi Ferreira, fazia os últimos acertos no ensaio para sua apresentação de logo mais à noite do espetáculo “Bibi IV”. Lembrando sua trajetória no palco do Santa Isabel, a artista fez questão de destacar suas apresentações ao lado no pai, Procópio Ferreira, e o seu envolvimento com o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Com relação ao repertório do espetáculo, Bibi garantiu que será bastante eclético. “Tem coisas que nunca cantei antes e também (uma) bela homenagem ao centenário do nascimento de Noel Rosa. Além disso, o público de Recife pode esperar uma surpresa”, brincou.


* A matéria foi publicada no caderno "Geral" da Folha de Pernambuco de 18/05/2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Olimpo das vaidades


Kataklò é uma palavra de origem grega. Ela define o espírito do trabalho. O nome não poderia ser melhor para uma companhia de dança, que transformou ex-atletas em bailarinos, fazendo uso do vigor físico e de suas possibilidades corporais. Na sexta-feira, no Teatro da UFPE, o público que acompanhou “Play”, destes artistas italianos, não teve dúvidas de que a técnica deles tinha de ser exaustiva, para alcançar a precisão dos movimentos.

Entretanto, para um espetáculo que vislumbra reunir esportes, dança e teatro em uma única apresentação, músculos e acrobacias perfeitas não são suficiente. Em cerca de 17 pequenas coreografias, em dois atos, a companhia tenta aproximar o público de diversas modalidades olímpicas oferecendo outras perspectivas.

Mas na maioria das composições falta maturidade coreográfica, o que torna o espetáculo até previsível. Poucos momentos são surpreendentes, como o do ringue de boxe, no qual os bailarinos camuflados fazem dançar, na verdade, as cordas do ringue, e não os boxeadores. Ou mesmo no movimento em que os bailarinos parecem se transformar em deuses do Olimpo.

“Play” é bonito de ser visto. Humorado, brinca ironicamente com esportes, como no futebol, e outros bem distantes, como o trenó olímpico. Mas ainda assim, fica a sensação de que nenhuma história foi contada, ou sentida. Sob músculos e acrobacias, sente-se falta de profundidade e sensibilidade.


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 19/04/2010

A “Rainha” tem identidade negra

Companhia brasiliense aproxima dança e literatura para fazer crítica social


Não é de hoje que a bailarina e coreógrafa Laura Virgínia desenvolve trabalhos que reúnem a dança e a literatura. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Brasília, Laura começou a seu trabalho de pesquisa, intitulado “Escridançando”, em 1997, quando já dançava profissionalmente. Em 2004, ela fundou a companhia de dança Margaridas - onde atua como diretora, bailarina e coreógrafa -, e com ela chega ao Recife para apresentar o espetáculo “Rainha”, hoje e amanhã, às 19h, no Sesc de Casa Amarela.

De acordo com Laura, “Rainha” nasceu de sua vontade pessoal de explorar com mais profundidade a condição da mulher negra na atualidade. “Eu fiz uma matéria sobre escritoras negras na literatura. A partir daí, cheguei ao livro ‘O olho mais azul’ da estadunidense Toni Morrison (Prêmio Nobel de Literatura), que conta a história de uma menina negra que queria ter o olho igual o da atriz Shirley Temple. A experiência despertou em mim a vontade de me aprofundar na identidade negra”, explicou Laura.

A ideia foi proposta ao grupo, e junto com Cleani Marques, com quem divide o palco, e Édi Oliveira, responsável pela criação coreográfica, o espetáculo começou a ser concebido. E, juntos, optaram por abordar questões relacionadas a gênero, preconceito, classe-social, autoestima, orgulho e ironia. Os poemas foram usados tanto como inspiração para expressar o imaginário feminino negro, como também para compor a própria dança. “Quando trouxemos a pesquisa para o universo editorial do Brasil foi bem diferente. Aqui trabalhamos com autoras com títulos com baixo potencial editorial, enquanto nos EUA há um prêmio como o Nobel”, destaca a bailarina.

Entre os textos selecionados para compor o espetáculo e inspirar suas cenas encontramos material das escritoras brasileiras: Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo (Minas Gerais); Cristiane Sobral e Tatiana (Brasília); Elisa Lucinda (Espírito Santo); e Andréia Lisboa e Negra Li (São Paulo). Os poemas das artistas norte-americanas são de Toni Morrison (Ohio); Alice Walker (Geórgia); Audre Lord (New York) e Maya Angelou (Missouri).

Apesar de se tratar de um espetáculo de dança, “Rainha” segue a premissa da companhia que na tentativa de agregar literatura e dança, trabalha sempre à fala junto com o movimento. “É de fato um trabalho mais difícil, porque além do treinamento corporal, temos aulas com uma fonoaudióloga e com uma professora de canto. Temos sempre um trabalho extra”, diz Laura, fazendo menção a o tipo de estética adotado pela companhia. E completou: “Também é preciso bastante cuidado porque o espetáculo não pode ter uma direção tradicional de teatro. Não temos personagens. Temos narradores que dançam”.

Com figurino e cenografia que valorizam objetos do cotidiano. O objetivo do espetáculo é colocar a mulher numa hierarquia que alcance o patamar mais alto, nesse caso, “Rainha”. A trilha sonora reforça esse universo feminino negro utilizando as canções “Four women” e “Images” de Nina Simone; “Tarata” de Clementina de Jesus; e “Ilu ayê” na voz de Clara Nunes.

As apresentações fazem parte do projeto de circulação do espetáculo, contemplado pelo prêmio Klauss Vianna, da Funarte. E, além de Recife, o grupo vai passar por Brasília, Campo Grande, Palmas, João Pessoa e Goiânia.

Serviço

“Rainha”

SESC Casa Amarela

Sábado (17) e domingo (18), às 19h

Ingressos: R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia-entrada)


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 17/04/201

Dança para refletir sobre o tempo

“5 Minutos Para Blackout” questiona existência humana, o tempo e a vida

Quando fez sua estreia durante o Festival Janeiro de Grandes Espetáculos deste ano, “5 Minutos Para Blackout”, espetáculo da Acupe Grupo de Dança, além de ter repercutido bastante no cenário local, também angariou seis indicações a prêmios em várias categorias do Festival, entre elas para melhor espetáculo de dança, e de melhor trilha sonora, para a composição do músico pernambucano Fred 04, que debutou na função compondo para a montagem. Agora, aqueles que não tiveram a chance de assistir a única apresentação do grupo feita durante o evento, terão a oportunidade de acompanhar o espetáculo, que volta aos palcos do Recife, hoje.

Ao todo serão quatro apresentações. Duas no teatro Barreto Júnior, hoje, às 19h30, e amanhã, às 20h, sendo a primeira apresentação fechada, e gratuita, para estudantes de escolas públicas através de uma parceria com o projeto Educação para o Teatro. As outras duas acontecem no teatro de Santa Isabel, nos dias 28 e 29 de abril.

Partindo das reflexões acerca do tempo feitas pelo coreógrafo e pesquisador austríaco, Rudolf Laban, “5 Minutos Para Blackout” propõe questionamentos sobre a existência humana, o tempo, e a trajetória da vida. “Tinha um interesse pessoal em desenvolver um estudo do movimento proposto por Laban. E a linguagem dele é universal, todo mundo entende, ou no mínimo desperta o interesse para o entendimento”, explicou Paulo Henrique Ferreira, que assina o texto e a direção do espetáculo.

A montagem, que é dividida em quadrantes que representam o tempo, o espaço, o fluxo e o peso - E descrevem a existência humana na trajetória da vida até a morte, na perspectiva de um dia (24h) - marcou ainda o retorno de Maria Eduarda Buarque ao posto de coreógrafa.

“A Maria também fez alguns cursos no Laban/Bartenieff, em Nova Iorque. Passamos dois meses no processo de pesquisa e discussão da proposta. Somente depois começou o processo com os bailarinos. Costumo dizer que eles são coautores, porque a proposta foi feita por nós, mas eles iam imprimindo suas particularidades, e ela ia ajustando tudo isso”, completa fazendo menção aos nomes de Fernanda Lobo, José W. Júnior (em revezamento com Kizer Carvalho), Mieja Chang, Paulo Henrique Ferreira e Roberta Cunha, bailarinos que fazem parte do elenco.

Paralelamente às apresentações, Paulo Henrique também vai ministrar oficinas de dança que fazem parte do projeto. A primeira no Cepoma de Brasília Teimosa, de 19 a 23 de abril, e a segunda no Sesc Santo Amaro, de 26 a 30 de abril. As oficinas são gratuitas.

Serviço

“5 Minutos Para Blackout”

Teatro Barreto Júnior - 15 de abril, às 20h

Teatro de Santa Isabel - 28 e 29 de abril, às 20h

Ingressos: R$15 (inteira) e R$7,5 (meia entrada)

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 14/04/2010

Zéu Britto numa conversa de botequim com Boccaccio

Talento do ator, e compositor, dá a Decameron o tom certo da comédia moderna

“Só quero raspadinha meu bem, se você quiser eu raspo também”. Os irreverentes versos de uma das composições de Zéu Britto davam as boas vindas ao público que chegava para assistir ao espetáculo Decameron, no último sábado, no teatro da UFPE. Parte do elenco recebia os convidados no hall de entrada do teatro, fazendo uma verdadeira “bagunça musical”, como bem definiu o diretor Otávio Müller, em entrevista a Folha de Pernambuco.

No violão, o próprio Zéu puxava o coro de suas canções nada ortodoxas. O escracho, e a ousadia de Zéu – falando de uma forma mais suave aos leitores – são o encaixe perfeito para a montagem do texto retirado da obra italiano, Giovanni Boccaccio.

Um (Boccacio), personagem emblemático na literatura do século 14, que com seus escritos foi considerado um marco entre a moral medieval e o realismo. O outro (Zéu), considerado por muitos verborrágico e amoral. E ambos revolucionários. Cada um a seu tempo. Por certo se não tivessem vivido com mais de sete séculos de separação. Tomariam uma cerveja no botequim, e o assunto não seria outro que não: sexo.

São justamente as composições de Zéu, - presentes ao longo de todo o espetáculo - que fazem com que Decameron não se torne uma comédia datada. Ainda que a temática da peça – que trata do cotidiano de comerciantes de uma vila e de suas mulheres fogosas , dispostas a tudo para conseguirem “furnicar” – a primeira vista pareça um tema atual. São os cacos, e as tiradas, dos atores que dão o tom mais moderno à comédia.

Além de Zéu, a atuação impagável de Marcos Oliveira (o Beiçola de "A grande família") e George Sauma (o Tatalo de “Toma Lá Dá Cá”) arrancaram gargalhadas não só do público, como também do próprio elenco. A leveza, e a forma como os atores se divertem em cena, de fato fazem a diferença. Acabam envolvendo o público que – em alguns momentos literalmente – passa a fazer parte do espetáculo e sendo mais um habitante da Serra da Xavasca.


Montagem de “O Auto da Compadecida” faz 18 anos

Clima de festa permeou a apresentação no Teatro do Parque

Clima de festa, fila na porta, banda e artistas de circo dando boas-vindas aos convidados. O clima dava indícios que se tratava da comemoração de uma data bastante importante. Na noite de ontem, o público lotou o teatro do Parque para prestigiar o aniversário de 18 anos da montagem “O Auto da Compadecida”, da Dramart produções. A peça é inspirada na obra homônima de Ariano Suassuna.

Foi uma noite de emoção para quem estava nos dois lados do palco. Na plateia, nomes ilustres que já fizeram parte da produção, como o maestro Forró - que fazia parte da banda do espetáculo, quando ainda não tinha sequer recebido o título de maestro - davam o tom comemorativo da festa. Era momento de celebrar uma marca dificilmente atingida no teatro, principalmente em se tratando de produções locais.

Em cena, os atores mostraram o porquê de estarem há tanto tempo em cartaz. O elenco se diverte no palco, é quase como se cada montagem já tivesse se apropriado de seu personagem. O tom popularesco de circo mambembe, no qual um palhaço é o narrador da história, aproxima o público do universo apresentado brilhantemente no texto de Ariano.

Mesmo não contando com apresentações regulares, a sintonia entre Sóstenes Vidal (João Grilo) e Williams Sant’Anna (Chicó) é evidente. Sóstenes, inclusive, tem passado boa parte de seu tempo no Rio do Janeiro, em função das gravações da próxima novela global (Passione) da qual fará parte. Mesmo diante da ausência de ensaios, e da agenda esparsa de apresentações, a relação entre os atores em cena é bastante interessante.

Ao final do espetáculo, Williams assumiu o lugar de Socorro Raposo (fundadora da Dramart) e fez as honras da casa falando da felicidade do elenco em atingir a maioridade com a peça. O ator falou da experiência adquirida nas apresentações feitas por todo País e prestou uma homenagem ao ator e encenador Marco Camarotti - falecido em 2004 -, que durante anos dirigiu o espetáculo. Para encerrar a comemoração em grande estilo, João Grilo com toda sua irreverência regeu a banda num grandioso “Parabéns pra Você”.

* A matéria foi publicada no caderno "Geral" da Folha de Pernambuco de 15/03/2010

A maioridade de um clássico

Adaptação de “O Auto da Compadecida”, da Dramart Produções, completa 18 anos em cartaz

Difícil encontrar um espetáculo que tenha permanecido tantos anos na estrada sem grandes alterações. Ainda mais, em se tratando de um grupo tão extenso. A montagem Dramart Produções reúne, ao todo, 15 atores, cinco músicos e quatro técnicos, que juntos, completam amanhã 18 anos de apresentações ininterruptas, se gabando de terem sofrido apenas algumas poucas substituições. A data especial será celebrada em uma única apresentação, às 19h30, no Teatro do Parque. Com ingresso promocional de aniversário no valor de R$10 para todos.

Para saber um pouco mais sobre a história por traz da história, a Folha de Pernambuco conversou com atores que acompanharam toda esta jornada: Socorro Rapôso, Compadecida e fundadora da Dramart; Luiz César, padre João e co-fundador da Dramart; Célio Pontes, Severino do Aracaju e ex-assistente de direção do espetáculo; Williams Sant’Anna, Chicó e atual assistente de direção; e Leidson Ferraz, que vive os papéis do frade e do demônio, relembraram fatos e curiosidades divertidas, e outras que guardam com carinho, dessa montagem que caiu nas graças do público e já faz parte da história do teatro pernambucano.

Começando do começo, em 1991, a produtora Socorro Rapôso iniciou o planejamento de um espetáculo para celebrar os 10 anos da Dramart Produções, comemorados no ano seguinte. De Ariano Suassuna, dramaturgo admirado e amigo de Socorro, a farsa “O Auto da Compadecida” foi a eleita. A escolha do texto também tinha origem na relação pessoal de Socorro com a peça. “O Auto...” foi o primeiro espetáculo da vida da produtora, tendo feito a Compadecida com o grupo Teatro Adolescente do Recife em 1956. Na direção, mais um amigo, o professor Marco Camarotti, PhD em Teatro Popular.

A estreia da nova montagem aconteceu no dia 14 de marco de 1992, no teatro Valdemar de Oliveira. De lá pra cá foram muitas temporadas e muita história. A própria Socorro teve a chance de ir à Sapucaí com seu personagem. “Em 2002 a Império Serrano fez o desfile em homenagem a Ariano. Na época a minissérie da TV estava no auge, e todo elenco foi convidado. Mas em uma entrevista para o Jornal do Brasil, Ariano disse que gostaria que, com relação à Compadecida, convidassem ‘a de ontem, de hoje e de sempre’. Se referindo a mim”, conta Socorro, recordando o desfile que a emocionou muito.

Como co-fundador da Dramart Produções, o ator e produtor Luiz César chegou ao elenco meio que por acaso. Quando cursava Relações Públicas na mesma faculdade de Socorro, Luiz foi confundido com um padre que estudava na mesma sala. Do episódio, veio um namoro e um convite para integrar o elenco. “Acho que ela me achou com cara de padre. Desde então, esse acabou sendo um papel recorrente na minha vida”, brinca Luiz César.

As histórias são muitas. Célio Pontes tem lembranças de quase toda uma vida. Entrou para Dramart quando ainda tinha 14 anos, no espetáculo “O Mágico de Oz”. Pouco tempo depois, foi convidado por Socorro para fazer parte do elenco do Auto. Mas, foi um convite de Camarotti que foi decisivo na carreira de Célio. “Marco Camarotti me chamou para ser assistente de direção do espetáculo. Isso me deu a oportunidade de aprender muito sobre todos os aspectos do teatro”, destaca o ator.

Outro que atribui ao “Auto...” a emoção é Williams Sant’Anna. Além de ter com Sóstenes Vidal, seu companheiro de cena que vive João Grilo, uma enorme cumplicidade, o ator tem uma relação bastante próxima com os demais companheiros de palco. “Fazer o Palco Giratório do Sesc era um grande sonho. Em 1998, quando finalmente havíamos conseguido e estava tudo pronto para começarmos a turnê pelo Interior do Estado, eu fiquei muito doente. Tínhamos a opção de desistir de um sonho e frustrar o grupo inteiro, ou tentar fazer, mesmo assim. E nós fizemos”, lembra ele.

Leidson Ferraz, o caçula da turma, também foi um dos últimos a entrar no elenco - três anos depois do debut da montagem. “Estreei com o teatro Santa Isabel lotado. Como meu personagem tem uma relação com a plateia, foi uma coisa muito especial”, recorda Leidson.

Além da apresentação deste domingo, o grupo aguarda a finalização do edital Funcultura 2009, no qual concorrem com um projeto de oito apresentações populares do “Auto...”, com distribuição gratuita de 200 convites.Outro projeto que a Dramart tem na gaveta, à espera de patrocínio, é apresentação do espetáculo usando igrejas como cenário para montagem.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 13/03/2010

Um entrelugar no limite do corpo

“4 x 4” reforçou a maestria de Deborah Colker em combinar força com precisão

Quem nunca assistiu, e vai pela primeira vez, a um espetáculo da Cia, de Dança Deborah Colker, compreende o porquê da coreógrafa ser a primeira brasileira a dirigir uma apresentação dos canadenses do Cique du Soleil. Força e vigor físico são características marcantes do espetáculo “4 por 4”, apresentado no último sábado, para um teatro Guararapes quase lotado. Entretanto, mais do que o domínio de corpo, do qual compartilham as duas companhias, em “4 por 4” o que chama mesmo a atenção é a leveza e precisão dos movimentos, bem como a plasticidade do espetáculo.

Dividido em dois atos, a primeira parte traz para o público três movimentos que propõe ao público um encontro da dança com as artes plásticas. Com 17 pessoas em cena, temos os quadros “Cantos” (baseado em Cildo Meireles), “Mesa” (Chelpa Ferro), “Povinho” (Victor Arruda) que são artistas de tempos e formas diferentes virando dança.

Em “Cantos”, os bailarinos interagem com seis estruturas montadas a partir da obra do artista. A dureza dessas estruturas só é quebrada por uma fresta que existe em uma delas, e permite que os corpos se entrelacem. Em “Mesa” - talvez o mais minimalista dos movimentos - os bailarinos dançam sobre um mesa, com uma tela de fundo verde. É plasticamente interessante, mas coreograficamente repetitivo. “Povinho” é colorido, divertido, despretensioso e simples. Bom ver esse tipo de coreografia brincando com a seriedade da experimentação, a qual se impõe o gênero contemporâneo.

Porém, é só no retorno do intervalo que o espetáculo se torna grandioso. “Vasos”é um verdadeiro desafio aos limites do possível. Coreografia angustiante que prende o fôlego do público, enquanto os bailarinos deslizam sobre 90 vasos dispostos no chão. Num dos momentos mais belos do espetáculo, depois que os vasos são içados, Dielson Pessoa - único pernambucano na Cia. - encerra a apresentação com um solo impecável.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 22/03/2010

Leveza e precisão “4 por 4”

Cia. Deborah Colker chega ao recife com espetáculo repaginado

No cenário da dança contemporânea nacional, nenhuma pessoa tem um nome tão expressivo quanto Deborah Colker. Primeira mulher no mundo a dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil, “O Ovo”, ela vive um momento profissionalmente pleno. Reconhecida não apenas por seu talento evidente como bailarina e coreógrafa, ela se destaca por sua inquietude constante e sua busca de novos espaços na dança. E, claro, a coreógrafa continua a tocar sua Cia. de Dança com a qual retomou a turnê do espetáculo “4 por 4”, concebido originalmente em 2002, e que volta ao Recife para apresentações amanhã e domingo, no teatro Guararapes.

“O espetáculo está afinadinho”, disse Deborah, em entrevista a Folha de Pernambuco, por telefone. A afinação, ao que parece, tem muito a ver com a maturidade dos bailarinos, e com algumas mudanças técnicas ( e cênicas), que aconteceram em função das apresentações no Lincoln Center, em Nova Iorque, em outubro do ano passado. “A tela de fundo é nova, e agora permite que os bailarinos entrem ainda mais na pintura. Também há mudanças de figurino, e na própria experiência dos 17 bailarinos em cena, que já não são os mesmos que eram há oito anos atrás”, explica.

“4 por 4” propõe um encontro entre as artes plásticas e a dança. No palco, os bailarinos interagem com trabalhos de Cildo Meireles, Chelpa Ferro, Victor Arruda e Gringo Cardia. Em alguns momentos, dançam por entre 90 vasos de cerâmica, num exercício de leveza e precisão, que põe em cheque os próprios limites. Além disso, cinco quadros compõe a cenografia.

Para tristeza dos fãs de Deborah - que participa do espetáculo tocando Mozart no piano (uma de suas múltiplas facetas) - ela adianta que não será possível estar no Recife junto com a companhia. “Em função do compromisso com o Cirque precisarei estar em Nova Iorque neste final de semana”, diz. A ausência, entretanto, por certo não deve tirar o brilho do espetáculo, que é considerado um dos mais plásticos da companhia.

Serviço

Cia de Dança Deborah Colker - Espetáculo 4 por 4

Teatro Guararapes - Centro de Convenções

Amanhã, às 20h, e Domingo às 21h

Ingressos:

Platéia R$ 70 inteira e R$35 estudante

Balcão R$ 50 inteira e R$ 25 estudante

Informações: 3182.8020

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 19/03/2010

Famílias marcam estreia da Paixão de Cristo do Recife

Apresentações gratuitas seguem até o Domingo de Páscoa

A noite de lua e o bom tempo foram propícios para dar início à 14ª temporada de apresentações da Paixão de Cristo do Recife. Na noite de ontem, José Pimentel e um elenco formado por cerca de 50 atores pernambucanos e mais 300 figurantes encenaram mais uma vez a história de amor e sofrimento de Jesus Cristo. Na Praça do Marco Zero, o que se pôde ver foram muitas famílias que levaram crianças de todas as idades para acompanhar o espetáculo. As apresentações, gratuitas, seguem até o Domingo de Páscoa, sempre às 20h.

A auxiliar de serviços gerais Célia da Silva assistiu ao espetáculo ao lado do marido e dos dois filhos, de 7 e 4 anos. “Já tinha trazido eles para assistir ao ‘Baile do Menino Deus’ e eles adoraram. Foram eles mesmos que pediram para vir novamente”, disse Célia, que é católica e acha o momento de celebração importante para fazer as crianças terem mais contato com a história de Jesus.

Um menino de 11 anos, que terá seu nome preservado, também estava acompanhando tudo atentamente - apesar de, entre uma cena e outra, aproveitar para vender alguns sacos de pipoca. “É bom porque dá para assistir e vender bem. O movimento sempre aumenta”, afirmou o garoto.

Para Antônio Araújo, a experiência se repete há algum tempo. Trabalhando como gari há 16 anos, Araújo disse que todos os anos faz questão de parar um pouquinho o trabalho para acompanhar as cenas que mais gosta. “A parte que mais me emociona é a morte de Cristo”, destacou. E esse é, de fato, o principal mérito da Paixão de Cristo do Recife: aproximar do teatro pessoas com poucas oportunidades de ter esse contato, através de uma história que tem um forte apelo popular.

PRODUÇÃO

Já no contexto cênico, a apresentação de ontem passou por dificuldades. Em algumas passagens, a direção de elenco pecou tanto na colocação dos atores, quanto dos figurantes. A exemplo do bacanal de Herodis, que, além de ter sido excessivamente logo, virou um grande amontoado de pessoas.

José Pimentel, que comemora, em 2010, 33 anos no papel de Jesus, também enfrentou alguns problemas técnicos na passagem da crucificação e no momento apoteótico da ressurreição. Neste último, aparentemente, o cabo que faz a suspensão do ator demorou a funcionar, quebrando um pouco o ritmo do espetáculo.

* A matéria foi publicada no caderno "Geral" da Folha de Pernambuco de 01/04/2010

Uma Paixão para o Recife

Em sua 14ª temporada, espetáculo marca os 33 anos de José Pimentel no papel de Cristo

Hoje, pela 14ª vez, o Marco Zero, no Recife Antigo, recebe a montagem da “Paixão de Cristo do Recife”. E a história, contada em três palcos, que se transformam em nove diferentes cenários, tem uma conotação diferente para o elenco, em especial para José Pimentel, que este ano comemora 33 anos interpretando Jesus. O espetáculo está diferente - diferenças facilmente percebidas para quem acompanha sua trajetória desde o início.

Pimentel, que além de atuar, assina a direção do espetáculo, diz que haverão novos efeitos de luz na passagem da ressurreição. “Mesmo a cena da ascensão - que já vem sendo bastante elogiada -, passou por reformulações para surpreender o público”, diz. E destaca como outro ponto forte do espetáculo, o envolvimento dos atores com os personagens, já que a maioria faz parte do elenco desde o início. A montagem, que surgiu como uma “alternativa” à “Paixão de Cristo de Nova Jerusalém”, deixou de lado o ar de improvisação.

Falando sobre as questões práticas, adereços e figurinos foram reformados e os efeitos cênicos estão mais significativos. Lilian Pimentel - filha de José Pimentel -, e Roberto Vasconcelos são os responsáveis pelas mudanças. Octávio Catanho, mais conhecido como Tibi, é o responsável pela cenografia dos palcos, que a cada ano precisam ser reforçados em função do forte vento no local.

Tempos melhores e recentes. No ano passado, em função de cortes nos recursos, o espetáculo fez apenas três apresentações, ao contrário das cinco habituais (este ano, as apresentações seguem até o próximo domingo, quando é comemorada a Páscoa). Mas de acordo com o diretor da Associação de Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), Paulo de Castro, que faz a produção do espetáculo, nessa temporada os recursos alcançados através de patrocínios e parcerias atingiram R$ 336 mil, quando o projeto geral estava orçado em R$ 450 mil. “Ainda assim conseguimos fechar as cinco apresentações”, disse o produtor. Gratuita, a encenação chama atenção do público, que responde ao empenho da produção em manter a agenda. “Mesmo com tantas opções as pessoas vão ao Marco Zero assistir a magia que transforma aquele local. Além da emoção da história, também é fundamental a localização, e o fato do espetáculo ser aberto a todos. A “Paixão do Recife” é importante porque é um espetáculo para família,de paz”, garante Paulo de Castro.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 31/03/2010

Paixão de Cristo está pronta para o público

Expectativa é receber sete mil espectadores diariamente


Tudo pronto para dar início a 43ª temporada do maior espetáculo ao ar livre do mundo. De hoje até o próximo dia 3 de abril, a cidade cenográfica de Nova Jerusalém, localizada no Brejo da Madre de Deus, Agreste pernambucano, receberá um público diário de aproximadamente sete mil pessoas para acompanhar a saga da Paixão de Cristo.

Na noite de ontem, em sessão especial para convidados e Imprensa, o elenco global formado por Eriberto Leão, Suzana Viera, Paulo César Grande e Mauro Mendonça mostrou que está afiado com história, fazendo uma apresentação praticamente impecável. A única exceção foi uma pequena falha no áudio durante a cena do Tribunal de Pilatos, mas que foi rapidamente solucionada.

Depois de tantas temporadas a “Paixão” está cada vez mais grandiosa. A cenografia é impecável, bem como os figurinos, que levam a marca incontestável de Xuruca Pacheco. A professora aposentada, Aglaiena Costa, ficou surpresa com a grandiosidade da montagem. “Não assistia ao espetáculo desde os tempos de (José) Pimentel. Estou achando tudo uma maravilha”, disse a Aglaiena, que assistiu a apresentação ao lado da irmã e da filha.

Outra preocupação da produção, pelo segundo ano consecutivo, diz respeito à acessibilidade. Para isso, a apresentação de hoje vai contar com um grupo de apoio que vai acompanhar cadeirantes, e grupos da melhor idade, auxiliando na locomoção entre os cenários. A cadeirante Maria Niedja acompanha o espetáculo há vários anos e aprovou a iniciativa. “A estrutura está cada vez melhor. O apoio nos dá mais segurança para percorrer as distâncias”, afirmou.

Voltando ao desempenho dos atores, Eriberto Leão, tinha como objetivo apresentar um Cristo mais “Guevariano”, entretanto sua atuação não pareceu tão revolucionária. Quem de fato roubou a cena, foi Suzana Viera, que longe de ser uma Maria contida, ganhou mais falas e a tietagem do público.

Durante a coletiva de Imprensa realizada após a apresentação, a atriz destacou que veio fazer uma Maria questionadora e revolucionária. “Quando cheguei no ensaio fiquei revoltada porque vi uma Maria apagada, escorada em João Batista e em Maria Madalena. Eu disse eu não, eu vou me estapiar com aqueles guardas. Eu sou Maria do Carmo, uma Maria pernambucana. É essa a Maria que fiz. Revolucionária e briguenta”, afirmou a atriz, que ainda está com algumas dificuldades em acertar o ritmo da dublagem do espetáculo.

* A matéria foi publicada no caderno "Geral" da Folha de Pernambuco de 26/03/2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nação Zumbi teve sua redenção

Foi tudo planejado para que fosse uma noite grandiosa. A prévia de um dos blocos mais irreverentes do carnaval pernambucano, o “Enquanto Isso na Sala da Justiça” (SJ), comemora 15 anos de folia e para celebrar a data, trouxe nomes de peso. A sambista carioca Mart’nália era a principal convidada, mas até a cantora deve ter reconhecido que a noite foi mesmo da Nação Zumbi.

Ainda era cedo quando a Orquestra do Homem da Meia Noite começou a arrastar os primeiros foliões fantasiados pelo pavilhão do Centro de Convenções, na noite do último sábado. Homens-Aranha, Wolverines e Super-homens se misturavam na multidão às fantasias mais inusitadas. Onde mais poderia acontecer um encontro de Axel Rose, Michael Jackson, Freddie Mercury e Slash?

Na sequência, a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e o maestro Forró fizeram todo mundo cair no frevo, com arranjos estilizados que misturam o ritmo com rock, valsa e até jazz. Ao lado do maestro, Fred 04 fez sua primeira aparição da noite (seriam três ao todo), cantando a música “Meu Esquema”, da mundo livre S/A.

Passava da meia noite quando Mart’nália subiu ao palco cantando “Don’t Worry, Be Happy”. Fantasiada de Zorro, a cantora bem que tentou entrar no clima da festa, mas acabou fazendo um show para um público de certa forma disperso, que só vibrou mesmo quando a carioca embalou clássicos do samba, de seu pai, Martinho da Vila, como “Ex Amor” e “Mulheres”. “Vou cantar umas lá de casa”, disparou a cantora, brincando.

Mas a apoteose do baile de debutante da SJ aconteceu mesmo com a entrada da Nação Zumbi. Depois de terem feito um show que frustrou a maioria dos fãs na gravação do DVD em comemoração aos 15 anos do “Da Lama ao Caos”, em dezembro, durante a Feira Música Brasil, a Nação parece ter tido a chance de sua redenção. Fizeram um show com o peso nas alfaias que a ocasião merecia.

Bastou Jorge Du Peixe soltar “Modernizar o passado, é uma evolução musical”, para a multidão se espremer diante do palco. “Banditismo por uma questão de classe” foi só o prelúdio do que estava por vir. A Nação fez um show consistente e tecnicamente perfeito.

Dessa vez, os convidados BNegão e Fred 04 deram ainda mais peso às interpretações de “Samba Makossa” e “Da Lama ao Caos”, “Maracatu de Tiro Certeiro” e “Antene-se”. Mesmo com a ausência sentida de “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada” no set list, ouvir “Risoflora” fez os fãs lavarem a alma. Para quem ainda teve fôlego, o Original Olinda Style da banda Eddie encerrou a festa.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 08/02/2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Projeto Lo-Fi é música boa e feita em casa

Coletânea virtual “Recife Lo-Fi” será lançada amanhã, às 22h, no bar Quintal do Lima

Pare e pense no que é preciso para se fazer música de qualidade. Certamente, a resposta mais frequente é: Talento! E esse elemento é, por certo, um dos pontos de interseção entre os artistas que estão reunidos na coletânea virtual “Recife Lo-Fi”, que será lançada amanhã, às 22h, no bar Quintal do Lima. O outro ponto de interseção, que levou o músico Zeca Viana (baterista da Volver) a juntar essa galera, é o fato de todos eles terem gravado suas músicas em estilo lo-fi, em casa, com celular, ou no home estúdio de amigos.

“Passando uma temporada em São Paulo com a Volver, sempre me perguntavam o que havia de novo na cena musical de Pernambuco. Eu acabava indicando um ou outro, e acabei percebendo que muitas bandas tinham trabalhos gravados em casa, e algumas até, nunca tinham feito shows”, disse Zeca, que idealizou o projeto com o intuito de dar vazão e visibilidade ao que está sendo produzido por esses novos artistas.

Ao projeto, juntaram-se parceiros de peso, como Recife Rock, Coquetel Molotov, a revista O Grito, a paulista Agência Alavanca, e a gravadora Trama Virtual, que se encarregou do lançamento nacional da coletânea, disponibilizando ainda a compilação para download no site (www. tramavirtual.com. br).

Ao todo, a coletânea reúne 21 composições de bandas - e também de artistas solo - da nova cena musical pernambucana. Entre os nomes escolhidos, alguns já conhecidos do grande público como o rock de “Johnny Hooker & Candeias Rock City”, que se apresentou no Abril pro Rock do ano passado, e o som eletrônico da banda “Julia Says”, que entre outros, passou pelo palco do Rec Beat. “ Procuramos fazer um mix de diferentes estilos, e também de gente que já faz shows, com quem nunca se apresentou para o grande público” frisou Zeca.

Gente como a jovem Lina Jamir, que assina a faixa sete da coletânea intitulada “Terra Gira”. Misturando música eletrônica com MPB, a garota é uma das apostas do projeto.

Além do site da Trama Virtual, as músicas selecionadas também estão no blog do projeto (recifelofi.blogspot.com), que além de disponibilizar os links para download, também traz depoimentos dos artistas relatando como foi a experiência de gravação de suas composições em estúdios caseiros.De acordo com o baterista, o grupo já trabalha na seleção de artistas para uma segunda coletânea que deverá ser lançada no segundo semestre. Os interessados em participar podem encaminhar seus trabalhos para o e-mail descrito no blog e aguardar a nova seleção.

Para a festa de amanhã foram escolhidos quatro nomes que compõem a coletânea para as apresentações. Gleisson Jones, Julia Says, Ex exus, e o próprio Zeca Viana, que apresenta seu trabalho solo. Além de discotecagem de Vivi Menezes, Mucuri, D Mingus e Jarmeson de Lima.

Serviço

Lançamento Coletânea Recife Lo-Fi

Amanhã (5), às 22h

Bar Quintal do Lima

Ingressos: R$5

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 04/02/2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A supremacia de um bom texto

Há tempos andava meio cética em relação ao riso. Em tempos de “stand ups” e o sucesso da comédia pastelão esvaída de sentido, é comum ver no teatro uma plateia que se obriga a rir porque pagou ingresso para isso. É um riso nervoso e quase que forçado, eu diria. Na última sexta-feira (29), na primeira das duas apresentações do espetáculo “O Púlcaro Búlgaro” (encerrando a programação do 16º Janeiro de Grandes Espetáculos), o que se viu foi exatamente o oposto: uma plateia totalmente imersa no jogo de palavras sedutor e redundante feito pelo atores em cena.

A montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho, a partir da adaptação do romance hormônio do autor mineiro Walter Campos de Carvalho, tem o tom exato para fazer rir da forma mais inteligente. Saem as firulas, e as piadas óbvias e preconceituosas - ainda que por ventura, alguém possa não ter gostado da cena em que o personagem Hilário é assaltado sorrateiramente por um Nordestino que encontrou casualmente em Copacabana - e prevalece o raciocínio intricado, que para contar uma história absurda, usa referências históricas reais.

Estruturada como se cada ator fosse narrador de suas próprias personagens, o espetáculo apresenta ao público as anotações do diário de Hilário, um homem que resolve organizar uma expedição para verificar se a Bulgária de fato existe. Depois de publicar um anúncio no jornal convocando expedicionários, juntam-se a ele os tipos mais estranhos e bizarros.

Os atores Ana Barroso, Cândido Damm, Gillray Coutinho, Isio Ghelman e José Mauro Brant fazem um verdadeiro, e brilhante, rodízio de personagens. Com destaque digno de registro para interpretação impagável Gillray Coutinho, como um professor de bugarologia e bugarosofia, que tem um gato na mão.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 01/02/2010

No ritmo da beleza

Dançar é uma boa opção para queimar as gordurinhas

Verão, férias, Carnaval... Os motivos são muitos para querer garantir a boa forma. Mas cá entre nós, é bem verdade que muitas vezes bate aquela preguicinha de encarar a academia. Para muitas pessoas, a rotina aeróbica não pode ser definida como atrativa. Pensando nisso, muitas academias encontraram na dança uma forma de fidelizar um público diferenciado, além de diversificar o quadro de opções oferecidas. Atividade aeróbica de alta eficácia, o exercício conquistou adeptos de variadas idades em muitas academias da Cidade.

Os ritmos são os mais diversos: forró, axé e funk encabeçam a lista dos mais pedidos. Mas nesta época do ano, a procura por ritmos pernambucanos costuma aumentar bastante. “Perto do Carnaval, as pessoas querem aprender maracatu, frevo, caboclinho para fazer bonito”, diz o professor Sílvio Mangueira, que atualmente dá aula para três turmas - média de 30 alunos, cada. A modalidade de aulas chamada de aerodance, ou aeropop, já é uma verdadeira febre entre os alunos que querem perder peso de uma forma mais divertida.

“A aula tem duração de um hora e, como os ritmos são bastante fortes e acelerados - característica que configura a atividade aeróbica - ajudam muito na perda de peso. Dependendo do metabolismo de cada pessoa, pode-se perder em média de 400 a 600 calorias por aula”, explica o professor.

A dança ainda traz outras vantagens. Além de ser excelente na queima das gordurinhas, é uma forma lúdica de se praticar atividade física. Sem contar que não tem nenhuma contra-indicação. “Qualquer tipo de pessoa pode acompanhar a aula. De jovem a pessoas mais idosas, o objetivo é se divertir. Tenho alunas que costumam falar que eu sou o terapeuta delas. Para quem vive estressado com trabalho, essa é a melhor forma de extravasar”, brinca Sílvio.

As aulas são todas coreografadas com as músicas “do momento”. A comerciante Josilene Francisca é adepta da modalidade há quase 10 anos e ao longo desse tempo conquistou excelentes resultados. “Cheguei a perder 10 quilos apenas com a dança. Somente agora que comecei a conciliar a dança com a musculação. Gosto da dança porque ao mesmo tempo que você malha, você também se diverte”, explica Josilene.

A paixão é tanta que a comerciante acompanha o professor aonde ele for. E além de ser fiel ao mentor, ainda leva as amigas para aprender os passos na malhação. “Já levei quatro amigas para as aulas. Geralmente no começo é difícil até a pessoa conseguir aprender os passos e acompanhar tudo. Tem que gostar de dançar. Mas depois é legal porque usamos as coreografias nas saídas a noite. A gente tem um grupinho e normalmente sempre me pedem para puxar um passo”.


Serviço
Hi Academia
Fones: 3269 2206 / 3341 2938/ 3442 6402

www.hiacademia.com.br


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 31/01/2010

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Vale tudo pela arte?

Atores exploram os limites do próprio corpo em “Meu Grito de Dor”

O dramaturgo francês Antonin Artaud além de ter feito carreira na Literatura e nos palcos, ficou conhecido mundialmente como louco. Tendo passado por diversos manicômios franceses, Artaud tinha uma forma diferente de pensar a Arte e o Teatro, chegando a desenvolver, inclusive, a teoria do “Teatro da Crueldade”, na qual a distância entre ator e plateia deixa de existir e todos fazem parte de um mesmo processo. Foi com base no pensamento de Artaud, que os intérpretes Gessé Rosa e Jefferson Cirino criaram o espetáculo “Meu Grito de Dor”, que faz hoje única apresentação, às 20h, no teatro Armazém, dentro da programação do 16° Janeiro de Grandes Espetáculos.

O espetáculo fez sua estreia oficial há pouco mais de um mês, em Ipatinga, em Minas Gerais. Cidade da qual pertence o Coletivo Dois Contemporâneo, do qual fazem parte os artistas. “Essa será nossa primeira apresentação fora de Minas. A montagem ainda é muito recente. Estamos ansiosos”, destaca Gessé, que é pernambucano, e durante muito tempo fez parte do Núcleo de Formação em Dança, do Grupo Experimental. Por causa de sua carreira nos palcos, Gessé já vive há dois anos em Minas Gerais.

Em “Meu Grito de Dor” o que causa mais impacto e estranheza por parte do público é o sofrimento físico e mental do qual padecem os dois intérpretes em cena. “As pessoas têm saído do espetáculo meio assustadas. Em cena tentamos mostrar não apenas a crueldade, mas sim a experiência do ‘não fingir’ o fazer artístico. Se é para sentir dor não vamos fingir. Vamos sentir de fato” explica Gessé.

No palco, ofensas à Bíblia, nudez, sadomasoquismo, tortura e violência - como furar o outro com uma seringa ou forçar o colega a levantar-se pelo queixo - são algumas das cenas protagonizadas. “Saímos exaustos. Para a gente, tanto quanto para o público, também é uma encenação bastante chocante. É a primeira vez que desenvolvemos algo dessa forma mais intensa. É super difícil fazer, pensar e levar para o público. Essa montagem mudou muito nossa forma de pensar e de construir teatro”, observa o ator.

O espetáculo conta ainda com uma trilha feita ao vivo pelo músico Natanael Mariano. Os ingressos custam R$ 5 (preço único promocional) e a censura é de 18 anos.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 26/01/2010