sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Vale tudo pela arte?

Atores exploram os limites do próprio corpo em “Meu Grito de Dor”

O dramaturgo francês Antonin Artaud além de ter feito carreira na Literatura e nos palcos, ficou conhecido mundialmente como louco. Tendo passado por diversos manicômios franceses, Artaud tinha uma forma diferente de pensar a Arte e o Teatro, chegando a desenvolver, inclusive, a teoria do “Teatro da Crueldade”, na qual a distância entre ator e plateia deixa de existir e todos fazem parte de um mesmo processo. Foi com base no pensamento de Artaud, que os intérpretes Gessé Rosa e Jefferson Cirino criaram o espetáculo “Meu Grito de Dor”, que faz hoje única apresentação, às 20h, no teatro Armazém, dentro da programação do 16° Janeiro de Grandes Espetáculos.

O espetáculo fez sua estreia oficial há pouco mais de um mês, em Ipatinga, em Minas Gerais. Cidade da qual pertence o Coletivo Dois Contemporâneo, do qual fazem parte os artistas. “Essa será nossa primeira apresentação fora de Minas. A montagem ainda é muito recente. Estamos ansiosos”, destaca Gessé, que é pernambucano, e durante muito tempo fez parte do Núcleo de Formação em Dança, do Grupo Experimental. Por causa de sua carreira nos palcos, Gessé já vive há dois anos em Minas Gerais.

Em “Meu Grito de Dor” o que causa mais impacto e estranheza por parte do público é o sofrimento físico e mental do qual padecem os dois intérpretes em cena. “As pessoas têm saído do espetáculo meio assustadas. Em cena tentamos mostrar não apenas a crueldade, mas sim a experiência do ‘não fingir’ o fazer artístico. Se é para sentir dor não vamos fingir. Vamos sentir de fato” explica Gessé.

No palco, ofensas à Bíblia, nudez, sadomasoquismo, tortura e violência - como furar o outro com uma seringa ou forçar o colega a levantar-se pelo queixo - são algumas das cenas protagonizadas. “Saímos exaustos. Para a gente, tanto quanto para o público, também é uma encenação bastante chocante. É a primeira vez que desenvolvemos algo dessa forma mais intensa. É super difícil fazer, pensar e levar para o público. Essa montagem mudou muito nossa forma de pensar e de construir teatro”, observa o ator.

O espetáculo conta ainda com uma trilha feita ao vivo pelo músico Natanael Mariano. Os ingressos custam R$ 5 (preço único promocional) e a censura é de 18 anos.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 26/01/2010

Três amigos e as Artes Cênicas em comum

Irandhir, Jorge e Kleber querem mudar a forma de pensar o teatro

Eles se conhecem há mais de uma década. Em 1998 os três ingressaram na universidade e engataram uma amizade. Todos no curso de Artes Cênicas. Surgia ali uma vontade latente de fazer um trabalho conjunto. Como a vida segue seu curso, as montagens com a participação dos três amigos ficaram restritas ao universo acadêmico. E, cada um a seu tempo, concluiu a graduação e seguiu carreira pelos palcos afora.

A reaproximação dos amigos Kléber Lourenço, Jorge de Paula e Irandhir Santos só foi possível há cerca de dois anos, quando criaram o Visível Núcleo de Criação. O grupo já nasceu com o objetivo de fazer diferente. Como carro-chefe para esse desafio, os atores começaram a desenvolver a dramaturgia de um espetáculo intitulado “Daquilo que Move o Mundo”. O nome não poderia ser melhor para exemplificar as aspirações dos três atores. “Queremos investigar as relações das pessoas com a Cidade. Com a urbanidade. Intervir diretamente com a população”, explica Kléber.

Para tal, os atores mergulharam num processo de pesquisa e de composição de seus personagens. Lula (Kléber Lourenço), Corre-rios (Jorge de Paula) e Combogó (Irandhir Santos) começaram a ganhar forma e então a conduzir a história. O dramaturgo Felipe Botelho, além dos diretores Francisco Medeiros e Tiche Vianna completam o time e colaboram constantemente - a distância, pois ambos moram em São Paulo - com trabalho de pesquisa que o Visível tem desenvolvido. “Em setembro do ano passado, os diretores vieram ao Recife, e tivemos a oportunidade de apresentar esses personagens para a Tiche e o Chico. Com isso, eles puderam nos dar novos encaminhamentos para pesquisa. É um processo que exige tempo”, disse Jorge.

Do Rio de Janeiro, em entrevista por telefone, - onde grava o longa “Tropa de Elite 2” - Irandhir fez questão de destacar a importância do projeto e o porquê do seu envolvimento. “Essa é a oportunidade que venho esperando há quatro anos para fazer o meu retorno ao teatro. Esse tempo pesa bastante e sinto muita falta dos palcos. Se existe algo que me move nesse projeto é a história, e o fato de poder trabalhar com meus amigos”, destacou o ator que nos últimos anos tem se dedicado com mais frequência ao cinema.

Este, diga-se de passagem, é um dos motivos que tem estendido o cronograma de estreia do espetáculo. “O grupo é sobretudo um grupo de amizade. Isso nos ajuda a conseguir conciliar o fato dos três terem carreiras individuais bem consolidadas. Trabalhamos juntos porque acreditamos no projeto e queremos tornar o Visível um grupo de estudo permanente das artes cênicas. É um desejo comum”, afirma Kléber.

Como o projeto vai muito além do que será visto nos palcos - o grupo também idealiza intervenções urbanas que vão oferecer residência artística e oficinas em algum ponto do Recife, de maneira que a população seja diretamente envolvida no processo de desenvolvimento do espetáculo. Existem também outros entraves. A falta de recursos é outro aspecto que tem sido um limitador. “Para não ficarmos reféns dos editais, queremos nesse primeiro semestre partir também para a captação de recursos privados. Mas sem dúvida alguma, 2010 é o ano do ‘Daquilo que Move o Mundo’ acontecer”, sentencia Kléber.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 25/01/2010

A hora e a vez dos “naturebas”

Os chamados “produtos do bem” utilizam ativos vegetais e não fazem teste em animais, mas qual será a diferença no final?

Em um mundo cada vez mais preo­cu­pa­do com cons­ciên­cia am­bien­tal, nem mes­mo os cos­mé­ti­cos es­ca­pam da mis­são ati­vis­ta de ser um “po­li­ti­ca­men­te cor­re­to”. Consumi­doras se­den­tas por no­vi­da­des, pro­cu­ram pro­du­tos que além de tra­ze­rem be­ne­fí­cio para be­le­za, sejam tam­bém na­tu­rais, res­pei­tem o meio am­bien­te, e que sejam pro­du­zi­dos por em­pre­sas socio, e eco­lo­gi­ca­men­te, res­pon­sá­veis.

No mer­ca­do, as op­ções são mui­tas. As mar­cas in­ves­tem no filão. Natura, Granado, Phytoervas, The Body Shop, são exem­plos que re­no­vam a cada ano suas li­nhas de pro­du­tos, sem­pre com base em ati­vos mi­ne­rais, ou ve­ge­tais. Além disso, a forma como esses agen­tes serão ex­traí­das da na­tu­re­za tam­bém são uma preo­cu­pa­ção cons­tan­te.

A “The Body Shop” - em­pre­sa in­gle­sa fun­da­da por Anita Roddick - foi uma das pri­mei­ras mar­cas a apre­sen­tar ao mundo o con­cei­to de cos­mé­ti­co na­tu­ral. Na prá­ti­ca, porém, os cos­mé­ti­cos se­guem a linha das mar­cas tra­di­cio­nais, com uma pi­ta­da de in­gre­dien­te na­tu­ral ape­nas para cons­tar no ró­tu­lo. Entre­tanto a em­pre­sa man­tém até hoje uma forte mi­li­tân­cia pela de­fe­sa dos ani­mais, bem co­mo pelas cau­sas so­ciais e am­bien­tais

Nacional, a Natura pos­sui uma linha de ma­quia­gem que subs­ti­tui in­su­mos tra­di­cio­nais de ori­gem mi­ne­ral, pelos ve­ge­tais, uti­li­zan­do fon­tes re­no­vá­veis de ma­té­rias-pri­mas e con­tri­buin­do para a re­du­ção do im­pac­to pro­du­tos no meio am­bien­te. Além disso, a em­pre­sa tra­ba­lha com uma po­lí­ti­ca de pro­du­tos com refis, ati­tu­de que di­mi­nui o con­su­mo de re­cur­sos na­tu­rais na pro­du­ção de em­ba­la­gens e con­tri­bui com o con­cei­to eco­lo­gi­ca­men­te sus­ten­tá­vel dos 3Rs - re­du­ção, reu­ti­li­za­ção e re­ci­cla­gem. Além de ser uma opção mais eco­nô­mi­ca, o refil con­so­me em média 20% menos re­cur­sos na­tu­rais do que a em­ba­la­gem re­gu­lar.

Porém, dian­te de tan­tas pro­mes­sas e atua­ções en­ga­ja­das. A es­co­lha dos cos­mé­ti­cos, deve sem­pre ser am­pa­ra­da na opi­nião de pro­fis­sio­nais. A es­pe­cia­lis­ta em me­di­ci­na es­té­ti­ca, Juliana Erthal, faz um aler­ta. “O cui­da­do das pes­soas não tem que estar ape­nas li­ga­do ao fato do pro­du­to ter uma subs­tân­cia de ori­gem ve­ge­tal, ou não. Esse as­pec­to não sig­ni­fi­ca que ela é to­tal­men­te na­tu­ral. É im­por­tan­te lem­brar que o pro­du­to pas­sou por um pro­ces­so de in­dus­tria­li­za­ção. Algumas pes­soas podem ter uma ideia equi­vo­ca­da a esse res­pei­to.

Juliana afir­ma que al­gu­mas subs­tân­cias de ori­gem ve­ge­tal, de fato têm ação com­pro­va­da. Como o caso dos óleos de se­men­te de uva, que é muito uti­li­za­do em pro­du­tos para a hi­dra­ta­ção da pele. As­sim como a an­di­ro­ba, o cu­pua­çu e ou­tras ati­vos re­ti­ra­dos da Amazônia. “É im­por­tan­te saber que pelo fato do pro­du­to ser na­tu­ral, ele não possa cau­sar ir­ri­ta­ção ou rea­ção alér­gi­ca. Uma de­ter­mi­na­da “subs­tân­cia X”, pode ser na­tu­ral, e por con­ta da for­mu­la­ção, ou da ma­ni­pu­la­ção, cau­sar algum tipo de rea­ção”, com­ple­ta a mé­di­ca.

Para não cor­rer ris­cos, o ideal é que antes de usar qual­quer tipo de cos­mé­ti­co, cre­me ou pro­du­to de be­le­za, seja ele na­tu­re­bas, ou não, a pes­soa deve sem­pre pro­cu­rar um mé­di­co es­pe­cia­lis­ta em der­ma­to­lo­gia e me­di­ci­na es­té­ti­ca, para que esse pro­fis­sio­nal possa ava­liar o tipo de pro­du­to mais ade­qua­do para cada de­ter­mi­na­do tipo de pele. “Os pro­du­tos das cha­ma­das li­nhas de cos­mé­ti­cos podem ser uti­li­za­dos. Porém, eles não estão em­ba­sa­dos em pes­qui­sas cien­ti­fi­ca­men­te com­pro­va­das. Por isso, na maio­ria das vezes, essas não são as pri­mei­ras es­co­lhas dos mé­di­cos”.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 24/01/2010

A morte segundo Abujamra

Controverso e dono de um humor ácido, Antônio Abujamra não é o que pode-se chamar de artista carismático. Entretanto, seu talento cênico, como diretor e ator - são quase 58 anos de palcos -, é incontestável. Longe dos palcos recifenses desde agosto de 2008, quando encenou seu monólogo, “A voz do provocador” - inspirado no programa de TV “Provocações”, que vai ao ar pela TV Cultura -, ele volta a Cidade, agora com o espetáculo “Começar a Terminar”, da Companhia Anjos Pornográficos.

A montagem é uma das principais atrações de final de semana da programação do 16° Janeiro de Grandes Espetáculos, com apresentações amanhã e domingo, às 20h30, no teatro Barreto Júnior. As sessões terão entrada franca e os ingressos estarão serão distribuídos com 1h de antecedência, ficando sujeitos a lotação do teatro.

Em um palco escuro, sob duas grandes lâmpadas, um homem solitário compartilha suas inquietações. As palavras de diversos personagens do dramaturgo Samuel Beckett estão presentes nos textos de diferentes origens e épocas são unânimes na temática: morte e iminência do fim. O texto “Começar...”, assinado por Abujamra, teve como inspiração na do autor irlandês, que curiosamente nunca foi um dos mais admirados pelo ator. Conhecidamente um partidário convicto do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Abujamra divide a direção do espetáculo com Hugo Rodas e o palco com os atores Miguel Hernandez e Nathália Corrêa.

Vale a pena

Duas montagens pernambucanas que cumpriram temporada em 2009 também são destaque na programação do final de semana. A primeira delas é “A Dona da História”, da Trup Errante & Pé Nu Palco Grupo de Teatro. O espetáculo é uma comédia-romântica, na qual duas atrizes vivem uma mesma mulher - uma no passado, outra no futuro. O texto, de João Falcão, foi sucesso nos palcos com a interpretação de Marieta Severo e Andréa Beltrão e ganhou uma adaptação para o cinema, sob direção de Daniel Filho. Agora, o espetáculo é encenado pelas atrizes Cátia Cardoso & Raphaela de Paula, e direção de Thom Galiano.

Outras atrações

Chuva de Caju - Hoje, às 21h, no teatro de Santa Isabel - Ingressos R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)

II Trasporto Umano - Amanhã, às 17h, no teatro Apolo - Ingressos R$ 10 (preço único)

O Encontro de Capiba e Nelson Ferreira no Céu - Amanhã, às 20h, teatro de Santa Isabel - Ingressos R$ 30 e R$ 15

Entre - Amanhã, às 21h, no teatro Marco Camarotti - Ingressos R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)

Sobre Um Paroquiano - Domingo, às 19h, no teatro Hermilo Borba Filho - Ingressos R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia-entrada)

Por Um Fio Em Lã - Domingo, às 20h30, no teatro Apolo - Ingressos R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia-entrada)

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 22/01/2010

Freddy Krueger é pesadelo no universo da dança

É muito comum encontram espetáculos com nomes inusitados, mas talvez a montagem intitulada “Não Me Fales de Freddy Krueger” seja, por hora, uma das mais curiosas. O solo de dança contemporânea, que tomou como base para o processo criativo os sonhos da bailarina Andrea Anhaia, faz única apresentação hoje, às 19h, no teatro de Santa Isabel, dentro da programação do 16° Janeiro de Grandes Espetáculos.

Em cena, Anhaia apresenta uma viagem coreográfica entre a força pungente do sonhar e o acordar. O nome pouco comum para um espetáculo de dança foi sugestão do diretor, Asier Zabaleta, que trabalhou no processo de montagem junto com a bailarina. “Ele sugeriu esse nome porque achou interessante o fato de uma mulher adulta ter vários medos, inclusive esse, que é uma bobagem tão grande”, disse Anhaia referindo-se ao clássico personagem de “A Hora do Pesadelo” - referência do gênero de terror na década de 1980. “Também existe uma relação dos sonhos, e pesadelos, com a minha vida. Eu realmente tive todos os sonhos que estão no espetáculo”, completa.

A montagem costura momentos de dança, de texto, e de projeções que ao mesmo tempo em que se justificam, também se completam. Andrea Anhaia é pernambucana, radicada em Minas Gerais, e bailarina do Movasse - Coletivo de Criação. Os ingressos custam R$10 (preço promocional para todos).

Shakespeare

Também hoje, às 20h30, no teatro Barreto Júnior, a Companhia do Ator Nú faz única apresentação com o espetáculo “Encruzilhada Hamlet”. Na montagem, o jovem príncipe Hamlet, e seu coveiro, removem a cova onde foram enterrados há cinco séculos e ressurgem para um duelo de classes, de opostos e de sonhos. No elenco, Edjalma Freitas e Henrique Ponzi dão vida aos personagens dessa interessante montagem, levemente inspirada da obra Shakespeare. Os ingressos custam R$10 (inteira) e R$5 (meia-entrada). Veja a programação completa do 16° Janeiro de Grandes Espetáculo na Folha Digital.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 19/01/2010

Uma Nova Jerusalém cada vez mais Projac

A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é mega. E não é só uma questão de espaço físico. Surpreendendo e reinventando-se, o espetáculo chega a sua 43ª edição - a temporada deste ano começa em 26 de março e vai até o dia 3 de abril - com novidades. Entre as principais, falando cenograficamente, o Templo ganha piras que vão ordenar a passagem durante toda cena, além de queimadores de incenso que perfumarão o local com objetivo de reforçar ainda mais o clima de religiosidade. Mudanças também no cenário da Via Sacra, que mudará de local, deixando a visibilidade do público mais ampla e também facilitando o deslocamento entre os palcos.

Mas a festa que já toma conta da cidade cenográfica, localizada em Fazenda Nova, no Agreste pernambucano, não é resultado apenas da expectativa em assistir à montagem, conhecida como a maior da terra, que narra a história de Jesus Cristo. Os atores há muito tempo deixaram de apenas participar do espetáculo para ser o próprio. Principalmente os globais. Tanto que desde domingo, quando Eriberto Leão, escalado para viver o papel principal, e Suzana Vieira, que será Maria, chegaram ao lugar para gravar os primeiros VTs promocionais, o clima mudou. Ficou mais agitado. Uma prévia dos gritos e flashes já costumeiros das fãs enlouquecidas em ver mais um Cristo em trajes mínimos.

Eriberto Leão viverá Jesus pela segunda vez em sua carreira. O ator interpretou o personagem em 2005. “Se tivesse agenda compatível, e eles me quisessem, sempre participaria do espetáculo. Mais vezes do que o Pimentel”, brincou o ator, referindo-se a José Pimentel - primeiro protagonista do espetáculo - no início da coletiva da imprensa realizada na tarde de ontem, na cidade-teatro.

De volta ao papel do filho de Deus, Eriberto fez questão de ressaltar que vive um Cristo “Guevariano”, destacando que um verdadeiro revolucionário é aquele movido por amor. “Foi assim com o Cristo”, disse. O ator retorna ao papel, coincidentemente, depois de ter vivido na TV o personagem Zeca - filho do Diabo - na novela “Paraíso”, da Rede Globo. Para ele, a sucessão de acontecimentos tem relação. “Quando o Zeca reverenciava Nossa Senhora, ele reverenciava a mãe terra. Essa mãe é Maria. Muitas pessoas lêem a Bíblia, mas não têm a compreensão de respeito à terra e à vida. Aqui sinto que posso falar sobre isso. Essa é a mensagem a ser passada”, frisou Eriberto.

Depois de ter recebido vários convites para viver Maria Madalena, mas nunca ter conseguido conciliar a temporada do espetáculo com suas gravações em novelas, Suzana Vieira finalmente vem à Nova Jerusalém com um personagem ainda maior, o da mãe de Jesus. “Essa experiência é algo muito diferente para mim como atriz. Estou muito feliz por terem lembrado de mim”, brincou a atriz, lembrando que sua mãe tinha muita vontade de assistir ao espetáculo, mas faleceu antes de conseguir realizar o sonho.

Completando o elenco principal, a atriz Dig Dutra (a Maria Abadia do Zorra Total) viverá Maria Madalena e Mauro Mendonça interpretará o rei Herodes. Em cena, junto com eles um elenco total de 60 atores e mais 500 figurantes, ajudam a compor a atmosfera fascinante que envolve a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

“ O Grande Inquisidor” para um grande janeiro

Leitura dramática dá início à programação do Festival que vai até o dia 31

Era para ser apenas uma forma de movimentar a pauta teatral da Cidade em um mês “morto” para as artes cênicas.Mas o projeto que surgiu de maneira tímida e discreta, acabou tornando-se um dos principais festivais de teatro do Recife, e fazendo com que o mês de janeiro passasse a ser o mês de maior relevância entre os profissionais envolvidos com o setor. Chegando a sua 16ªedição, o Janeiro de Grandes Espetáculo atingiu a sua maturidade, e pode-se dizer que agora começa a se aventurar em novos voos. A exemplo do espetáculo escolhido para a abertura do evento, que acontece hoje (6), às 20h, no teatro de Santa Isabel.

Fugindo das escolhas mais óbvias, a leitura dramática “ O Grande Inquisidor” terá a responsabilidade, e a honra, de dar início a programação do Festival. O texto retirado da obra “Os Irmãos Karamazov”, de Fédor Dostoievski, relata a volta de Jesus Cristo à Sevilha do século XVI. Em sua chegada, Jesus é aclamado por uma multidão em delírio e, neste exato momento, o Inquisidor, que por ali passava, fica ressentido e manda prendê-lo. À noite, vai visitá-lo em sua cela e o repreende por sua volta, já que esta perturbou profundamente a Igreja.

O texto foi escolhido depois de uma visita do produtor, Paulo de Castro, ao “Porto Alegre em Cena” de 2007, no qual a montagem foi apresentada. “Deixei o teatro com a certeza de que queria montar o texto, já tinha até em mente os nomes que queria comigo” disse o produtor referindo-se a José Mário Austregésilo, que assina a direção, e Germano Haiut, como intérprete. A escolha dos nomes também foi bastante ousada, uma vez que tanto Austragésilo quanto Haiut já estavam afastados da cena teatral há algum tempo.

“Como todos os anos o Janeiro tem uma programação de espetáculos que atendem todos os gostos. Fazemos questão de contemplar todos os gêneros. Desde o drama, passando pela comédia, infantis, dança e até mesmo convidados com textos de outros países”, destacou Paulo de Castro. Que ainda completou. “ O diferencial é que esse ano fizemos questão de dar ênfase ao texto e à interpretação do ator, que são a verdadeira essência do teatro. Por isso, resgatamos as leituras dramáticas. Há muito não se via o gênero em grandes Festivais”.

Está será a estreia de “O Grande Inquisidor” nos palcos recifenses. Fato que motivou ainda mais a escolha. “Sempre tentamos dar preferência as produções locais na abertura do Festival. Além disso, o texto de Dostoievski também é pouco visto nos palcos. Queremos fazer um resgate do gênero”, afirmou. Para cumprir tal façanha, a programação contempla ainda a leitura dramática de três clássicos da tragédia grega: “Antígona”, “Prometeu Acorrentado” e “As Troianas”.

Homenagem

Nesta edição, o Janeiro de Grandes Espetáculos presta homenagem aos 160 anos do Teatro de Santa Isabel e ao teatrólogo Joacir Castro, que, no início da década de 1960, foi um dos fundadores do Teatro de Cultura Popular (TCP), uma das ações do Movimento de Cultura Popular (MCP), extinto pelo Golpe Militar, e integrou o elenco do Teatro Popular do Nordeste (TPN), participando de peças memoráveis como “O Inspetor”, “O Cabo Fanfarrão” (ambas em 1966), “O Santo Inquérito” e “Antígona” (as duas últimas em 1967).

Curiosidades Paulo de Castro

A primeira edição do Festival foi montada com R$500 e ninguém da equipe recebeu cachê para participar

Janeiro foi escolhido porque era mês de férias e não havia programação teatral na cidade

Desde o início o festival foi pensado para ser um evento dirigido à própria classe teatral

Tanto os espetáculos da programação, quanto os membros do júri, são escolhidos por atores, diretores e produtores de teatro da cena local.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 06/01/2010