Leitura dramática dá início à programação do Festival que vai até o dia 31 Era para ser apenas uma forma de movimentar a pauta teatral da Cidade em um mês “morto” para as artes cênicas.Mas o projeto que surgiu de maneira tímida e discreta, acabou tornando-se um dos principais festivais de teatro do Recife, e fazendo com que o mês de janeiro passasse a ser o mês de maior relevância entre os profissionais envolvidos com o setor. Chegando a sua 16ªedição, o Janeiro de Grandes Espetáculo atingiu a sua maturidade, e pode-se dizer que agora começa a se aventurar em novos voos. A exemplo do espetáculo escolhido para a abertura do evento, que acontece hoje (6), às 20h, no teatro de Santa Isabel.
Fugindo das escolhas mais óbvias, a leitura dramática “ O Grande Inquisidor” terá a responsabilidade, e a honra, de dar início a programação do Festival. O texto retirado da obra “Os Irmãos Karamazov”, de Fédor Dostoievski, relata a volta de Jesus Cristo à Sevilha do século XVI. Em sua chegada, Jesus é aclamado por uma multidão em delírio e, neste exato momento, o Inquisidor, que por ali passava, fica ressentido e manda prendê-lo. À noite, vai visitá-lo em sua cela e o repreende por sua volta, já que esta perturbou profundamente a Igreja.
O texto foi escolhido depois de uma visita do produtor, Paulo de Castro, ao “Porto Alegre em Cena” de 2007, no qual a montagem foi apresentada. “Deixei o teatro com a certeza de que queria montar o texto, já tinha até em mente os nomes que queria comigo” disse o produtor referindo-se a José Mário Austregésilo, que assina a direção, e Germano Haiut, como intérprete. A escolha dos nomes também foi bastante ousada, uma vez que tanto Austragésilo quanto Haiut já estavam afastados da cena teatral há algum tempo.
“Como todos os anos o Janeiro tem uma programação de espetáculos que atendem todos os gostos. Fazemos questão de contemplar todos os gêneros. Desde o drama, passando pela comédia, infantis, dança e até mesmo convidados com textos de outros países”, destacou Paulo de Castro. Que ainda completou. “ O diferencial é que esse ano fizemos questão de dar ênfase ao texto e à interpretação do ator, que são a verdadeira essência do teatro. Por isso, resgatamos as leituras dramáticas. Há muito não se via o gênero em grandes Festivais”.
Está será a estreia de “O Grande Inquisidor” nos palcos recifenses. Fato que motivou ainda mais a escolha. “Sempre tentamos dar preferência as produções locais na abertura do Festival. Além disso, o texto de Dostoievski também é pouco visto nos palcos. Queremos fazer um resgate do gênero”, afirmou. Para cumprir tal façanha, a programação contempla ainda a leitura dramática de três clássicos da tragédia grega: “Antígona”, “Prometeu Acorrentado” e “As Troianas”.
Homenagem
Nesta edição, o Janeiro de Grandes Espetáculos presta homenagem aos 160 anos do Teatro de Santa Isabel e ao teatrólogo Joacir Castro, que, no início da década de 1960, foi um dos fundadores do Teatro de Cultura Popular (TCP), uma das ações do Movimento de Cultura Popular (MCP), extinto pelo Golpe Militar, e integrou o elenco do Teatro Popular do Nordeste (TPN), participando de peças memoráveis como “O Inspetor”, “O Cabo Fanfarrão” (ambas em 1966), “O Santo Inquérito” e “Antígona” (as duas últimas em 1967).
Curiosidades Paulo de Castro
A primeira edição do Festival foi montada com R$500 e ninguém da equipe recebeu cachê para participar
Janeiro foi escolhido porque era mês de férias e não havia programação teatral na cidade
Desde o início o festival foi pensado para ser um evento dirigido à própria classe teatral
Tanto os espetáculos da programação, quanto os membros do júri, são escolhidos por atores, diretores e produtores de teatro da cena local.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 06/01/2010