Adaptação de “O Auto da Compadecida”, da Dramart Produções, completa 18 anos em cartaz
Difícil encontrar um espetáculo que tenha permanecido tantos anos na estrada sem grandes alterações. Ainda mais, em se tratando de um grupo tão extenso. A montagem Dramart Produções reúne, ao todo, 15 atores, cinco músicos e quatro técnicos, que juntos, completam amanhã 18 anos de apresentações ininterruptas, se gabando de terem sofrido apenas algumas poucas substituições. A data especial será celebrada em uma única apresentação, às 19h30, no Teatro do Parque. Com ingresso promocional de aniversário no valor de R$10 para todos.
Para saber um pouco mais sobre a história por traz da história, a Folha de Pernambuco conversou com atores que acompanharam toda esta jornada: Socorro Rapôso, Compadecida e fundadora da Dramart; Luiz César, padre João e co-fundador da Dramart; Célio Pontes, Severino do Aracaju e ex-assistente de direção do espetáculo; Williams Sant’Anna, Chicó e atual assistente de direção; e Leidson Ferraz, que vive os papéis do frade e do demônio, relembraram fatos e curiosidades divertidas, e outras que guardam com carinho, dessa montagem que caiu nas graças do público e já faz parte da história do teatro pernambucano.
Começando do começo, em 1991, a produtora Socorro Rapôso iniciou o planejamento de um espetáculo para celebrar os 10 anos da Dramart Produções, comemorados no ano seguinte. De Ariano Suassuna, dramaturgo admirado e amigo de Socorro, a farsa “O Auto da Compadecida” foi a eleita. A escolha do texto também tinha origem na relação pessoal de Socorro com a peça. “O Auto...” foi o primeiro espetáculo da vida da produtora, tendo feito a Compadecida com o grupo Teatro Adolescente do Recife em 1956. Na direção, mais um amigo, o professor Marco Camarotti, PhD em Teatro Popular.
A estreia da nova montagem aconteceu no dia 14 de marco de 1992, no teatro Valdemar de Oliveira. De lá pra cá foram muitas temporadas e muita história. A própria Socorro teve a chance de ir à Sapucaí com seu personagem. “Em 2002 a Império Serrano fez o desfile em homenagem a Ariano. Na época a minissérie da TV estava no auge, e todo elenco foi convidado. Mas em uma entrevista para o Jornal do Brasil, Ariano disse que gostaria que, com relação à Compadecida, convidassem ‘a de ontem, de hoje e de sempre’. Se referindo a mim”, conta Socorro, recordando o desfile que a emocionou muito.
Como co-fundador da Dramart Produções, o ator e produtor Luiz César chegou ao elenco meio que por acaso. Quando cursava Relações Públicas na mesma faculdade de Socorro, Luiz foi confundido com um padre que estudava na mesma sala. Do episódio, veio um namoro e um convite para integrar o elenco. “Acho que ela me achou com cara de padre. Desde então, esse acabou sendo um papel recorrente na minha vida”, brinca Luiz César.
As histórias são muitas. Célio Pontes tem lembranças de quase toda uma vida. Entrou para Dramart quando ainda tinha 14 anos, no espetáculo “O Mágico de Oz”. Pouco tempo depois, foi convidado por Socorro para fazer parte do elenco do Auto. Mas, foi um convite de Camarotti que foi decisivo na carreira de Célio. “Marco Camarotti me chamou para ser assistente de direção do espetáculo. Isso me deu a oportunidade de aprender muito sobre todos os aspectos do teatro”, destaca o ator.
Outro que atribui ao “Auto...” a emoção é Williams Sant’Anna. Além de ter com Sóstenes Vidal, seu companheiro de cena que vive João Grilo, uma enorme cumplicidade, o ator tem uma relação bastante próxima com os demais companheiros de palco. “Fazer o Palco Giratório do Sesc era um grande sonho. Em 1998, quando finalmente havíamos conseguido e estava tudo pronto para começarmos a turnê pelo Interior do Estado, eu fiquei muito doente. Tínhamos a opção de desistir de um sonho e frustrar o grupo inteiro, ou tentar fazer, mesmo assim. E nós fizemos”, lembra ele.
Leidson Ferraz, o caçula da turma, também foi um dos últimos a entrar no elenco - três anos depois do debut da montagem. “Estreei com o teatro Santa Isabel lotado. Como meu personagem tem uma relação com a plateia, foi uma coisa muito especial”, recorda Leidson.
Além da apresentação deste domingo, o grupo aguarda a finalização do edital Funcultura 2009, no qual concorrem com um projeto de oito apresentações populares do “Auto...”, com distribuição gratuita de 200 convites.Outro projeto que a Dramart tem na gaveta, à espera de patrocínio, é apresentação do espetáculo usando igrejas como cenário para montagem.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 13/03/2010