quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A dança rende-se a novos espaços

Entre os destaques da temporada está o Festival Internacional de Dança do Recife

Uma das principais marcas da XIV edição do Festival Internacional de Dança do Recife tem sido romper as barreiras do palco e ocupar espaços diferenciados que aproximam a linguagem da dança do grande público. Ao longo da programação foram apresentações em sinais de trânsito, praças, e parques da cidade. Agora, rumo à reta final, a programação se intensifica ainda mais e ocupa outros lugares inusitados.

Hoje e amanhã, a partir das 17h, a Casa da Cultura será palco do espetáculo “As Partes do Todo”, da Cia. Solo do Outro. A apresentação faz uma investigação corporal que tem como inspiração criativa a história do local, que já foi uma casa de detenção. Não muito longe dali, na Praça do Diário, a escola Guerreiros do Passo presta uma homenagem ao mestre do frevo, Nascimento do Passo, falecido há pouco mais de um mês.

A Cia. Solo do Outro encarou o desafio de ousar ainda mais em suas montagens, e no sábado, às 10h, apresenta o espetáculo “Eu Tava Passando e Resolvi Sair” em meio à confusão do Mercado de São José. A bailarina e coreógrafa Flávia Pinheiro utiliza cores, cheiros, formas e rostos do mercado na composição de sua apresentação. Identidades anônimas se misturam em um espaço democrático de segregação social. A anomalia da cidade é retratada a partir da perspectiva de um dia comum. “Desde o começo pensamos em como interferir no espaço, reorganizando-o. Fomos muitas vezes ao mercado, e acabamos nos tornando parte dele. É muito interessante poder interagir com diferentes histórias”, afirmou Pinheiro.

Outros espaços da cidade também serão tomados pela dança. No sábado, o Nascedouro de Peixinhos recebe a “Mostra de Dança e Cultura Árabe”. A praça do Hipódromo, no bairro de Campo Grande, recebe um aulão de frevo com os Guerreiros do Passo. E uma roda de breaking dance vai tomar conta do Clube do Bolinho, no Alto José do Pinho.

Porém, a grande apoteose dessa integração “dança e público” deve acontecer amanhã e sábado na Rua da Moeda. Um grande palco montado na rua vai dar oportunidade para qualquer pessoa da plateia que queira mostrar que também sabe dançar. Com uma ajuda de um DJ, que deve coordenar as apresentações, talentos poderão ser revelados, provando que o Festival de Dança do Recife tem espaço para todos os ritmos e todas as tribos.

Nos Palcos

Seguindo a programação principal dos teatros o destaque de hoje é o Grupo Grial, que apresenta o espetáculo “Castanha sua Cor”, às 19h, no teatro do Parque. O espetáculo propõe um mergulho no subterrâneo da Cultura Brasileira, proporcionando reencontros com antigos mitos. Amanhã, a carioca Micheline Torres apresenta o espetáculo “Carne”, às 22h, no teatro Hermilo Borba Filho. No sábado, a companhia mineira “Primeiro Ato” encerra a programação do Festival e apresenta o espetáculo “Mundo Perfumado”, às 21h, no teatro de Santa Isabel. Com uma narrativa não linear, a apresentação explora o corpo do bailarino como meio e mensagem. A programação completa do XIV Festival Internacional de Dança do Recife está disponível no site da Folha Digital.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 29/10/2009

Festival de Dança começa hoje

De hoje até o próximo dia 31 de outubro a cidade não vai parar de dançar. Isso porque, logo mais a noite, vários espaços serão tomados pelas ações do 14° Festival Internacional de Dança do Recife (FIDR). Nesta edição o Festival reverencia o ano da França no Brasil, trazendo, entre as muitas atrações internacionais, três espetáculos de companhias francesas. A abertura do evento fica por conta da cia. Malka, que apresenta o espetáculo “Meia Lua”, a partir das 21h, no teatro de Santa Isabel.

Um pouco antes da abertura, às 18h30, em frente ao teatro, uma grande roda de Hip Hop vai servir de convite aos passantes, e aquecer o público que estiver chegando para assistir à apresentação. A descentralização do Festival não vai parar por aí, na edição em que os realizadores prometem levar a dança a outros espaços, as apresentações do festival também vão invadir os sinais de transito e até mesmo as paredes dos prédios do Recife.

Desde hoje cedo, várias intervenções chamaram a atenção dos passantes em várias partes da cidade. O segmento FIDR na rua programou dois tipos de ações: “Sinais de Dança” e “Videocidade”. A primeira delas com bailarinos de dança contemporânea e de Hip Hop se apresentando nos sinais de trânsito das avenidas mais movimentadas do Recife. enquanto os sinais estiverem fechados, os artistas apresentarão suas performances ao som de motores e buzinas.

Já com a mostra “Vídeocidade” os pedestres terão acesso aos vídeos dos principais espetáculos de dança do festival, projetados nas paredes das avenidas. Os primeiros vídeos serão projetados nas paredes da Av. Conde da Boa Vista, próximo ao cruzamento da Rua do Hospício. O Vídeocidade prossegue nos dias 26, 28 e 30 de outubro, no Parque 13 de Maio, Av. Agamenon Magalhães e Pina, respectivamente.

Dona Flor traz novidades para palco da UFPE

Faz pouco mais de um ano que a montagem de um dos maiores clássicos da literatura brasileira, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, passou pelos palcos do Recife. Agora, o espetáculo, que faz uma adaptação da obra de Jorge Amado, retorna à cidade comemorando dois anos de sucesso de sua temporada pelo Brasil, e com mudanças no elenco. A maior delas, é relativa à personagem principal do triângulo amoroso mais conhecido da história. Florípedes (a Dona Flor), antes interpretada por Carol Castro, agora ganha vida na pele de Fernanda Paes Leme, que ao lado de Marcelo Faria (Vadinho), e Duda Ribeiro (Theodoro), dá à peça um tom ainda mais apimentado.

“Com a entrada da Fê começamos a fazer um desenho novo para o espetáculo. A nova Flor é mais alegre e espevitada. Isso também fez com que o Vadinho ficasse mais safado. Apesar da estrutura da montagem ainda ser a mesma, estamos mais leves, mais soltos mesmo” afirmou Marcelo Faria, que também assina a produção da montagem.

Outra novidade no elenco é a entenda do ator Jonas Torres no papel de Mirandão, amigo de Vadinho. “Mesmo com as mudanças continuamos bastante afinados com o texto. Ensaiamos em todo lugar que chegamos, repassamos a parte musical do espetáculo... tem sido uma ótima experiência” destacou o ator.

E de fato “Dona Flor...” se confirma como uma dos grandes sucessos teatrais da história recente. Ao todo, a montagem já soma 44 cidades visitadas, e um público na casa dos 210 mil expectadores. Números impressionam dentro do cenário das artes cênicas.

Serviço
“Dona Flor e Seus Dois Maridos”
Teatro da UFPE - Cidade Universitária
Sábado, às 21h, e Domingo às 20h
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)

Informações: 3207-5757

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

P.P.P (des)congelando mentes

Poucos artistas conseguem alcançar uma maturidade criativa a ponto de permitir-se viver uma situação limítrofe de controle - ou melhor dizendo da falta dele - sobre sua obra. É preciso ter segurança absoluta pra mostrar-se falho. Factível de erro. Algo que a grande maioria dos artistas tenta evitar, ou pelo menos esconder. Philippe Ménard não teme. Expõe-se visceralmente, ao longo dos quase 60 minutos de duração do espetáculo P.P.P (Cia. Non Nova), que apresentou no teatro de Santa Isabel no último final de semana, em duas apresentações com casa lotada.

Em sua batalha cênica contra um inimigo perecível, o gelo, Ménard vai aos poucos revelando ao público todas as suas “personas”. Para narrar a sua experiência pessoal, Philippe se expõe como artista, pondo em cheque a sua técnica precisa, arriscando-se em malabares com bolas de gelo. A exposição é ainda maior como ser humano, que enfrentou todos os conflitos e inquietações de não se reconhecer no próprio corpo (uma mulher no corpo de um homem), e encontrou na arte uma maneira de exorcizar seus fantasmas.

No palco, Menárd nos convida a mergulhar em seu universo complexo e conflituoso. Apartir daí, percebemos que todos nós também travamos nossas próprias batalhas. Usando uma iluminação sombria, e com a ajuda de sons repetitivos e difusos, presentes na trilha de “P.P.P”, o artista cria uma atmosfera hipnotizante. Num misto de perfeição plástica, que é bela e agoniante.

Curioso perceber que todos os seus personagens começam serenos e vão, aos poucos, tornando-se intensos e perturbados. Quase que como se não coubessem em si. Passando pela criança ingênua, a descoberta da sexualidade, a rejeição ao corpo e a descoberta da leveza feminina, Ménard constrói sua narrativa em cima da desconstrução, da condição perene de mudança. Até seu próprio cenário vai desfazendo, do teto, bolas de gelo caem e se despedaçam, numa menção a urgência do tempo.

Ao final, Ménard volta a condição que ele repeliu durante toda sua vida. Despe-se e revela-se homem. Deixando a plateia atônita. Entre opiniões divididas alguns aplaudiam, enquanto outros deixavam o teatro desconfortáveis. Confirmando que o objetivo do artista foi alcançado. Todos saíram dali diferentes, de certa forma.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 12/10/2009

sábado, 10 de outubro de 2009

O Gelo que transforma

Cia. Non Nova apresenta em “P.P.P” uma metáfora para a transformação

Philippe Ménard é, por si só, a representação absoluta do processo transitório constante presente na vida de qualquer ser humano. Não me refiro apenas ao fato de Philippe ter nascido com o sexo masculino, e ter se tornado mulher. Mas, sim, ao fato de, como artista, e como pessoa, estar sempre buscando uma perspectiva diferente para enxergar o mundo. Seu objetivo foi alcançado em “P.P.P.”, espetáculo que a Cia. francesa Non Nova - fundada por Ménard - apresenta hoje (10) e amanhã (11), às 21h, no teatro de Santa Isabel dentro da programação do Festival de Circo do Brasil. Usando o gelo como principal matéria-prima na composição do seu cenário, o elemento tem um papel que vai muito além de meramente cênico. O gelo é o fio condutor de uma história de mudança de estado, é parte da metamorfose apresentada pelo artista.

A abreviação que dá nome ao espetáculo vem do francês Position Parallèle ao Ploncher - Posição Paralela ao Chão, em uma referência a única posição comum a qualquer pessoa: a do leito de morte. “ A escolha do título lembra que todos acabam da mesma forma. Podemos ter medo, não aceitar, mas o fim é inevitável. O mais interessante é o caminho que percorremos até chegar a ele. O espetáculo fala sobre a utopia do ser humano que luta sempre contra a própria morte, mesmo sabendo que não vai vencer O gelo representa essa luta fictícia, sabemos que no final, inevitavelmente, ele vai derreter”, explica Ménard.

Mas a escolha de trabalhar com uma matéria perecível não foi proposital. “Até hoje não tenho certeza de que o gelo é ideal para essa construção”, brinca o artista. Na verdade, esse encontro se deu casualmente, enquanto Ménard fazia uma turnê pela África. Na ocasião, um dos teatros onde o artista se apresntou não possuía sistema de refrigeração, e uma opção oferecida foi colocar barras de gelo em frente aos ventiladores. “ A temperatura estava em torno de 48 graus, e é claro que o gelo derreteu rapidamente, a água invadiu o palco e arrastou pedaços de gelo que sobraram. A plateia acabou achando que aquilo fazia parte do número, e percebi que podia usar isto de alguma forma”.

É claro que a escolha foi um desafio. Durante o processo de concepção a artista se machucou bastante em função da dificuldade imposta pela temperatura e dureza do gelo. Mas ainda assim, as limitações físicas não foram maiores do que as psicológicas. “Tive que reprogramar minha mente. Fiquei conhecida pela minha técnica perfeita e quando comecei a trabalhar com o gelo toda a minha perfeição sumiu. Tive que aprender a deixar de lado minha virtuosidade e aceitar me expor de uma outra forma” lembra.

Apesar de “P.P.P.” parecer, a princípio, um espetáculo autobiográfico - já que Ménard expõe situações pessoais como aceitação do corpo e suicídio - a artista destaca que a montagem fala de todas as pessoas que viveram uma experiência de mudança profunda. “ Escrevi o espetáculo para que o público possa viver algo diferente, porque acredito que o teatro é o espaço para isso. A intenção é fazer como que o espectador termine o espetáculo se sentindo diferente. Algumas pessoas vão ver apenas um número com gelo, outras vão se emocionar, outras vão voltar a infância. Não tento explicar nada. O mais importante é deixá-los livres”.

A Fantástica Fábrica de Gelo

Montar toda a estrutura que compõe o cenário de “P.P.P” não é tarefa fácil. Ao todo são 350 bolas de gelo de diversos tamanhos, além de congeladores, blocos de gelo e até mesmo um tapete branco, fabricado com raspas de gelo, estão em cena junto com Philippe Ménard. Toda essa megaprodução só é possível graças a uma equipe de cinco franceses, liderada pelo artista plástico Rodoph Thibaud, que assina a cenografia do espetáculo.

Thibaud explica que todo o processo é bastante complicado, e exige muito tempo e organização. Temperatura, clima, altitude, e até mesmo a pureza da água da cidade onde se apresentam, interfere no resultado. “Temos que fazer testes antes de começar a produção, porque tudo influencia no resultado do nosso trabalho”, explica o artista plástico.

Para dar conta do recado, 10 freezers de 400 litros, cada, foram instalados nos bastidores do teatro, e durante cinco dias ininterruptos a equipe trabalhou para deixar tudo pronto para a estreia. Para que tudo dê certo, até a entrada do público no teatro precisa ser cronometrada. “Todas as pessoas precisam estar acomodadas em cinco minutos, do contrário, o cenário começa a derreter” diz Thibaud. Portanto, não atrasem.


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 10/10/2009

Começa o Festival de Circo no Recife

Foto: Jedson Nobre
Algo de Charles Chaplin esteve presente na abertura da quinta edição do Festival de Circo do Brasil. As atrações que subiram ao palco do teatro de Santa Isabel, na noite de ontem, mostraram mais que um show de talento e técnica. Foi a sensibilidade do corpo, a pantomima no seu mais puro sentido, que falou mais alto. O mestre de cerimônias João Artigos anunciou o que estava por vir. “Estou aqui para fazer um convite para uma noite inesquecível”, disse enquanto entretia o público com suas tortas acrobacias.

E ele estava certo. Quando o mineiro Luís Sartori deu início a apresentação do número “Carton” o público mergulhou em uma outra dimensão. Ainda que a plateia recifense ainda não esteja completamente pronta para experiências desse tipo, aos poucos, Sartori conquistou os olhares deslumbrados com a simplicidade de suas bolinhas, que surgiam em meio ao cenário de papelão. “Carton” foi um belo preâmbulo do que ainda estava por vir.

Na sequência, a cia. francesa Akoreacro apresentou o surpreendente “Pfffffff”. Acrobacias, malabares e números de precisão absoluta, foram apenas a cereja do bolo, em um espetáculo no qual música, teatro, circo e dança se misturam e se complementam de uma forma indivisível. Instrumentos musicais transformam-se em artifícios circenses e os corpos dos artistas narram uma empolgante disputa amorosa. Sob palmas, risos e suspiros da plateia os artistas começaram a fazer história no Festival que começa grandioso.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 09/10/2009

Todas as expressões de um novo circo

Festival dá início a uma programação de 10 dias com atrações do Brasil e da França

Está dada a largada para quinta edição do Festival de Circo do Brasil, que promete movimentar a cidade pelos próximos 10 dias. Quem estiver passando hoje pelo centro da cidade por volta das 11h30 vai perceber uma movimentação diferente nas paredes dos prédios da Avenida Conde da Boa Vista. A trupe paulista Acrobático Fratelli é a primeira atração a se apresentar dentro da vasta programação que o Festival vai oferecer (ver matéria página cinco). Não muito distante dali, logo mais à noite, o teatro de Santa Isabel recebe a partir das 21h, a abertura oficial do evento que terá o carioca João Artigo, da Cia. Teatro de Anônimo, como mestre de cerimônia. Além de apresentações de espetáculo nacional, e outro de uma companhia francesa, celebrando o ano da França no Brasil, marca desta edição do Festival.

Abrindo os trabalhos no palco, o mineiro Luís Sartori, apresenta o espetáculo ‘Carton’ (papelão em francês). Atualmente morando em Bruxelas, na Bélgica, Sartori tem formação em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi durante o curso em “Artes do Espetáculo e Técnicas de Difusão e de Comunicação” (especialização em artes do circo) pela Ecole Supérieur des Arts du Cirque (ESAC), que o artista teve a oportunidade de aprofundar sua técnica circense. Hoje, Sartori divide seu tempo entre as atividades como malabarista, acrobata, ilustrador, artista gráfico, intérprete e baterista. Apesar da infinita gama de talentos, ele foge do ‘rótulo’ de multiartista. “Me considero um artista e dentro dessa condição tenho a possibilidade de desenvolver diversas técnicas. Estou sempre tentando experimentar, fazer algo diferente”.

Com ‘Carton’ Sartori brinca com as referências ao cotidiano e as surpresas que ele reserva. O público é convidado a entrar em um universo onde os objetos ganham vida, são manipulados e manipulam o próprio artista. “ Tudo começou a partir da única imagem de uma bolinha entrando em cena sem ser tocada, aos poucos essa ideia foi ficando bem maior”. Em um cenário todo feito em papelão, concebido pelo próprio artista, Sartori mistura malabarismo, acrobacia, dança e teatro, confirmando as várias facetas do artista. “O papelão dá ao número um tom mais lúdico que conquista tanto os adultos, quanto as crianças. Isso é interessante porque fiz ‘Carton’ pensando em mim. Fico muito feliz que o espetáculo tenha conseguido tocar públicos tão distintos”, ressaltou Sartori.

Música, Teatro e Circo num só espetáculo

A grande expectativa da noite de abertura do Festival fica por conta da companhia francesa ‘Akoreacro’ que apresenta pela primeira vez no País, na América Latina, o espetáculo “Pfffffff”. Reunindo técnicas tradicionais de números de rua e de picadeiro, com aquilo que existe de mais contemporâneo no circo francês, a companhia promete apresentar ao público recifense um jeito diferente de se fazer circo.

Criada em 2001 por Maxine Sole, Basile Narcy, Clair Aldedaya e Romain Vigier, todos artistas formados por escolas de circo de Estocolmo, Bruxelas e Moscou, a Akoreakro tem “a mistura” como princípio básico da criação de suas apresentações. Em seu novo espetáculo, juntaram-se a quatro músicos e transformaram a montagem numa verdadeira orquestra-circo. A trilha sonora pop de “Pfffffff” reúne ritmos dos mais eruditos, até os mais modernos como hip hop e o beat box (termo referente à percussão vocal usualmente feita pelos cantores de Hip Hop que dá nome ao espetáculo). “ Cada músico tem uma influência especial no espetáculo. Música clássica, tango, música judaica e até o próprio hip hop, cada um trouxe sua própria referência. Usamos a música como forma de trazer a modernidade para o circo”, explicou Sole.

No palco, entre acrobacias, música e números de malabares com instrumentos, o grupo encena duas pequenas histórias. A primeira delas acerca de uma ave que em seu leito de morte, pede a um gato que tome conta de seu ovo. Numa espécie de metáfora sobre as relações humanas. Na segunda história, sete homens disputam a atenção de uma mulher, provando a ela que cada qual tem suas vantagens: mais forte, mais bonito, mais hábil.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 08/10/2009

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O deleite de uma carreira promissora

Sucesso nos anos 80, o espetáculo “Doce Deleite”, de Alcione Araújo, arrebatou o público da época a partir da interpretação magistral de Marília Pêra e Marco Nanini. A dupla dava vida a diversos personagens, em uma sequência de 12 esquetes, consideradas as precursoras do gênero besteirol. Hoje, quase 30 anos depois, os atores Reynaldo Gianecchini e Alessandra Maestrini (Toma lá dá cá) encaram o desafio de uma nova montagem, agora, com Marília assumindo a direção do espetáculo. Para saber um pouco mais da trajetória da peça, que já está há um ano e meio em turnê pelo País, o caderno Programa conversou com o ator, que falou sobre o processo de composição dos personagens, os desafios da montagem, e também sobre sua trajetória de ascensão como ator.

Quando surgiu o convite da Marília qual foi a primeira coisa que passou pela sua cabeça?
Eu tenho uma coisa comigo, que é muito do signo de escorpião, de ser movido a desafios. Quando surgiu o convite achei uma maravilha poder aprender com a Marília. Era um projeto irrecusável.A gente já vinha querendo trabalhar junto há muito tempo, só que nunca rolava. Mas logo depois que eu aceitei o convite é que a ficha caiu. Bateu aquele ‘Meu Deus! Eu nunca dancei, nunca cantei’. Mesmo assim topei o desafio. Quando surgiu o convite eu estava todo enrolado por causa das gravações da novela. Combinamos de esperar e durante esse tempo fui fazendo aulas de preparação de dança, e de canto, junto com a Camila (Morgado). Essa foi a melhor parte pra mim. A Marília nos acompanhava nas aulas de dança. Passamos oito meses muito juntos, nos conhecendo, e nos tornamos amigos.

Deu medo de fazer um papel que foi do Nanini?
Eu acho o Nanini um gênio. Nunca assumi isso pelo lado da responsabilidade. Não encaro pelo lado da substituição, acho que é uma honra poder ocupar esse lugar.

Quais são suas impressões em relação ao texto de Alcione. A nova montagem só repete três esquetes do texto original, mesmo assim elas ainda funcionam?
Na verdade são quatro esquetes daquela época. A primeira montagem tinha outros autores, agora só usamos textos do Alcione. Mas os tempos são outros. Lá era o começo do besteirol, o público era outro, os atores eram outros. Eu e a Camila somos atores diferentes e só com isso a mesma esquete já estimula reações diferentes. Para mim a peça é um grande borrão para gente brincar em cima. Somos dois atores brincando com a criação dos personagens, trazendo os recursos que temos enquanto atores para o mundo.

Qual é o maior desafio do espetáculo: cantar, dançar, ou dar vida a diversos personagens numa só montagem?
Tudo pra mim é um grande desafio. Eu interpreto sete personagens diferentes, todos com perfis de comédia distintos. Isso por si só, já é um desafio. Mas para mim o mais difícil de todos foi o canto. Foi o que me deu mais insegurança porque precisei partir do zero. Ao contrário da dança. Eu sofria muito nas aulas de canto. O aprendizado não fica tão evidente porque na música você trabalha músculos que estão por dentro, tudo é muito subjetivo.

Há pouco mais de dois meses a Camila precisou ser substituída pela Alessandra (Maestrini) isso interferiu de alguma forma no ‘time’ da peça?
A Camila acompanhou o processo desde o começo. A peça foi montada em cima da gente, das nossas percepções. Foi muito doloroso para todos nós quando ela precisou sair por causa das gravações. Mas não tinha outro jeito. A Alessandra se encaixou como uma luva. Ela já tinha a bagagem do canto lírico e também é comediante. Claro que a peça muda toda, mas foi gostoso porque ambas são muito boas atrizes.

Desde sua estreia em Laços de Família (2000), quase 10 anos se passaram. Como foi a experiência de passar de ator criticado a ator escolhido para protagonizar um espetáculo dirigido por um dos maiores mitos do teatro nacional?
É um processo de muito trabalho. É óbvio que qualquer profissional em início de carreira tem dificuldades, mas não sou de ficar acomodado. Isso não quer dizer que você vá acertar sempre, mas para mim, o mais importante é que eu dou sempre o meu melhor. Às vezes, claro, não é tão bom, e você é criticado. Mas o mais importante é ter respeito por esse trabalho e pela experiência que se pode tirar dele. Nesses 10 anos tive a oportunidade de aprender com muita gente boa.

No livro lançado com o texto da peça e entrevistas com você e a Camila, você fala que não te desanima o fato de saber que muita gente só vai ao teatro pra ver o galã da novela. Ao longo de mais de um ano de turnê com a peça, você tem sentido essa relação se modificar?
Realmente não me incomoda. Como cada público é diferente, quando você começa o espetáculo dá pra perceber que tem um monte de gente buscando o cara da TV. Isso muda ao longo do espetáculo. A peça é muito comunicativa, nós vamos ganhando as pessoas aos poucos. E no final, é realizador ver que todo mundo está envolvido com a gente.

Serviço:
“Doce Deleite”
Teatro da UFPE - Campus Universitário
Hoje, às 21h, e domingo às 20h
Ingressos: R$80 (inteira) e R$40 (meia) plateia / R$60 (inteira) R$30 (meia) balcão
Informações 3207-5757 / 3207-1144

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 02/10/2009