quinta-feira, 12 de junho de 2008

Zelito Nunes: uma trajetória de poesia

Estou de volta meu povo!!!!!!


Passado o período de loucura universitária, retomo minhas atividades de blogueira. Como novo começo, coloco aqui o texto fruto de uma entrevista concedida por Zelito Nunes (tema do primeiro post desse blog).


Espero que gostem...


Escritor, poeta, cordelista e funcionário público. A última atividade citada, entre as tantas desempenhadas por Joselito Nunes, mas conhecido como Zelito, parece não fazer parte da descrição dessa figura, que tem a arte da escrita como parte de sua existência. O universo da advocacia, e por conseqüência, do funcionalismo público aparecem como meros coadjuvantes na trajetória de escritor, que consagrou Zelito como um folclorista nato. É a voz, e o cotidiano, do típico matuto a marca registrada do seu texto.

Como bom boêmio que é, e não podia ser diferente, Zelito concedeu esta entrevista num bar: Antiquárium. Com cardápio tipicamente regional, charque brejeira e carne de bode, Zelito chegou para a entrevista usando calça jeans e camisa de malha, figurino que não passa nem perto da formalidade da vida jurídica. Aliás, com relação a sua formação como bacharel em Direito, ele afirma que foi empurrado “pelo outros” para a carreira. Mas isso é assunto para mais adiante. Natural de Monteiro, no interior da Paraíba , Zelito é o caçula de uma família de 17 filhos. Teve sempre uma vida bastante modesta, até mesmo pelo grande número de irmãos que tinha. Não chegou a passar fome, mas segundo o próprio: “tirou um fino”. Nasceu e se criou ouvindo os cantadores da terra. Ainda criança, lia as poucas revistas velhas que chegavam ao seu alcance, mas era mesmo um leitor aficionados de gibis. Foi quando menino, que percebeu gostavar de contar histórias, na verdade, descobriu um dom ao ver que as pessoas também gostavam de ouvir suas “mirabolantes” epopéias. E foi contando histórias para uma professora do primário, a dona Dalva, que Zelito compensou a inabilidade na matéria de artes manuais, e conquistou a admiração da professora que viria anos depois ratificar seu talento ao testemunhar-lhe as lembranças dos “causos” por ele contados.

Durante a adolescência, a época da Jovem Guarda foi o único período em que Zelito se distanciou um pouco de suas raízes. Durante o movimento definido por ele como “movimento mais imbecil da música” , Zelito acabou adotando a jaqueta de couro e o estilo Iêiêiê... Mas a fase não durou muito. Como todo jovem, Zelito viveu apenas uma fase, e retomou o seu contato com a poesia e música do sertão do Pajeú. Era o cotidiano popular que realmente fascinava o jovem escritor. Nomes como dos poetas populares, Júlio Verne, Rogaciano Leite e Pinto Velho de Monteiro fizeram parte de sua trajetória... foram inspiração e posteriormente cooperação. Tornaram-se amigos. A propósito, faço aqui um parêntese, amigos não lhe faltam. Entre uma dose e outra de rum, sempre chegava alguém na mesma, fazia aquela festa, o cumprimentava... Do garçom, ao dono do bar. Figura popular!

Já no Recife, Zelito sempre esteve envolvido pelo universo literário. Sempre trabalhou com livros, primeiro numa gráfica e em seguida como vendedor. Foi levado à faculdade de direito por sugestão de um irmão, que o convenceu de que ele precisava de uma profissão de verdade, uma profissão na qual ganhasse dinheiro. Mas Zelito nunca gostou da vida acadêmica, passou pelo curso como um aluno mediano. E apesar de ser registrado na OAB, nunca chegou a advogar. Não advoga nem em causa própria. Assim como “virou” advogado, também “virou” funcionário público. Está lotado na Advocacia Geral da União, mas conta as horas para se aposentar e livrar-se do que chama de “sepulcro”.

Mas a atividade que realmente o alçou à arte de “escrivinhador”, foi o cargo que desempenhou durante 11 anos a frente da Imprensa Universitária da UFRPE. Como diretor, Zelito editou um livreto reunindo histórias de cantadores e para o lançamento na universidade, convidou ninguém menos que Sivuca. Estava definitivamente traçada sua carreira literária.

Daí em diante, Zelito não parou mais. Apresentado por um amigo em comum, conheceu Jessier Quirino, com quem lançou em 1999, o livro Folha de Boldo, 120 histórias de cachaceiros. A co-autoria deu certo, e serviu para dar coragem de tentar vôos maiores. Em 2000, lança Cariri e Pajeú, gente engraçada de lá pela editora Líber. Foram 180 exemplares vendidos, um sucesso para os padrões pernambucanos, principalmente numa estréia.

O segundo livro (2004) deu continuidade ao seu primeiro trabalho autoral: Cariri e Pajeú, outras histórias de lá. Mais um sucesso de vendagem, chegando à marca de 220 exemplares vendidos. Como característica do típico virginiano que é (apesar de suas contestações), Zelito é um “workaholic”. Pelo menos no quê diz respeito a sua paixão: a escrita!

Foi quando o bar já começava a ser tomado por rubro-negros sedentos (no dia estava sendo transmitida as semi-finais da Copa do Brasil), que Zelito comentou a sua pouca intimidade com o universo “futebolístico”. “De futebol só entendo uma coisa: nada. Fico com as poesias” disse sorridente. E logo voltou a falar sobre sua verdadeira paixão: arte de escrever. Mal havia lançado o segundo livro, e o seu terceiro trabalho já estava pronto para ser editado. Histórias de Beradeiro ultrapassou mais uma vez a expectativa de vendagem e deu a Zelito a certeza de que não mais pararia de escrever. Foi petiscando um sanduíche de queijo do reino, que acabou confirmando a mania por trabalho. Além de se dedicar ao projeto do seu próximo livro Sertão de Beradeiro, registre antes que acabe Zelito também publica semanalmente seus textos em dois jornais eletrônicos: Vitrine Cariri (
www.vitrinedocariri.com/) e o Jornal da Besta Fubana (jornaldabestafubana.blogspot.com/).
Em suas colunas, casos como o de Cajarana, o matuto que virou dentista protético, ou o de Zezinho, o gari de Tabira que adorava quiabo, ou mesmo aquela conversa fiada entre bêbados boêmios, típica de boteco do interior. Não importa se o personagem é o “bebo”, o “ceguinho”, ou o padre... A tônica da obra de Zelito é a linguagem matuta e o humor.

E é o humor, a característica mais marcante de Zelito Nunes. Sentando, a vontade num bar, conta as histórias da sua vida como se falasse de seus personagens. Por vezes saudosista, noutras bastante crítico... Mas sempre bem humorado. Poético. Aos 58 anos, pai de três filhos: Pedro, André e Bruno. Dono de um passo manso, Zelito é um típico matuto na cidade grande. Não aquele matuto “caricato das quadrilhas juninas”, mas sim o matuto no sentido fiel da palavra. Sertanejo! Com orgulho de suas raízes e contador das suas origens. Com direito a despedida rimada: “No sertão onde eu vivia/ Fui vaqueiro tangerino/ Fui vendedor de remédio/ Cobrei “barato” em cassino/ Só nunca fui pederasta/ Mais ainda tirei um fino”.