Um dos mais tradicionais grupos de balé clássico do país chega ao Recife para duas apresentações de sua turnê nacional em homenagem aos 50 anos da morte de Heitor Villa-Lobos. O Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta o espetáculo “Floresta Amazônica”, hoje (26) e amanhã (27), no teatro Guararapes. Na primeira noite de apresentações “A Deusa da Floresta”, protagonista da montagem, será vivida pela bailarina Ana Botafogo.
Um dos maiores clássicos interpretados pelo corpo de baile do Municipal, “Floresta Amazônica” – de Dalal Achcar – fez sua estreia em 1975. Hoje, 34 anos depois, a história de amor entre o homem branco e a deusa indígena, que tem como pano de fundo um dos maiores tesouros naturais do país, continua emocionando plateias por onde passa. Por esse motivo, o espetáculo foi escolhido pelo grupo para homenagear um dos maiores nomes da música erudita no Brasil, o compositor Heitor Villa-Lobos. A trilha sonora de “Floresta Amazônica” é toda montada a partir de suas composições. Além disso, a turnê também marca as comemorações do centenário do Theatro Municipal.
A montagem conta com 60 bailarinos em cena, e um megacenário que reproduz o ambiente da floresta. A iluminação e as projeções de imagens também proporcionam ao público a experiência de entrar em um universo bastante particular.
Para conhecer um pouco mais desse universo, a Folha de Pernambuco conversou com a bailarina Ana Botafogo, que falou um pouco sobre o espetáculo. Além da experiência de uma vida inteira dedicada ao balé clássico, e os rumos de sua carreira.
Como é trabalhar uma temática “homem branco e índio” através da dança?
A montagem é muito bonita, muito lírica, faz parte do repertório dos clássicos. É uma produção essencialmente nacional, que continua atual porque fala do nosso tesouro que é Amazônia. Esse é um balé que gosto muito de dançar porque tem uma beleza e uma delicadeza que são bastante raras.
Um espetáculo para celebrar duas datas especiais como os 100 anos do Theatro Municipal e 50 anos de Villa-Lobos é uma responsabilidade muito grande. Como você se sente com isso?
Nossa maneira de homenageá-lo foi montando esse espetáculo. Por isso escolhemos essa data redonda, que é sempre mais marcante. Foi uma consciência que o Theatro também estivesse comemorando o centenário. Então encontramos uma maneira de fazer como que o balé pudesse estar sempre viajando e levando o nome do Theatro, já que nesse momento ele está fechado para reforma.
Essa é apenas uma das comemorações. Dia 14 de julho faremos um grande espetáculo em homenagem ao centenário, no Rio de Janeiro, com palco ao ar livre. O Coro e a Orquestra do Theatro também participarão.
Você e o Theatro Municipal são coisas indissociáveis, como se sente com isso?
Fico muito orgulhosa em saber disso. Eu dediquei toda minha vida a minha carreira e ao Theatro. Sou bailarina do Municipal há 28 anos. Me sinto totalmente integrada a essa história, porque a vivi intensamente. Fico muito feliz com essa associação.
Em 2002, você recebeu o prêmio da Ordem de Mérito Cultural, como ativista da dança. Ajudar a divulgar o balé clássico é uma de suas prioridades?
Eu ainda continuo muito envolvida com minha atividade de bailarina. Me apresento sempre com vários espetáculos. Na realidade, não tenho esse foco no dia- a-dia. Mas eu sempre incentivo o balé, e tento levar a imprensa para dar visibilidade a projetos que entendem que é possível se transformar através da dança.
Tento trabalhar dentro das minhas possibilidades. A rotina de treinamentos é bastante puxada. Ensaiamos diariamente das 10h às 16h, além disso também precisamos fazer um treinamento físico como pilates, e outras atividades. É uma vida muito difícil que requer muita dedicação.
Em 2006, você se aventurou na televisão, com um personagem na novela “Páginas da Vida”, de Manoel Carlos. Você tem pretensões como atriz?
A novela foi uma experiência maravilhosa, mas tive que tirar uma licença do Ballet porque as gravações me consumiam muito tempo. No momento eu tenho uma agenda de espetáculos muito grande e minha prioridade é ser bailarina.
Mas já estou envolvida em um projeto com Marília Pêra para abril de 2010. Vou participar da peça “O vórtice”, de Noel Coward. E também vou fazer uma participação especial como uma bailarina na próxima novela de Manoel Carlos, “Viver a Vida”.
O que é preciso ter para ser uma boa bailarina, talento sobrevive sem técnica?
Talento sem técnica e determinação, não conseguem vencer em nada na vida. O jovem pode ter talento, mas tem que ter disciplina e disposição para tentar superar suas dificuldades e conseguir torna-se profissional respeitável. É preciso saber abdicar de muitas coisas prol do treinamento.