quarta-feira, 21 de maio de 2008

A moda agora é ser “cult”!


Por algum motivo, que ainda não consegui entender, a nova moda entre os adolescentes é ser “Cult”.

Visual “retrô” e os lugares considerados alternativos passaram a ser o alvo predileto dessa moçada que insiste em passar uma imagem descolada. O Cine PE não fugiu à regra, e como se trata de um festival de cinema fora do circuito comercial, foi invadido por manada de adolescentes que usavam óculos grandes e largas calça-xadrez.

Ok! Não sejamos radicais. Vai lá que uma meia dúzia deles realmente tivesse interesse em assistir aos filmes, se aprofundar a respeito do cinema pernambucano e etc. Mas a grande maioria estava lá fazendo Deus sabe o quê? Pelo simples fato de que o lugar “tava bombando”.

A coincidência é que recentemente foi inaugurada uma loja de grife, em Recife, que vende roupas, digamos, mais "cabeçudas" (que deveriam ser diferentes e marcar a atitude no visual). O engraçado é que cada peça custa em média R$200, 00. E no final, sai todo mundo vestido igual.

Que cinema quê nada, a moda agora é ser “Cult”!!!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Curtas em 35MM

Mais alguns comentários dos curtas exibidos no Cine-Pe 2008:

O Documentário Câmera Viajante, do diretor cearense, Joe Pimentel, também foi um sucesso de público e crítica. O filme conta a história de 4 fotógrafos do interior e, como todo documentário, seu ponto forte são os personagens. Senhores humildes e de senso de humor peculiar, os fotógrafos em questão conquistam pelo carisma. Sensibilidade é a melhor palavra para descrever Câmera Viajante.

Décimo Segundo filme do diretor pernambucano Léo Lacca, foi um curta “polêmico”. O filme dividiu opiniões e a exemplo do que aconteceu na exibição feita no Festival de Brasília, o filme foi vaiado pela platéia que estava no Guararapes, no feriado de primeiro de maio.

A crítica, porém, elogiou o trabalho do diretor e também do ator, Irandhir Santos (protagonista de Amigos de Risco e da série global, A Pedra do Reino). O filme tem uma história mais profunda de ser captada, mas é tecnicamente muito bem feito. Resta saber se o publico recifense vaiou o filme porque não entendeu, ou porque repetiu o comportamento dos brasilienses, estampado dias antes, nos jornais Pernambucanos. Vale dizer que o filme de Lacca foi selecionado para participar do Festival de Berlim.

No último dia da mostra competitiva de curtas, o público ganhou um presentão. Os três filmes da noite foram um verdadeiro sucesso. A começar pela animação Dossiê Rê Bordosa, de César Cabral. O Roteiro super original de César e Leandro Maciel traçou, em formato de “documentário”, a história do assassinato de uma das personagens mais famosas do cartunista Angeli: A Rê Bordosa.

A animação é muito bem montada e reproduz, com riqueza de detalhes, os trejeitos de amigos, e da equipe do desenhista. Inclusive do próprio. O curta fez a platéia reagir do início ao fim com muitas gargalhadas. Favorecido pelo humor ácido e peculiar do já consagrado artista, Angeli, o Dossiê foi sem sombra de dúvidas um dos melhores curtas do Festival. Um excelente filme!

O Curta Café com Leite marcou a estréia atrás das câmeras, do jovem diretor paulista, Daniel Ribeiro. O filme mostra de maneira, delicada e sensível, sem muitos arrudeios, nem máscaras, a relação de dois jovens homossexuais e a maneira como eles reagem a morte dos pais de um deles, que recebe a missão de cuidar do irmão mais novo. A forma natural como o diretor aborda o cotidiano do casal, é o grande diferencial do filme. A platéia pernambucana reagiu às primeiras cenas de carícias do filme, com certo desconforto e gritos efusivos. Mas logo em seguida o público se rendeu a história envolvente do curta, que terminou a exibição sendo bastante aplaudido.

Mas quem, literalmente, ganhou a noite foi Os Filmes que Não Fiz. Filmado em formato de documentário o diretor , Gilberto Scarpa, conta de maneira muito bem humorada seus fracassos profissionais. Protagonista de sua própria “desgraça”, Scarpa conseguiu arrancar boas risadas do público recifense.

O Roteiro e a Montagem, do já premiado Cristiano Abud, ajudam, ainda mais, a dar um bom ritmo ao filme. Os Filmes que Não Fiz Os Filmes que Não Fiz teve sua consagração ao receber a calunga de melhor filme do Cine-PE.

Vale ressaltar que a mostra de curtas foi o verdadeiro destaque desta edição do Cine-Pe. Por alguma razão, a curadoria perdeu a mão na seleção de longas (da mostra competitiva) e colocou na programação filmes que são classificados apenas como medianos.

O resultado foi uma crítica massiva da imprensa especializada, e principalmente do público que lotou o Teatro Guararapes durante todos os dias do Festival. “Venho ao Cine-PE há pelo menos 8 anos, e com certeza os longas já foram muito melhores”, disse a cinéfila confessa, Rafaela Belo.

Como exemplo de filme “estranho” podemos citar Bodas de Papel, do diretor André Sturn. O filme, quase novelesco, foi atacado pela crítica, e mal falado por todos após a exibição, feita no terceiro dia do Festival. Mas por algum motivo, esse mesmo filme, que “quase” foi vaiado, levou o prêmio do júri popular. Coisas de Festival de Cinema, e de uma platéia conhecida por ser condescendente.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pernambuco faz bonito na primeira noite do Cine-PE

Dois curtas (entre eles um pernambucano) e um longa foram os destaques na primeira noite do Cine PE. O primeiro deles foi o curta-metragem digital, o documentário Amanda e Monick, do diretor paraibano André da Costa Pinto. O filme conta a história de dois travestis, com vidas antagônicas, vivendo numa cidadezinha no interior da Paraíba. Enquanto Monick ganha a vida fazendo programas, Amanda é professora de uma escola primária da rede publica.

Assim como todo bom documentário, o filme cresce à medida que os personagens vão revelando suas histórias. São elas (as personagens) que dão ao documentário um certo tom tragicômico ao filme. Por vezes tocante, em outros momentos, caricato. O que aproxima a história das duas é a maneira como ambas lidam com a condição de "ser diferente". Histórias bastante peculiares, que chegam até (em alguns momentos) a serem tratadas de maneira otimista ao extremo. Como se o fato de ser travesti, em uma cidade de interior não trouxesse nenhum obstáculo à vida dessas personagens. Mas, no todo, é um filme interessante, bem montado e com depoimentos envolventes que conseguem prender a atenção do espectador.

O outro curta que roubou a cena, durante as exibições da segunda-feira do Cine-Pe, foi a animação pernambucana Até o sol raiá, dos diretores Fernando Jorge e Leandro Amorim. Ainda mesmo na exibição dos patrocinadores, o filme já estava sendo ovacionado pela platéia. Atitude compreensível, se levado em consideração o bairrismo do público pernambucano (eu me incluo nele) e a ansiedade de ver a primeira produção local, na tela da décima segunda edição do festival.

Até o sol raiá não deixou por menos, fez juz a animação do público e do início ao fim da exibição, o que se viu foi um trabalho primoroso e rico em detalhes. Com um roteiro que teria tudo pra cair no “clichê”, já que contar a história de Lampião e Maria Bonita não é nenhuma novidade, principalmente por aqui.O filme inovou e fez uma releitura da história, dessa vez representada pelos tradicionais bonecos de barro do artesanato pernambucano. Os detalhes nas expressões dos personagens e a pitada de humor do roteiro arrebataram de vez a platéia do Guararapes, que ao final da exibição, voltou a ovacionar o filme. Dessa vez, de puro orgulho!

Fechando a noite (da mostra competitiva de longas), o documentário Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife, do cineasta pernambucano Léo Falcão, era o filme mais esperado da noite. Muito vinha se falando acerca do material coletado pelo diretor e das participações ilustres como a de Lenine, Reginado Rossi, Geninha da Rosa Borges, entre outros. Todos personagens que têm uma relação muito pessoal com a cidade.

O filme, que marcou a estréia do diretor em longas, acabou sendo prejudicado por alguns problemas de projeção. Segundo o diretor, Léo Falcão, o equipamento de exibição da sala tinha uma qualidade inferior em relação ao equipamento no qual foram feitas as filmagens. “O projetor digital não estava dando muito resultado. Mas para a gente era natural começar aqui no cine PE, e, mesmo sabendo que a gente podia ter problemas, nós fizemos questão disso”, disse Falcão ao final da exibição.

O Guia, como é chamado pela equipe, agradou a platéia apesar de ter feito muito crítico torcer o nariz. Talvez por ter sido, originalmente, pensado como um vídeo institucional produzido para a Fundação Gilberto Freyre, o longa tenha recebido um olhar mais crítico dos conservadores do cinema. Mas o fato é que o documentário conseguiu reunir pessoas e lugares marcantes na história do Recife, costurados pelo texto de Gilberto Freyre, em consonância com o olhar do cineasta, o que nos permitiu fazer uma releitura de alguns pontos da cidade. Por vezes um tanto quanto passional, sim! Mas falar que recifense é passional, é redundância.

domingo, 4 de maio de 2008

Venturas e Desventuras de uma “aprendiz de jornalista” cobrindo um Festival


Olá pessoas que ainda acompanham esse blog,

Peço perdão pela demora nas atualizações, mas vocês devem concordar que administrar dois estágios, uma faculdade, e ainda por cima um blog, é no mínimo complicado.

Nos próximos posts tentarei passar para vocês as minhas impressões do 12º Festival de Cinema de Pernambuco – Cine PE (motivo de minha justificada ausência).

Não farei aqui uma análise crítica dos filmes (talvez de alguns, só os preferidos), mas sim um apanhado geral do que foi o festival: pontos fracos e fortes, presenças marcantes... Enfim, essas baboseiras que jornalista adora reparar.


Primeiro dia do Festival mais esperado do ano: Cine PE, em sua 12ª edição. Eu, como estudante de jornalismo, tendo pela primeira vez a missão de fazer uma cobertura do evento que, até então, acompanhava apenas como cinéfila confessa.

Chego ao Centro de Convenções com um friozinho na barriga. A iluminação, a música, as pessoas... Tudo dá ao lugar um clima diferente de festival. O Festival. Só quem é apaixonado por cinema entende a sensação de saber que vai começar a ver uma maratona de filmes que você, na maioria das vezes, por enquanto só ouviu falar.

Recife, em especial, tem uma cena muito peculiar. Já não é de hoje que o cinema local vem despontando em âmbito nacional. E nomes que costumam freqüentar as mesas de bar da noite pernambucana ganham notoriedade e respeito por executarem trabalhos primorosos.

Eu, como “foca”
[1] que sou, fico na linha tênue entre a tiete e a profissional. Esse festival foi a constatação de que ainda tenho muito o que aprender até conseguir não ficar nervosa ao fazer uma entrevista com alguém que admiro.

Não me considero uma pessoa tímida, mas logo na chegada já senti uma certa “inibição” só de constatar que num mesmo campo de visão eu conseguia registrar as presenças dos diretores Daniel Bandeira, Leo Falcão e Kleber Mendonça, que ainda por cima, é um dos meu críticos preferidos.

Resolvi ir assistir os curtas, antes de começar a maratona de entrevistas. Destaques para os curtas Amanda e Monick, documentário da Paraíba e Até o sol raiá, uma animação Pernambucana (comentarei os curtas e o longa do dia no próximo post).

Voltando para as minhas “desventuras” jornalísticas, tinha que começar a fazer meu trabalho. Enquanto assistia ao último curta do dia, vi que Lenine (sim, o cantor) havia entrado no teatro por uma portinha lateral bem juntinho de onde estava sentada. De imediato pensei em entrevistá-lo durante o intervalo, e fiquei o resto da sessão pensando na melhor forma de abordagem. Sempre fico constrangida com esse tipo de situação porque acho que no fundo, no fundo, todo artista deve achar um saco ficar dando entrevista. Além do mais, morro de medo de falar alguma besteira, principalmente na frente de alguém que admiro. Mas fazer o quê se eles são artistas e eu sou jornalista. Não tem jeito! Fui dar a cara à tapa.

Esperei ele ir para a parte externa, e quando se aglomeraram meia dúzia de jornalistas me meti no meio com a cara e coragem, segurando meu mísero celular para gravar a entrevista (Ontem um amigo me disse que só tem uma coisa pior que ser jornalista, ser estudante jornalismo. Tem que fazer a entrevista na cara dura, sem credencial, sem câmera, sem nada... dependendo da boa vontade alheia). Consegui fazer três perguntas, que Lenine, super simpático e solícito, me respondeu muito calmo e sorrindente. Eu, do outro lado, mantinha um sorriso amarelo, mas tremia e suava mais que "tirador de espírito". Ai que nervoso! Minha primeira entrevista alguém importante de verdade.

Terminei, salvei o arquivo, e voltei para assistir o longa mais esperado da noite: Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife, de Léo Falcão. Assisti o filme e voltei para casa com o ego inflado e uma sensação de dever cumprido. Até pegar o celular e procurar o arquivo que deveria ter o nome de “Sonora Lenine”. Procurei em todas as pastas, no telefone, no chip... até na parte de vídeos. A gravação simplesmente desapareceu, ou melhor, eu devo ter apagado, ou feito alguma besteira no auge da minha tremedeira de principiante.

Balanço do primeiro dia, da minha primeira cobertura, da minha primeira entrevista com alguém importante: Eu não tenho nenhuma gravação! Não tenho nada guardado que comprove que eu realmente falei com Lenine. Fazer o quê? São peças que a tecnologia e a vida de principiante pregam na gente. A única coisa que eu posso fazer é contar a história. Acreditem: Eu entreviste Lenine! ;)



[1] Termo usado no jornalimo "o" foca. Jornalista novo, inexperiente. Um foca. Consta que o apelido vem dos remotos tempos do flash a magnésio. Os fotógrafos dos jornais preparavam suas máquinas: focavam e deixavam o obturador (uma pequena "janela") aberto. Quando todos estavam prontos, alguém riscava um fósforo numa placa de magnésio e ela "explodia" num clarão. Essa luz passava pelo obturador aberto e impressionava a chapa, o avô do filme. Ocorre que alguns fotógrafos, inexperientes, demoravam para preparar a máquina - e atrasavam os outros. "Péra aí, estou focando." E os outros: "Foca logo, caramba". E mais tarde... "Ih, lá vem o foca". Esta é a história que eu conheço. Vendo o peixe como comprei. Valdir Sanches é jornalista e colunista do Planeta Express.