quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Respeitável público, vem chegando o circo

Começa em outubro a quinta edição do Festival de Circo do Brasil

Outubro é o mês da criança, mas tanto os pequenos, quanto os mais crescidinhos vão poder comemorar a data desfrutando de toda a magia que só o circo pode oferecer. Entre os dias oito e 18 de outubro começa no Recife a quinta edição do Festival de Circo do Brasil. Ao longo de dez dias, uma vasta programação com companhias de circo do Brasil, e do exterior, vão movimentar vários pólos espalhados pela cidade. O Festival também marca as comemorações do ano da França no Brasil, e nessa edição vai contemplar as principais companhias de circo dos dois países.

“ Tentamos fazer um pequeno panorama do circo tradicional até circo contemporâneo francês. Ao todo serão seis montagens francesas e mais de onze atrações nacionais”, explica a coordenadora e curadora do evento, Dani Hoover. Há cinco anos à frente da organização do festival, Hoover destaca que a França é hoje um dos principais celeiros de talentos circenses, que conseguem dialogar com técnicas arrojadas e inovadoras. Em conjunção com os espetáculos nacionais, o festival vislumbra apresentar ao público um recorte de toda efervescência da produção de circo ao redor do mundo. “A proposta do festival é cada vez mais ampliar o horizonte do circo, e de como ele é visto pela plateia. Tivemos edições exclusivas de lona, de rua, e de palco. Queremos apresentar as várias expressões que o circo tem no mundo. Toda sua abrangência mesmo que de forma fragmentada. Estamos mostrando que o circo saiu da lona e ganhou outros espaços. É uma arte aberta a várias linguagens”.

Nomes de peso do cenário internacional farão, pela primeira vez, apresentações no país. As companhias francesas Cirque Fusion, Akoreacro e Non Nova, se apresentam em sessões exclusivas do Festival. Entre essas, destaque para um dos mais esperados espetáculos “P.P.P.”, da Non Nova, que vai colocar congeladores e bolas de gelo no palco do Santa Isabel, que serão manipuladas pelo malabarista Philippe Ménard. O espetáculo, que já passou por 60 países, e foi eleito um dos cinco melhores espetáculos pelo Culture France, apresenta toda a técnica e rigor da arte circense. “ O artista constrói uma performance de arte contemporânea, desde a concepção plástica, até a conceitual, que aborda o transexualismo, através da mutação das coisas”, explica Hoover.

Entre as crias da casa, o número do malabarista Luís Sartori, “Carton” será o responsável pela abertura do Festival. Uma da melhores companhias brasileiras, os pelotenses do grupo Tholl retornam à cidade com o espetáculo “ Imagem e Sonho”. Além disso, a intervenção do grupo Acrobático Fratelli, “Travessias Urbanas”, deve movimentar e chamar a atenção de quem passar pela Av. Conde da Boa Vista no dia da apresentação. A programação completa está disponível no site do Festival www.festivaldecircodobrasil.com.br.

Espaço para tradição

Apesar do recorte voltado para números que apresentam a vanguarda das artes circenses, a quinta edição do Festival de Circo do Brasil também terá espaço para as apresentações na linha mais tradicional. A Praça do Arsenal da Marinha, localizada no bairro do Recife, vai se transformar num grande picadeiro com três palcos que receberão vários espetáculos. No dia 12 de outubro, dia das crianças, uma programação especial com Banda Gigante(SP), Trio Zindare (FR) e Cirkologiom (FR) inaugura a temporada na Praça. Entre os dias 13 e 15, haverá na Praça do Arsenal, diariamente, apresentações de palhaços com os espetáculos “Pelo Cano” e “Jogando no Quintal”. Na sexta-feira, 16, o Circo Vox chega para compor o fim de semana de encerramento do Festival. Nos dias 17 e 18 de outubro, estará disponível na Praça do Arsenal uma série de equipamentos - cama elástica, arame, diábolos e malabares - que poderão ser utilizados livremente pelo público. Os franceses Trio Zindare, Triskel e Cirkologiom compõem a grade de programação. Outros locais também receberão espetáculos, como o Parque 13 de Maio e o Parque da Jaqueira.



“Cabaré Circense”

A boate NOX também será um dos roteiros dentro da programação diversificada do Festival. No dia nove de outubro a boate recebe a festa, que é uma tradição dentro dos festivais de circo no mundo todo, intitulada “Cabaré Circense. O evento vai receber apresentações dos grupos O Teatro Mágico e Acrobático Fratelli. Além de ter discotecagem do DJ Dolores, tocando músicas francesas, e DJ Jérome Pigeon - de uma das casas mais famosas de Paris a Favela Chic - pilotando as pic-ups com músicas nacionais. A festa ainda vai abrir espaço para que os artistas presentes façam apresentações espontâneas de seus números favoritos.


* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 30/09/2009

A adolescência não é limitada

Difícil a vida de um artista que vislumbra transitar por diferentes meios, mantendo sempre um trabalho de consistência. Conseguir êxito no cinema, e no teatro, quando se está impregnado por referências televisivas, talvez seja ainda mais difícil. O espetáculo “Aonde está você agora?”, exibido em três sessões totalmente lotadas (uma no sábado e duas no domingo) no teatro de Santa Isabel, é um bom exemplo dessa celeuma.


Protagonizada e dirigida pelo ator Bruno Gagliasso, que divide o palco com Thiago Martins, a montagem aproxima-se bastante de um clássico folhetim de novela das oito. O que não precisa ser de todo negativo, já que a grande maioria do público (feminino) - munido de máquinas fotográficas, e fazendo pedidos de telefone - estava ali para ver o “Tarso” (personagem de “Caminho das Índias”), independente do que fosse ser apresentado no palco.

Em sendo assim, a história de dois amigos que se conhecem ainda na infância, se separam na adolescência, e seguem caminhos diferentes, até um reencontro emocionado, é suficiente para fazer a plateia rir, e até chorar - “Tem gente chorando”, disparou o ator durante os agradecimentos - com o previsível fim.

Uma pena porque, de fato, tanto Bruno quanto Thiago, revelam-se excelentes atores técnicos. Convencem nos papéis de meninos de oito, 15, e 22 anos. O problema é que existe algo que não se encaixa em “Aonde...“. É um certo ranço de teatro colegial, possivelmente agravado pela trilha sonora do Legião Urbana. Nada contra “Vento no Litoral” - música que inspirou o espetáculo - mas um texto sobre adolescentes, não precisa, nem deve ser limitado.

A peça, que tem tom simplista, com apenas os dois atores em cena, um telão, e a iluminação, fica ainda mais comprometida em função do Santa Isabel. Com uma plateia verticalizada, o público acomodado nos camarotes laterais perdeu a capacidade de acompanhar as imagens projetadas no telão.

Não que ele fosse peça fundamental para o entendimento da história, mas talvez tenha ajudado na composição, e na ambientação dos personagens. No mais, foi bacana ouvir o Gabriel (Martins) entoando clássicos da Legião dos anos 1980, e ver o Pedro (Gagliasso) ensinando aos jovens a diferença entre sexo com amor, e somente sexo. Montagem bem educativa.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 28/09/2009


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Maior idade do deboche

Trupe do Barulho completa 18 anos de muito riso e casa cheia

Quando começaram apresentando um “pocket-show” na boate “Araras Dancing Bar” no início da década de noventa, os atores que viriam a formar a companhia de teatro “ Trupe do Barulho”, não podiam esperar que fariam uma trajetória de tanto sucesso nos palcos. O show de humor “Cinderela a História que sua Mãe não Contou” era baseado no escracho e tinha duração de 40 minutos. Em menos de um ano o púbico praticamente dobrou e a casa já não dava mais conta da demanda. Foi quando surgiu a ideia de estender o show e transformá-lo em um espetáculo para teatro.

Mas, subir aos palcos não foi tarefa tão fácil. O grupo, formado na época pelos atores Jason Walace, Aurino Xavier, Jô Ribeiro , Flávio Luiz, Ináldo Oliveira, Luciano Rodrigues e Edílson Ryggard, encontrou muitos obstáculos para conseguir que a montagem baseada no humor rasgado fosse aceita pelos teatros da Cidade. Chegaram ao teatro Valdemar de Oliveira, casa que acolheu o grupo, e os abriga até hoje. “Devemos isso a Reinaldo Oliveira, que nos abriu as portas com a condição de que a equipe estivesse de acordo. Graças a ele estamos lá até hoje”, relembra Aurino Xavier, um dos fundadores da companhia.

Estrearam no palco à 0h do dia 20 de setembro de 1991 com casa lotada. “ Tivemos uma recepção muito boa porque na época havia um ‘boom’ do movimento das dragqueens e retratamos exatamente esse universo. Nossa estratégia para atrair o público era dizer que o espetáculo tinha de tudo, mas o que acontecia é que estávamos contando uma fábula infantil de uma forma diferente. O que fazemos é brincar com a safadeza, usar a linguagem popular da forma que ela realmente é falada, isso nos aproxima do público. Não existe baixaria. O palavrão está dentro de um contexto”, destaca o ator.

Hoje, 18 anos depois, foi justamente o escracho e o deboche tão característicos da Trupe que os alçou a categoria de uma das mais antigas e bem sucedidas companhias de teatro do Estado. Ao todo, são 10 espetáculos no repertório de comédia do grupo, sendo apenas um deles voltado para o público infantil: “O Mistério das Outras Cores”.

É bem verdade que ao longo dessa jornada a Trupe sofreu algumas baixas. Ainda no final da década de noventa, Jason Walace, protagonista do principal espetáculo da companhia, deixou o grupo para apostar em novas possibilidades para seu personagem “Cinderela”. E em 1997, o falecimento de Edilson Ryggard - que dava vida ao personagem do príncipe do espetáculo - também abalou bastante o elenco. Porém, nada que apagasse o brilho e a vontade de fazer rir.

Em meio a uma trajetória controversa, e aquém do olhar atravessado dos críticos, que insistiam em torcer o nariz para o tipo de representação feita pela Trupe do Barulho, o grupo conseguia, ano após ano, renovar seu público e garantir o sucesso das bilheterias. Eduardo Japiassú, um dos atores do elenco de “Apareceu a Margarida” - montagem mais recente da companhia - lembra que ao entrar para a Trupe conseguiu pela primeira vez o reconhecimento dos fãs, mesmo depois de mais de 20 anos nos palcos. “ A relação do público com a trupe é o que existe de mais fascinante. Temos blogs, fã-clubes, e gente que não perde um só espetáculo”, Disse Japiassú.

O reconhecimento é o reflexo de um trabalho sério e profissional feito por todos aqueles que apóiam o trabalho da companhia. “ Fazemos um trabalho de pesquisa igual ao de qualquer outro grupo, temos compromisso e responsabilidade com nossos personagens. Com isso, conseguimos atingir todos os públicos. Nossa plateia não é segmentada, temos gente que vem de Boa Viagem, e do Auto do Mandu. Todos se divertem da mesma forma”, afirma Flávio Luiz.

HISTÓRIA

Entre alguns dos muitos sucessos que marcam a trajetória da Trupe do Barulho, “Cinderela - A História que Sua Mãe não Contou”, é sem sombra de dúvidas o espetáculo que teve mais repercussão no repertório da companhia. Tanto que foi o personagem que projetou Jason Walace a uma perspectiva Nacional. E fez do bordão “Ôxe Mainha” um verdadeiro hit.

O sucesso foi tanto que os atores costumam contar com orgulho um episódio no qual, certa vez, quando se apresentavam pelo projeto “Todos com a Nota” esgotaram a capacidade do teatro do Parque e levaram uma multidão à Avenida Conde da Boa Vista em busca de ingressos. A procura foi tanta, que forçou os organizadores do evento a agendarem uma nova apresentação. Dessa vez o local escolhido foi o ginásio do Geraldão que também teve sua capacidade esgotada e confirmou perante todos que a fórmula do riso e do deboche dá resultado.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 21/09/2009

A arte de projetar

Arquitetura como expressão artística reflete transição dos tempos

Já parou para pensar que sempre que queremos citar um exemplo de beleza arquitetônica fazemos menção a prédios antigos? Um erro recorrente, e que é usualmente repetido por pessoas em diversas áreas, é excluir a arquitetura do ramo das expressões artísticas, como se a mesma não representasse o mais puro significado de arte. Principalmente no que diz respeito à arquitetura contemporânea.

Porém, tanto quanto os estilos de outrora, os projetos modernos e pós-modernos também possuem o seu charme e estão carregados de significado e inspiração de seus projetistas. O fenômeno de incompreensão da arquitetura como representação artística começou a acontecer durante o Movimento Moderno. Prédios que antes eram repletos de ornamentos, a partir do século XX começaram a perder essa característica em função do paradigma “forma x função”. “Influenciados pelas artes plásticas, os arquitetos começaram a pensar projetos mais simples que tinham base na composição de volumes e cores, não mais na ornamentação”, destaca o Doutor em Teoria e História da Arquitetura pela Universidade da Cataluña, e professor da UFPE, Maurício Rocha.

De acordo com o professor, a arquitetura é uma arte cara, feita para ser vista e usada. Por esse motivo, durante o período das duas grandes guerras mundiais, uma de suas principais características - a ornamentação - foi abandonada pela necessidade de se reconstruir cidades inteiras de forma rápida e barata. “A perda do ornamento foi uma questão de ordem prática”, lembra Rocha.

Para entendemos melhor esse processo podemos traçar uma linha do tempo de edificações. No Recife, três construções servem como bom exemplo de fachadas ornamentadas. A igreja de São Pedro dos Clérigos (XVIII) tem características do Barroco, enquanto que o Teatro de Santa Isabel (XIX) apresenta características do Historicismo Neoclássico. O prédio do Palácio da Justiça (primeira metade do séc. XX) é caracterizado como um edifício eclético, que possui características de vários estilos, chegando ao máximo de ornamentalidade em um único espaço. A partir daí, os projetos começaram a seguir a tendência mundial trazida pelo Movimento Moderno, linhas mais retas e funcionais ditavam um estilo, que pode ser muito bem representado pelo edifício Acaiaca, na Avenida Boa Viagem.

Entre os projetos mais recentes, o Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano (Joana Bezerra), pode representar alguns indícios do Pós-Modernismo na paisagem da cidade. Com uma estrutura menos rígida, a construção já permite a volta do ornamento. “Ainda temos pouquíssimos exemplos pós-modernistas pelo preconceito em torno do ornamento que foi criado pelo movimento moderno. No sul e sudeste já é mais comum encontramos a presença do adorno em correntes que podemos chamar de “retrô”, explica o professor. “O mais importante é entendermos que sempre que mudam os paradigmas as pessoas acreditam que a arte acabou, mas o que acontece é que a arte se adapta. Cada tempo tem sua arte, e ela representa o estilo de seu próprio tempo”.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 20/09/2009


Uma verdade cheia de “clichês”

Se existe um mérito para o novo filme do diretor Robert Luketic, “A verdade nua e crua” (The Ugly Truth, EUA, 2009), é o fato da narrativa de uma comédia romântica ser construída sob a perspectiva masculina de relacionamentos. Fato pouco visto em filmes do gênero. Apesar de ter uma mulher como protagonista da história - a produtora de TV obsessiva, controladora e solitária, Abby Richter, vivida pela atriz Katherine Heigl - a verdade que Luketic pretende expor são as mais profundas aspirações dos “machões” de plantão.

O problema é que para cumprir seu objetivo o diretor pesa na mão, e exagera na dose de “clichês” para retratar o universo dos machos alfas. Mike Chadway, interpretado por um dos atuais queridinhos de Hollywood, Gerard Butler, é o apresentador de um programa sobre relacionamentos especializado em dar conselhos para mulheres desesperadas, dispostas a aceitar qualquer tipo de opinião machista para conquistar um namorado. Depois de um embate com uma telespectadora revoltada, a própria Abby Richter, Mike é convidado a trabalhar na emissora de Abby, que passa a ser sua produtora. A missão de ambos: elevar os índices de audiência às custas dos conselhos de Mike. Ou seja, às custas de muita baixaria. Em paralelo, Mike também tem a missão de ajudar Abby a conquistar Colin (Eric Winter) A partir daí, o filme segue uma receita de bolo tão precisa que chega a ser tediosa. E claro que os dois vão acabar se apaixonando.

É bem verdade que alguns momentos rendem boas risadas, como a cena em que Abby usa uma calcinha com vibrador durante uma reunião de negócios. Mas apesar dos poucos momentos bem sucedidos, a fórmula usada é a mesma conhecida por todos. A ideia inicial de expor o “lado b” da relação acaba sendo descaracterizada, os personagens perdem seus traços mais extremados (que eram os mais interessantes), e tornam-se iguais a diversos outros já bastante íntimos do público. Reafirmando o conceito desgastado de que nesse gênero de filme, o que mais vale é deixar o espectador livre de surpresas.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 18/09/2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O ácido e o doce do homem

CENAS fortes ora constrangem, ora encantam o público

Escuta-se a campanhia anúnciando que o round de uma batalha vai começar. Como no boxe, combatentes se enfrentam numa batalha de palavras, ou da ausência delas. Mas esta é uma batalha de vencidos e vencedores que se dá no palco. “Carícias”, peça de estréia do cineasta Leo Falcão, que iniciou temporada sábado no Hermilo Borba Filho, nos leva a perceber o que há de mais delicado nas relações humanas: o próprio ser-humano.

Os conflitos entre pais, filhos, irmãos, namorados, amantes... são o principal foco no texto escrito pelo catalão Sergi Belbel. Porém, é na leitura feita por Leo, com ajuda da irmã Karina Falcão - assistente de direção - que a narrativa ganha outra dimensão. O Realismo Fantástico, traço estilístico mencionado pelo diretor, está presente, e se faz crucial para suavizar o peso de relações tão desgastadas e viciosas.

Em um tabuleiro de um jogo imaginário da vida, os personagens se revezam em situações comuns a todos nós. O casal que vive um casamento falido, a filha que não aceita ouvir verdades de sua mãe, o marido que enlouqueceu ao perder a mulher para outra mulher. Conflitos possíveis de verdades embaraçosas, difíceis de ouvir. As pessoas temem suas próprias verdades, e comunicar-se vira uma barreira intransponível.

O talento do elenco com Ana Cláudia Wanguestel, Carlos Lira, Cira Ramos, Marcelino Dias, Paula de Renor e Rodrigo Garcia são um atrativo a mais. Afinados com o diretor, eles dão leveza a assuntos difíceis. Cenas como a da banheira partilhada por pai e filho, ou a do rompimento dos amantes, ganham ares surreais pela verdade quase nunca dita. Ora constrangendo, ora encantando a platéia, que assiste a tudo como se fosse o vizinho que aponta as mazelas do apartamento ao lado, esquecendo de suas próprias.

“Carícias” com frescor de novidade

Um final de semana de estreias promete movimentar o mundo das artes cênicas na cidade. Duas grandes produções começam suas respectivas temporadas hoje, mas antes mesmo de colocar o resultado no palco (e por razões diferentes), já estão dando o que falar. Uma das grandes expectativas do sábado é o espetáculo “Carícias”, que marca o “debut” do cineasta Leo Falcão, à frente da direção teatral. A peça, que tem texto do dramaturgo catalão Sergi Belbel (com tradução da carioca Christiane Jathay), propõe uma viagem através das relações humanas e as situações limites com as quais nos deparamos em mundo que prima pela comunicação, mas no qual comunicar-se passou a ser um desafio.
Com uma carreira de mais de 10 anos no cinema, Leo Falcão, tem em seu currículo filmes como “Lugar Comum” (2002), “A Vida é Curta” (2008) e “Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife” (2008). Agora, o diretor deixa sua zona de conforto, e se aventura em novas formas de expressão. “Eu estou experimentando outros meios narrativos, acho curioso como parâmetros expressivos funcionam em linguagens diferentes. O teatro é um ambiente rico para experimentar”, explicou o diretor.

O convite para dirigir o espetáculo partiu do elenco formado pelos atores Ana Claudia Wanguestel, Carlos Lira, Cira Ramos, Marcelino Dias, Paula de Renor e Rodrigo García. O grupo queria experimentar uma nova forma de fazer teatro, e, para isso, precisavam de alguém novo que topasse o desafio. A transição de meios ficou mais fácil com a ajuda da irmã, Karina Falcão, que assina a assistência de direção e preparação de elenco do espetáculo. “Eu o ajudei a fazer o link do estilo que ele já tem com o teatro. Foi tudo bem tranquilo”.
Para falar de relacionamentos, Leo Falcão faz uso da metaliguagem e coloca os atores em um grande tabuleiro. Durante rodadas de um jogo, as relações interpessoais vão se desenhando, e fica exposta a fragmentação existente no processo de comunicação do homem contemporâneo. O Realismo Fantástico, traço recorrente no trabalho do diretor, também se faz presente a partir da metáfora usada para tratar dos conflitos. “O texto é muito visceral, e podia pedir uma montagem mais realista. Mas optei por algo mais leve”, disse Falcão.

Serviço:
“Carícias”
Teatro Hermilo Borba Filho - Recife Antigo
Sábado (12), apenas convidados /
Temporada: sábados e domingos, às 20h
Ingressos: R$ 15,00 e R$ 7,50
Informações: (81) 3232-2030 3232-2028
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 12/09/2009

Hamlet mais perto do povo no Barreto Júnior

No outro lado da cidade, mais uma estreia também promete causar furor entre os amantes do bom teatro. Trata-se de “Encruzilhada Hamlet”, terceiro espetáculo montado pela Cia. do Ator Nu, formada pelos atores Edjalma Freitas e Henrique Ponzi. Com texto e direção do dramaturgo João Denys, a peça faz um recorte de um dos textos mais conhecidos de William Shakespeare, entretanto é importante destacar que o espetáculo não é apenas uma adaptação da obra que retrata os dilemas do jovem príncipe dinamarquês. Em “Encruzilhada...” Denys propõe uma análise diferente acerca dos personagens de Hamlet e do Coveiro. Precisamente sobre as relações e tensões entre um representante do povo e um representante da nobreza, partindo de uma condição única: a de estarem sob a terra.

“Uso o Hamlet como matéria prima para a criação. Parti de um personagem existente, e de uma situação existente, para fazer cruzamentos e abusar da intertextualidade”, explica Denys. Em sua versão, os espíritos de Hamlet e do Coveiro aparecem em cena num túmulo de vidro. Como estátuas de mármore em um cemitério, inteiramente nuas e enterradas até o abdômen, as duas personagens encenam o conflito entre o grande e o pequeno, o rico e o pobre, o erudito e o ignorante.
Na construção da narrativa, o diretor ainda faz uso de citações de diversos dramaturgos que lhe serviram de referência ao logo de sua carreira nos palcos. Samuel Beckett, Lorca, Brecht, e até referências bíblicas são apenas alguns exemplos. “É como se eu estivesse dizendo aqui, como eu entendo teatro, como eu gosto de fazer teatro. Teatro para mim é poesia. Estou fazendo um inventário de mim mesmo”, afirmou Denys.

Serviço:
“Encruzilhada Hamlet”
Teatro Barreto Júnior - Pina
Sábados e Domingos, às 20h30
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Informações: 3232-3054
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 12/09/2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um encontro para mover o mundo das artes

Foto: Arthur Mota
Um projeto audacioso está em fase de gestação. O espetáculo “Daquilo que move o mundo” (nome ainda provisório) reúne três grandes nomes das artes cênicas de Pernambuco: Irandhir Santos, Jorge de Paula e Kleber Lourenço. Há um ano e meio, o grupo “Visível Núcleo de Teatro”, formado pelos três, vem ganhando forma enquanto trabalha na concepção e pesquisa de um o projeto que surgiu a partir de suas inquietações sobre o andamento do teatro contemporâneo, e com questões ligadas a estética e a necessidade de realização de um trabalho de pesquisa continuado.

No último final de semana os atores avançaram mais uma etapa no processo de produção do espetáculo. Os diretores Francisco Medeiros e Tiche Vianna vieram ao Recife com o objetivo de estreitar as relações com elenco, e aprofundar o processo de construção dos personagens. “Foi muito bacana esse encontro porque tivemos a oportunidade de fazer um trabalho bem intensivo. Os diretores entraram em contato com tudo que já fizemos ao longo desse tempo. Tiche também propôs alguns exercícios, e agora começamos a etapa que chamamos de treinamento físico dos personagens”, ressalta Kléber, que complementa: “Encaminhamos o nosso planejamento, e possivelmente em novembro. Nosso objetivo é estrear o espetáculo em março, estamos dependendo da captação de recursos”.

Desde que conceberam a ideia inicial do projeto, os nomes de Tiche e Francisco foram unanimidade, Além da admiração recíproca, foi determinante para o convite a característica do trabalho continuado que ambos já desenvolvem. “Minha investigação principal é o trabalho do ator, essa oportunidade já me foi tentadora por si só. Depois o fato de ser um trabalho autoral, na contramão do mercado e no Nordeste. Não tinha como não fazer, sou apaixonada por quem faz o caminho inverso”, diz Tiche, responsável pela preparação do elenco. Francisco Medeiros também resumiu o sentimento que o motivou a embarcar no projeto junto com o grupo. “Para mim o mais importante é a grande dose de insensatez, isso é o mais instigante”.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 10/09/2009

Cena Aberta leva teatro para as ruas de Arcoverde

Os cariocas da Cia Mystérios e Novidades apresentam “Ciclopes” na abertura do Festival

Município tradicionalmente conhecido pela riqueza de seus cordéis, cantadores, poetas e repentistas, Arcoverde pode ser considerado um dos grandes berços de talentos do Sertão de Pernambuco. Artistas consagrados, a exemplo de Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, saíram de lá para levar o nome da cidade para o resto do País. É com base nessa tradição cultural que Arcoverde dá início, a partir de amanhã, ao primeiro Festival Cena Aberta - Semana Geraldo Barros. A mostra vai receber grupos de teatro do Acre, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Pernambuco, e até da França. O objetivo é apresentar espetáculos em diferentes espaços abertos da cidade, com intuito de sensibilizar as autoridades responsáveis para a total ausência de um equipamento público voltado para a atividade teatral no município.

“Estamos levando o Festival para espaços alternativos porque o único teatro da cidade está em obras há 20 anos. A obra foi embargada pelo Ministério Público e até agora a população não teve acesso a esse espaço”, explicou o coordenador do Festival, Romualdo Freitas. Mas mesmo diante da restrição de possibilidades, a causa maior que motivou a realização do Festival foi a vontade de levar uma programação teatral de qualidade para população que não costuma ter esse tipo de contato. “O benefício maior é para os arcoverdenses. Mas não apenas para eles, queremos mostrar que é possível levar um bom teatro mesmo para lugares que não dispõem de uma estrutura específica”, destacou Romualdo.
Além dos espetáculos teatrais, a programação ainda inclui oficinas, entre elas uma oficina de “clown” com a companhia francesa “Cie Du P’Tit Doigt” - que faz apresentações no Estado em função do ano da França no Brasil - exibição de documentários, shows, e dois colóquios que vão discutir “A Cadeia Produtiva da Arte” e “As Artes Cênicas e Seus Espaços de Representação”, com participação de representantes do Ministério da Cultura, Fundarpe, Prefeitura e Movimento Cultural de Arcoverde, entre outras atividades.

Entre alguns dos espaços da cidade que o Festival vai ocupar estão o Presídio Brito Alves, Galpão da Estação da Cultura, Largo de São Geraldo, Praça da Bandeira, Escadaria e Canteiro de Obras do Sesc. O Festival Cena Aberta acontece até o dia 20 de setembro. A programação completa da mostra está disponível no site da Folha Digital.



* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 10/09/2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Histórias de lá e de cá

Espetáculo teatral teve montagem holandesa e agora ganha a sua versão pernambucana

Foto: André Martins
Uma viagem no tempo de volta à época da presença holandesa em Pernambuco. O universo do conde Maurício de Nassau, a influência que sua presença exerceu sobre o Recife, e o seu envolvimento emocional com a cidade estão retratados no espetáculo “Histórias de Além-Mar”, que estreia hoje sua miniturnê, em Goiana, no Cine Teatro Polytheama, circulando ainda por mais cinco municípios pernambucanos: Itapissuma, Olinda, Recife, Igarassu e Itamaracá. Cláudia Maoli, carioca que reside na Holanda há 20 anos, assina a direção do projeto. A diretora escolheu Pernambuco como ponto de partida do espetáculo. “Pretendemos levar a montagem também para Maceió”, disse Cláudia.

Essa é a segunda vez que Cláudia Maoli é responsável pela montagem no espetáculo, cujo texto também é uma parceria Brasil/Holanda, escrito pelos dramaturgos Carlos Lagoeiro e Bouke Oldenhof. A versão holandesa do espetáculo “Verhalen van Overzee”, uma criação do Teatro Munganga, de Amsterdam, estreou em janeiro de 2007, na Holanda.

Agora, a pareceria se confirma em uma nova leitura totalmente adaptada ao cotidiano nordestino. O figurino ganhou novas cores, inspirado no açúcar tão peculiar a nossa terra. As experiências e improvisos do elenco ficam por conta das histórias vividas pelos próprios atores. “ É muito interessante a experiência de montar o mesmo texto em dois países porque lá ninguém conhece Nassau”, explica.

A peça, direcionada ao público jovem, tem um cunho predominantemente pedagógico. A ideia é envolver esses jovens e levá-los a conhecer a história de um período que foi essencial para o desenvolvimento cultural de nosso Estado. “Várias escolas da rede pública estão vinculadas ao projeto. Tivemos o apoio da Fundarpe e Prefeitura, além de uma parceria com professores de várias matérias como artes, geografia, história, entre outras”, destacou Andrêzza Alves, que faz parte do elenco local.

Ao longo dessa viagem ao século 17, vários temas são abordados: imigração; o sentimento de “ser estrangeiro”; relação colonizador/colonizado; e o confronto de visões da vida e do mundo são algumas das reflexões levantadas. Por vezes, surgem diálogos imaginários, como na cena entre Maurício de Nassau e um líder indígena Tapuia. E no seu contato com uma mulher, já que Nassau não se casou, morreu solteiro e solitário aos 75 anos na Alemanha. “ Esses momentos são delírios meus, uma licença poética do que eu acho que foi, e não do que aconteceu exatamente. Queria que a peça não fosse meramente histórica, mas também tivesse contato com o lúdico”, diz a diretora.

A montagem conta ainda com alguns detalhes marcantes, como a trilha especial, composta por Sérgio Campelo do Sa Grama. No papel do conde Maurício de Nassau, o ator Júnior Aguiar, foge ao arquétipo típico do europeu padrão. A linguagem do metateatro também é explorada, e contribui para o entendimento do público acerca do “fazer teatral”, além de deixar à mostra todo processo de apropriação do personagem com cochias expostas. Propondo além de uma viagem no tempo, uma viagem pelo do teatro.

Programação:
Goiana -Hoje (9), às 16h e 20h, no Cine Teatro Polytheama
Itapissuma - sábado (12), às 16h e 18h, no Parque Ecológico
Olinda - Domingo (13), às 18h, de setembro, no Mercado da Ribeira
Recife - Dias 15 e 16 de setembro (só para convidados), às 19h, no Campo das Princesas
De 22 a 25, de 29 a 30 de setembro, e dias 01 e 02 de outubro (somente para escolas públicas), às 13h30 e 15h30;
Dias 26 e 27 de setembro (aberto ao público), às 15h, no Instituto Ricardo Brennand
Dias 03 e 04 de outubro, às 19h, no Forte do Brum
Igarassu - dia 20 de setembro e 06 de outubro, às 16 e 19h
Itamaracá - dia 09 de outubro, no Forte Orange, às 16 e 19h.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 09/09/2009

Mãos à obra

Os segredos e riscos de colorir os cabelos, em casa ou no salão


Colorir os cabelos é mais que uma necessidade para as mulheres. A primeira “desculpa” para decidir pintar as madeixas - muito justa, diga-se de passagem - é cobrir o aparecimento dos fios brancos. Mas não vamos ser inocentes, estimuladas pelas várias opções disponíveis no mercado cosmético, a ideia de renovar o visual é o suficiente para recorrer ao recurso: rápido e limpo. Mas, junto com a mudança vem os efeitos da química existente no processo.

Para garantir que o resultado não seja desastroso, alguns cuidados são necessários. A orientação de um profissional habilitado é imprescindível. E mudar a cor do cabelo em casa, só usando os chamados tonalizantes. Este tipo de produto é menos ofensivo e permite uma aplicação simples, que pode ser feita pela própria pessoa. “O profissional é importante porque é ele quem vai fazer o diagnóstico do cabelo e identificar o que deve, ou não, ser feito”, adianta o cabeleireiro André Mesel. “Muitas mulheres que têm o hábito de pintar o cabelo em casa podem acabar manchando o cabelo, ter reações alérgicas, ou mesmo exagerar no tempo de ação do produto, o que pode ocasionar a quebra e queda do cabelo”, alerta Andre.

Situação semelhante ao que aconteceu com a estudante de administração, Carolina Valença. Mesmo já acostumada a pintar o próprio cabelo em casa, Carolina também já errou feio. “Um vez comprei tinta no lugar de tonalizante, e ao invés do cabelo ficar chocolate acabou vermelho. Foi péssimo, tive que esperar uma semana para poder consertar”. Com já repete a prática há algum tempo, Carolina percebeu que usar tinta em casa não é para ela. “Quando vou usar tinta, prefiro ir a um salão. Em casa, damos mais atenção a parte de cima do cabelo, e as pontas acabam ficando queimadas. O tonalizante é fácil de usar porque você pode espalhar como xampu”, explica.

O cuidado do salão é indispensável na opinião de Michelly Carvalho. “ Sempre que quero mudar prefiro vir no salão. A manutenção pode até ser feita em casa, mas uma vez por mês estou aqui para fazer os retoques”, diz Michelly, enquanto é atendida por Nice Correia e Pedro Araújo, que se revezam nas etapas do processo. O cabeleireiro destaca outro aspecto importante para quem pretende mexer na cor dos fios. “ É imprescindível que o cabelo esteja bem hidratado e preparado para receber a química. Da mesma forma que fazemos a hidratação do nosso corpo, também precisamos de uma hidratação externa na cutícula do cabelo”, diz Pedro.

Para isso, a escolha dos produtos é um detalhe que deve ser levado em consideração. Todas as mais importantes marcas de produtos para cabelos possuem linhas específicas para cuidados dos cabelos coloridos. A escolha é pessoal, mas a orientação de um bom profissonal também pode ajudar em relação a cuidados para manter a cor, o brilho e a saúde dos fios.

SERVIÇO
Set - Espaço Personal de Beleza
Paço Alfândega, loja 132, Recife Antigo
Fone: 3424 7447

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 06/09/2009

Nando Reis agita Porto de Galinhas

O Lual da Vila de Todos os Santos acontece na véspera do feriado

O mês de setembro mal começou, mas o que importa mesmo é que junto com ele chega também a estação mais quente do ano. Comemorando o feriado que marca a abertura oficial do verão por aqui, a Vila de Todos os Santos, em Porto de Galinhas, promove a festa “Lual da Vila”. Comandando a festa, o cantor e compositor Nando Reis apresenta pela primeira vez por aqui as músicas do seu mais novo CD “Drês”. Além de Nando Reis, as bandas pernambucanas Eddie e Nós 4 também prometem esquentar a noite de quem estiver por lá. O cantor fala sobre o evento:

Você tem uma relação bem interessante com o público de pernambuco. Está sempre fazendo shows por aqui. Esse é o primeiro show da turnê com o novo CD “Drês”, o que os fãs podem esperar de novidade?

Eu já vou a Pernambuco há muitos anos desde que começei minha carreira solo, gosto muito de tocar em Recife, o público sempre me recebe muito bem. Estou super empolgado de mostrar esse trabalho porque é tudo novo. Além das músicas, claro, tem cenário diferente, luz nova. O show tá muito legal.

É muito comum falarem que você é um copositor bastante autobiográfico pelo teor das suas músicas que sempre falam da suas experiências, dos seus filhos, ads suas relações. Essa exposição te incomoda de alguma maneira?

Eu não me importo em falar da minha vida. De uma certa maneira, no final das contas, todo mundo está sempre falando de si próprio. Isso é o que me dá instigação para produzir. Mas na verdade minhas músicas têm mais do que eu gostaria de ser, do que o quê eu realmente sou. São um desejo.

Em “Drês” você faz uma parceria com a Ana Cañas na música XXX como é voltar a fazer duetos?

Eu conheci a Ana e a gente se deu muito bem. Eu adoro a voz dela. Confesso que tem uma grande queda por vozes femininas, já tenho um logo histórico desde os tempos da Cássia. Sempre que possível gosto de fazer algo assim.

No início do ano foi lançado um documentário sobre os Titãs “A vida parece uma festa”. Em uma entrevista, na ocasião do lançamento do seu novo CD, você fez uma declaração de amor ao Branco Melo e ao grupo. Isso significa que qualquer mágoa que possa ter existido com a sua saída já foi superada?

Sim, houve uma mágoa, mas isso já sumiu completamente. A prova disso é o que está no documentário. Ele expressa muito bem o que é o titãs e a nossa relação. É lógico que as coisas mudaram, a gente já não se vê com a mesma frequência. Mas sempre que nos encontramos é uma festa. Eu adoro aqueles caras.

Você é um músico que costuma produzir bastante. Como é seu processo de criação. Agora que você está em turnê, existe uma pausa nas composições?

Sempre que gravamos um disco a gente já abre espaço para o próximo. Não tenho uma fórmula pré-determinada. Na verdade, tudo acontece ao mesmo tempo. Já tenho algumas coisas que pretendo usar, mas nada certo ainda.

Frevo no adeus a Nascimento do Passo

Parentes, amigos, ex-alunos, artistas e políticos prestaram homenagens

Uma multidão acompanhou o cortejo e o sepultamento do corpo de Nascimento do Passo na manhã de ontem no cemitério do Santo Amaro. Parentes, amigos, ex-alunos, artistas e políticos foram prestar uma última homenagem ao homem que ajudou a divulgar o frevo e a cultura de Pernambuco em todo o mundo. Como era de sua vontade, foi sepultado com a roupa de passista. A despedida foi marcada ao som do ritmo que regeu sua vida. O bloco foi pra rua, os passistas empunharam as sombrinhas e, em meio a muita emoção, realizaram o último desejo do mestre. Frevaram.

Entre alguns dos presentes, nomes de destaque da nossa cultura fizeram questão de prestar suas homenagens. “Fica o sentimento de perda irreparável. Lembro de Nascimento ensinando frevo nas ruas de Bomba do Hemetério, eu era criança e fiquei fascinado. Não poderia haver outra maneira para a despedida”, disse Maestro Forró. O sentimento era o mesmo também entre os familiares do passista. Milena Nascimento, uma de suas filhas (são seis ao todo) está morando no exterior há dois anos dando aulas de frevo. Veio da Suíça se despedir do pai e ressaltou a importância de fazer valer a vontade de Nascimento em não deixar o frevo morrer. “Esse é o nosso sentimento, mesmo com a dor precisávamos botar o bloco na rua e mostrar que será eterno”, disse.

O secretário de cultura do Recife, Renato L, também esteve presente e manifestou a importância do mestre para a cultura do Estado. “Vamos prestar uma homenagem ao seu trabalho no Carnaval de 2010 e também durante o Festival de Dança”, afirmou o secretário.

O sepultamento foi feito sob palmas, e com os dançarinos que ele ajudou a formar cantando versos que contam sua trajetória: “Na Escola do Frevo Nascimento do Passo se faz o passo pra valer”.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 04/09/2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nº 100

O centésimo post a gente nunca esquece. Gostaria de registrar aqui o meu carinho e o meu agradecimento aos meus queridos amigos, que tanto meu dão força, e acreditam nessa humilde "aprendiz de jornalista" que vos escreve.

Que venha o milésimo....


Beijo grande

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Morre um mito do passo

Um dos maiores nomes do frevo pernambucano, Nascimento do Passo será sepultado hoje, às 11h, no cemitério de Santo Amaro
Sombrinha de frevo na mão, e muito, muito passo no pé. Tanto que o talento deixou de ser ofício e passou a ser sobrenome. Nascimento do Passo. Assim passou a ser conhecido Francisco do Nascimento Filho, jovem amazonense de Benjamim Constant, que chegou ao Recife ainda jovem, e fez do frevo a sua vida. Aos 72 anos, o passista faleceu na madrugada de ontem vítima de um câncer no estômago. Nem de longe lembrava mais o bailarino forte e cheio de vitalidade que um dia foi. Estava deprimido. As acusações de abuso contra menores afastaram Nascimento dos palcos, das aulas, e de sua maior paixão: o frevo. Já não dançava. Mas o brilho e o legado deixado por esse mestre não se apagará com sua partida. Nascimento do Passo está para o frevo pernambucano assim como Ana Botafogo está para o balé do Municipal. São coisas indissociáveis e incontestáveis.

Ontem, durante todo o dia, amigos e parentes entravam e saiam do velório. Queriam dar o último adeus àquele a quem chamam de mestre. José Clemente Filho era um deles. Amigo próximo, conhecia Nascimento há 25 anos e aprendeu com ele a cultivar a paixão pelo passo. “Eu já era apaixonado pelo frevo, mas não sabia frevar. Aprendi toda minha técnica com ele. Hoje dou aulas na comunidade do Cardoso”, lembrou José Clemente. O amigo também fez questão de frisar a importância de Nascimento do Passo na divulgação do frevo no Brasil e no mundo. “O negão, meu negão, era internacional. O frevo agora fica mais pobre, em pouco tempo perdemos Salustiano, Eneas e agora Nascimento”, completou emocionado.

A lembrança do trabalho e da figura que foi Nascimento do Passo foi constante entre todos os presentes. Em seus depoimentos, foi unânime o fato de que as acusações contra ele pesaram sobre sua saúde. O afastamento da Escola Pernambucana de Frevo - projeto do qual foi o idealizador -, em 2003, foi um divisor de águas. Apesar de nunca comprovado, o fato teve muita repercussão e o impacto sobre a vida de Nascimento foi devastador.

Em 2002, ele esteve envolvido em denúncias de abuso sexual a adolescentes que tinham aula de frevo com ele, mas o passista se disse inocente, sempre. Ele respondia a quatro processos criminais, sendo que em um já havia recebido a sentença condenatória em fevereiro de 2006. Os outros três tramitavam na Vara de Crimes contra a Criança e Adolescente.De acordo com Gecilandy Lopes (Landinha, quarta mulher de Nascimento do Passo) uma nova audiência estava marcada para outubro.

Landinha, mesmo já separada do Nascimento, continuou cuidando do ex-marido. Acompanhou a evolução de seu quadro de saúde, que, nos últimos tempos piorou em função da dificuldade que ele estava tendo para se alimentar. Depois de ter enfrentado dois acidentes vascular cerebral (AVC), somente há cinco dias, quando foi internado no Hospital Getúlio Vargas, o tumor foi descoberto. “Ele não gostava de tomar medicação. Preferia tratamentos mais naturais, como chás e massagens” disse Landinha.

Nascimento do Passo aprendeu a técnica do frevo com outro mestre, Egídio Bezerra. Dançando, apresentou-se nos mais importantes palcos, e também nas ruas de vários cantos do País e do mundo. Ao longo de sua jornada ensinando o passo, uma geração de bailarinos e professores foi formada.

Agora, Nascimento do Passo se despede de toda uma vida dedicada ao frevo. Deixa seis filhos, a maioria envolvida com a dança. O homem que respirava e transpirava frevo cativou a todos com quem conviveu. Os versos da música que leva o nome de Nascimento do Passo, composta por outro mestre, Antônio Carlos, definem bem sua trajetória. “No frevedouro / Fiz um grande Rebuliço/ Preto, Branco e Mestiço/ Eu chamei pro Bafafá”.

* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 03/09/2009