A montagem, que teve sua primeira versão em 1987, protagonizado por Raul Cortez. Agora ganha sua versão feminista, em uma adaptação de texto como poucas, e ainda sob a direção de José Possi Neto (diretor da primeira versão). Curioso que essa combinação seja tão afinada, que nem de longe fica a impressão de que algum dia aquela personagem já tenha sido Lobo, e não Loba.
Na pele de uma mulher cinquentona em crise, Torloni é irretocável. Do início ao fim do espetáculo, não deixa o palco um único minuto, e tem presença hipnotizante. Sofrendo com a perda dupla do seu marido, Paulo Prado (Leonardo Franco), e da jovem amante Fernanda Porto, Júlia, uma atriz reconhecida e dona de sua própria companhia de teatro, sofre um colapso em cima do palco, enquanto os três interpretam “Medéia”.
E é o recurso de entrecortar realidade e ficção, usado com maestria por Possi, que dá o tom. Enquanto revela os meandros dessa delicada relação a três, Possi vai dando ao espectador o deleite de conhecer o que está atrás das cortinas. Todas as referências à construção desse “fazer artístico” estão presentes, desde elementos cenográficos - em que se vê canhões de luz, cortinas e camarins - até mesmo nas falas de Júlia, Paulo e Fernanda.
É verdade que a nova versão atenuou a tensão sexual que existia entre as personagens, dando espaço para uma construção mais dramática em torno do dilema que é o envelhecimento para uma mulher. Mas talvez tenha sido justamente esse amadurecimento da personagem de Torloni que faz a Loba, continar interessante aos olhos do público, mesmo 23 anos depois.
* A matéria foi publicada no caderno "Programa" da Folha de Pernambuco de 24/05/2010
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